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Estudante de medicina encontra corpo de amigo na aula de anatomia

Por GMC Online

04/08/2021 às 12:22:26 - Atualizado há
Enya Egbe | Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução via BBC


O estudante de medicina Enya Egbe ficou chocado ao se deparar com uma situação desesperadora em sua aula de anatomia. Na hora de analisar um cadáver, ele gritou e saiu da sala correndo. Aquele não era apenas um corpo para análise, mas sim o corpo de Divine, seu amigo que estava desaparecido. As informações são da BBC.

O caso aconteceu na Nigéria, há sete anos, e foi relembrado pela jornalista e romancista nigeriana Adaobi Tricia Nwaubani numa série de cartas de escritores africanos que estão sendo publicadas pela BBC.

Segundo o relato de Adaobi, Egbe lembra vividamente do momento em que se deparou com o corpo do amigo. "Tinha dois buracos de bala no lado direito do peito dele", contou o estudante.

Uma amiga do Egbe, Oyifo Ana relatou sobre a situação. "A maioria dos cadáveres que usamos na escola tinham marcas de balas. Eu me senti muito mal quando percebi que algumas daquelas pessoas poderiam não ser criminosos de verdade".

De acordo com Ana, na época ela lembra de ver uma van da polícia que carregava corpos ensanguentados ao necrotério, que ficava anexado à escola de medicina.

Egbe decidiu, então enviar uma mensagem à família de Divine. Ela havia ido à diversas delegacias em busca dele e de outros três amigos que haviam sido preso por agentes de segurança no caminho de volta de uma festa. A família, enfim, conseguiu recuperar o corpo.

Em depoimento, o comerciante Cheta Nnamani, de 36 anos, afirmou que ajudou agentes de segurança a se livrar de corpos de pessoas que foram torturadas ou executadas. Numa noite ele foi convidado a carregar três cadáveres. A polícia algemou o comerciante e o levou até o Hospital Universitário da Universidade da Nigéria (UNTH, na sigla em inglês).

Lá, Nnamani descarregou os corpos que foram levados a um necrotério. O comerciante ainda disse, em depoimento, que mais tarde naquela noite foi ameaçado a ter o mesmo destino dos corpos.

Na cidade de Owerri, um necrotério particular parou de aceitar corpos de suspeitos, que eram levados pela polícia. Quase nunca eles eram identificados e só lotava o espaço. As famílias raramente os encontravam. Foi aí que o governo, de tempos em tempos, começou a permitir enterros em massa.

"Às vezes, a polícia tenta nos forçar a aceitar os corpos, mas insistimos para que os levassem a um hospital do governo. Necrotérios privados não estão autorizados a doar corpos para escolas de medicina, mas os do governo podem", afirmou administrador do necrotério.

O caso específico ocorrido com Divine e toda questão nacional gerou um grande debate no país africano. De acordo com o advogado Fred Onuobia, as famílias podem recolher os corpos dos criminosos executados legalmente e, caso isso não ocorra, eles são enviados às universidades.

Mas o ponto são as mortes extrajudiciais. Ninguém fica sabendo e as vítimas ficam desaparecidas.

Agora, a associação de anatomistas da Nigéria está fazendo um lobby para uma lei seja alterada no país, a fim de que os necrotérios possam ter registros dos corpos doados às universidades, além do consentimento das famílias para que sejam utilizados como objeto de estudo.

Egbe ficou traumatizado com a situação, mas conseguiu se formar em medicina um ano depois que seus colegas de turma. Hoje, ele trabalha em um laboratório.

Agentes envolvidos na morte de Divine foram demitidos. De acordo com o relato da autora, pode ser que não tenha sido feita a justiça suficiente, mas possivelmente casos como esse podem voltar a não acontecer.


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Jornalista Luciana Pombo

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