MANAUS – A saĂșde mental da população LGBTQIA+ sofreu piora na pandemia, é o que aponta a pesquisa "Diagnóstico LGBT+ na pandemia", divulgada e realizada pelo coletivo #VoteLGBT, com ajuda da Box1824, no fim de junho. O estudo apontou que 55,1% da população teve uma piora na saĂșde mental, um aumento de 8% em relação a mesma pesquisa de 2020, quando o Ăndice era de 47%.
Para o psicólogo Adan Silva, que analisou dados do levantamento, existem questões cruciais como a marginalização da pessoa LGBTQIA+, a invisibilidade e a exclusão familiar, que contribuem para a confirmação negativa da pesquisa.
"Imagine um LGBT que mora com uma famĂlia que a rejeita por conta disso. A pandemia obriga aquela pessoa a ficar no mesmo ambiente onde ela não é acolhida, muito provavelmente vai desenvolver uma depressão, e sofrer um isolamento dentro de outro isolamento. Essas questões são pontos que fazem com que o sofrimento seja maior e mais intenso para essa parcela especĂfica da sociedade", explica Adan.
Outro fator pontuado pelo profissional da psicologia é a escassez de uma ajuda profissional nesse perĂodo. Além disso, ele explica que é necessĂĄrio a diminuição da homofobia que por diversas vezes, quando não mata, adoece seriamente o indivĂduo que passa por massivas situações constrangedoras e difĂceis ao longo da vida.
"Se vocĂȘ passar uma hora na terapia e outras 23 horas passando por sofrimento e opressão, essa realidade material não vai ser alterada substancialmente. Por muitas vezes esse apoio acaba sendo só um paliativo diante de uma realidade homofóbica. Precisamos atentar que um acompanhamento psicológico é efetivo quando são demandas que dependem mais do sujeito. Enquanto essa estrutura LGBTQIfóbica da sociedade não mudar, nada vai melhorar tão rĂĄpido como gostarĂamos", ressalta.
Ainda de acordo com estudo, 30% das pessoas possuĂam diagnóstico prévio de depressão e 47,5% para ansiedade. Um aumento de 2% comparado com dados do ano anterior, para cada uma das condições clĂnicas, quando a depressão marcava a média de 28% e a ansiedade 45,3%.
Em relação a outros fatores que levam a piora mental e emocional dos entrevistados para a pesquisa, a insegurança alimentar, a falta de oportunidade no mercado de trabalho, a diminuição na renda, a perda de amigos e familiares para a Covid-19 também foram outras causas citadas no levantamento.
Segundo o estudo, 6 em cada 10 pessoas LGBTQIA+ sofreram uma perda ou brusca diminuição na renda por conta da pandemia. Cerca de 59,4% se encontra sem emprego hĂĄ pelo menos um ano. Se tratando da insegurança alimentar, a precariedade atinge 41,5% dessa população, e chega até 56,8% entre pessoas trans.
"A pessoa transexual não consegue oportunidade no mercado de trabalho, porque a sociedade reproduz essa transfobia estrutural e jĂĄ julga só por ser trans. Não existe apoio mental que consiga suprir a necessidade financeira da pessoa que precisa pagar suas contas, comer e manter todas as despesas de uma forma digna. São questões que precisam ser olhadas com mais atenção", finaliza o psicólogo que orienta a procura por ajuda profissional.