SaĂșde Borderline

Borderline: conheça o transtorno de personalidade com difícil diagnóstico que interfere nos relacionamentos

Por Isto É

09/01/2024 às 08:22:05 - Atualizado hĂĄ
Foto: Reprodução internet

Mudanças frequentes de humor, impulsividade e instabilidade nas emoções e nos relacionamentos estão entre as caracterĂ­sticas do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A pessoa com esse diagnóstico geralmente apresenta uma hipersensibilidade em suas relações e um medo intenso de abandono.

"É um padrão de personalidade que se mostra diferente da maioria das pessoas de um modo geral. Esses indivĂ­duos vivem relacionamentos intensos e instĂĄveis com caracterĂ­sticas impulsivas, rompantes ou oscilações de humor muito bruscas e intensas", explica Ricardo Jonathan Feldman, que atua como psiquiatra e professor de pós-graduação e residĂȘncia no Hospital Israelita Albert Einstein, além de ser fundador do Centro Feldman de SaĂșde.

"Com isso, surgem problemas de relacionamento interpessoais e de autoimagem. Basicamente, é uma alteração de como a pessoa lida com as adversidades, com o estresse, com ela mesma e com os outros", complementa o psiquiatra.

Apesar de não existirem dados sobre a prevalĂȘncia no Brasil, estima-se que entre 1,5% e 3% da população mundial sofra desse transtorno de personalidade, que afeta tanto homens quanto mulheres. Especialistas, no entanto, apontam que esse nĂșmero pode estar subestimado, uma vez que muitos casos permanecem sem o diagnóstico correto.

Como é realizado o diagnóstico?

O psiquiatra é o profissional médico que deve analisar o histórico e o padrão de funcionamento que acompanha a pessoa desde a adolescĂȘncia até o momento atual, incluindo as suas vivĂȘncias.

"Para conseguir o diagnóstico correto, é necessĂĄrio que o psiquiatra crie um vĂ­nculo de confiança com o paciente para entender melhor todo o processo, suas emoções, medos e angĂșstias. A entrevista com familiares e amigos próximos também pode ser incluĂ­da no processo, auxiliando na busca pelas informações necessĂĄrias para o diagnóstico", diz Feldman.

É importante saber diferenciar os sintomas de Transtorno de Personalidade Borderline de sinais em decorrĂȘncia dos efeitos de drogas ou mesmo problemas de identidade, comuns na infância ou adolescĂȘncia.

"Para realizar o diagnóstico correto de Borderline, o Manual Diagnóstico e EstatĂ­stico de Transtornos Mentais indica que o paciente deve apresentar, pelo menos, cinco de nove caracterĂ­sticas apontadas. Isso é muito interessante porque se temos cinco itens a serem preenchidos, imagine só quantas combinações são possĂ­veis. São 256 combinações possĂ­veis, 256 tipos de pacientes diferentes com variações diferentes", afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Erlei Sassi JĂșnior, coordenador do Programa Transtornos de Personalidade e do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das ClĂ­nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

"Temos uma quantidade enorme de pacientes que podem compartilhar o mesmo diagnóstico, mas também podem apresentar caracterĂ­sticas potencialmente diferentes. Portanto, é muito importante que o profissional consiga enxergar cada pessoa e não apenas a doença", diz Sassi JĂșnior.

Então, pacientes com TPB devem apresentar, no mĂ­nimo, cinco das nove caracterĂ­sticas a seguir, conforme o Manual Diagnóstico e EstatĂ­stico de Transtornos Mentais:

  1. Esforços desesperados para evitar algum episódio de abandono real ou imaginĂĄrio;
  2. Padrão de relacionamentos interpessoais instĂĄveis e intensos com alternância entre extremos de idealização e desvalorização da pessoa dentro do relacionamento;
  3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si;
  4. Impulsividade em, no mĂ­nimo, duas ĂĄreas potencialmente autodestrutivas, como gastos excessivos, sexo desprotegido, abuso de substâncias ilĂ­citas, direção irresponsĂĄvel no trânsito ou compulsão alimentar;
  5. RecorrĂȘncia de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou automutilantes;
  6. Instabilidade afetiva em decorrĂȘncia a uma acentuada reatividade de humor;
  7. Sentimentos duradouros de vazio;
  8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlĂĄ-la;
  9. Pensamentos paranoicos transitórios associados a episódios de estresse ou sintomas dissociativos intensos, como problemas de memória, identidade, emoção, percepção, comportamento e senso de si.

"Quanto mais cedo começar o tratamento, melhor para o paciente. A partir dos 14 anos jĂĄ dĂĄ para identificar melhor os sintomas e investigar os possĂ­veis fatores ambientais (relações, traumas, hĂĄbitos de vida, etc.) que possam estar contribuindo para o desequilĂ­brio das emoções", complementa o psiquiatra e psicoterapeuta.

Principais caracterĂ­sticas e sintomas

Um dos sintomas mais significativos do TPB é o medo intenso do abandono, abrindo espaço para sentimentos de pânico ou raiva que podem ser desencadeados por situações cotidianas normais, como um atraso na resposta de um amigo a uma mensagem, por exemplo. Ao se sentirem rejeitadas, essas pessoas reagem de forma intensa e, por vezes, agressiva.

A recorrĂȘncia de comportamentos, gestos e ameaças suicidas ou automutilantes é também parte dos sintomas apresentados por pessoas com TPB. Outra caracterĂ­stica é a forma dos relacionamentos, que tendem a ser instĂĄveis e intensos, oscilando entre extremos de idealização e desvalorização. Em outras palavras, essas pessoas mudam rapidamente de opinião em relação aos outros.

"Mais um traço marcante é a mudança brusca da percepção de si mesmo e da própria identidade, o que leva a mudanças frequentes de objetivos, valores, opiniões, carreiras e até grupos de amigos. Muitas vezes, essas pessoas tĂȘm a sensação de estranhamento sobre si mesmos. Com muita frequĂȘncia, relatam sentir um 'vazio crônico'. Apresentam humor instĂĄvel, oscilando entre irritabilidade, ansiedade, tristeza e alegria, com alterações que podem durar poucas horas ou até mesmo alguns dias", afirma Feldman, do Einstein. Segundo ele, outra caracterĂ­stica é a dificuldade em lidar com o próprio ĂȘxito, muitas vezes se autossabotando quando estão prestes a alcançar um objetivo.

Os especialistas pontuam que é difĂ­cil definir o inĂ­cio do transtorno, uma vez que o processo vai surgindo no decorrer do desenvolvimento da personalidade da pessoa.

"Em geral, os sintomas ficam mais visĂ­veis na adolescĂȘncia e no inĂ­cio da idade adulta, podendo até mesmo regredir nos indivĂ­duos com mais idade, sempre contando com o valioso e indispensĂĄvel recurso da psicoterapia", diz Sassi JĂșnior.

Causas e fatores envolvidos

As causas ou fatores envolvidos no surgimento do Borderline são variados, desde a predisposição genética a episódios estressantes na infância. "São muito recorrentes no histórico desses pacientes situações traumĂĄticas, como abusos fĂ­sicos, verbais e sexuais, com negligĂȘncia por parte de pais e/ou cuidadores", explica Feldman.

Episódios como a separação ou a morte de um dos pais, especialmente durante os primeiros anos de vida, ou o nascimento de um irmão ou irmã, podem servir como gatilhos emocionais. Embora, à primeira vista, essas separações e mudanças possam parecer insignificantes, elas tĂȘm efeitos profundos em indivĂ­duos que jĂĄ possuem alguma predisposição genética para o transtorno.

Tratamento, remissão e manejo dos sintomas

Jerold J. Kreisman, psiquiatra e pesquisador, e Hal Straus, escritor e pesquisador, afirmam que, apesar do estigma e do desconhecimento geral, os avanços nas pesquisas, terapias e medicamentos indicam grandes chances de sucesso, seja na remissão dos sintomas ou no seu gerenciamento.

"Assim como não se reconhece um remédio Ășnico como melhor que os outros para tratar todos os pacientes de TPB, ainda não ficou demonstrado que alguma abordagem terapĂȘutica seja a melhor para todos", eles escrevem no livro "Eu te odeio, não me deixe: Como entender as pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline e aprender a se relacionar com elas", em que são autores juntos.

"Embora a psicoterapia seja o principal tratamento reconhecido para o paciente borderline, a maioria dos métodos traçados contempla o uso de medicamentos. Apesar de ainda não existir um Ășnico remédio que trate todos os aspectos do TPB, a medicação é Ăștil para amenizar os sintomas associados (como antidepressivos para depressão) e domar caracterĂ­sticas voltadas contra si mesmo, como a impulsividade", afirmam em um outro trecho.

Os especialistas afirmam que, atualmente, o prognóstico é mais positivo do que se pensava algumas décadas atrĂĄs, mas ainda não existe uma cura definitiva para todos os indivĂ­duos com transtorno borderline. No entanto, eles agora reconhecem que, apesar de toda a instabilidade e sofrimento que essas pessoas causam a si mesmas e aos seus conhecidos, o curso do transtorno não é tão negativo como se pensava anteriormente.

"Eu diria que é totalmente possĂ­vel conseguir 'pequenas curas' com a remissão dos sintomas. JĂĄ vi isso acontecer com alguns pacientes. Através do acompanhamento psicoterapĂȘutico, o indivĂ­duo com borderline aprende novas maneiras de lidar com suas emoções e situações, que antes eram sentidas como fim da vida", conclui Sassi JĂșnior.

Fonte: AgĂȘncia Einstein

Fonte: Isto É
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