Após o cicloentregador do iFood Esley Bernardes, de 24 anos, morrer em decorrência de acidente durante o trabalho, em Porto Alegre, um grupo de entregadores foi às ruas para homenagear o colega e cobrar mais segurança do poder público. O protesto ocorreu na tarde de quinta-feira (30). Segundo familiares do jovem, ele ficou em coma por mais de três meses, mas a empresa não prestou nenhum tipo de auxílio. A iFood alegou falta de documentação e encaminha seguro após o falecimento.
Esley sofreu um grave acidente enquanto realizava entregas, no dia 21 de agosto, na Rua Ramiro Barcelos. Foi internado com traumatismo craniano no Hospital Pronto Socorro (HPS). Ninguém sabe como foi o acidente e não foi feita investigação. Inconsciente desde então, acabou não resistindo e faleceu na quinta-feira da semana passada (23).
Foram inúmeras as tentativas da família em tentar um auxílio acidente junto à empresa enquanto o jovem estava em coma. Todas sem sucesso, conta a irmã de Esley, Tula Ferreira Bernardes. "Liguei, mandei diversos e-mails, mas eles responderam com mensagem eletrônica, só pode, porque é sempre o mesmo e-mail", critica.
Segundo ela, a empresa alegou falta de documentação. "Diziam que faltava a ocorrência e o laudo do médico pelo afastamento de sete dias, sendo que eu informei que ele não estava afastado há sete dias, mas estava internado todo esse período. Mandei foto dele na UTI do HPS, mas não tive sucesso."
Tula comenta que foi somente após a morte do seu irmão, quando sua família encaminhou o atestado de óbito, que a iFood se manifestou. No retorno, foi pedida uma relação de documentos para encaminhar o sinistro.
A redação do Brasil de Fato RS contatou a iFood e questionou sobre a falta de retorno inicial e a posição da empresa. "O iFood lamenta profundamente o acidente com Esley Ferreira Bernardes, que acabou levando ao seu falecimento, e se solidariza com a família e amigos do entregador neste momento tão difícil. A seguradora está em contato com a família, prestando suporte e auxiliando para o envio da documentação necessária para a liberação do seguro por morte acidental", diz o comunicado.
Entregadores cobram mais segurança e respeito à vida
A manifestação dos entregadores foi convocada pela Associação de Ciclo Entregadores do Rio Grande do Sul (Acergs). Iniciou às 15h, em frente ao Ponto de Apoio iFood Pedal, na Av. Borges de Medeiros. De lá, pedalaram até a prefeitura de Porto Alegre.
O grupo apresenta quatro demandas: mais segurança no trânsito com mais ciclovias, respeito à vida dos entregadores, seguro acidente pago pelas empresas e justiça para Esley Bernardes.
Indignado com o caso, o diretor-geral da Acergs, Márcio Machado, critica a falta de investigação do acidente. "Ninguém sabe como foi, é pra isso que nós estamos aqui hoje, procurando justiça. Tem que ser investigado, não pode ficar assim, foi um ser humano que morreu durante o trabalho."
A diretora do Sindicato dos Motociclista Profissionais (Sindimoto-RS), Gabriela Gonchoroski, compareceu ao ato. "Cada um de nós sente porque são nossas vidas, nossas histórias que são construídas em cima desse veículo de duas rodas", afirma. Ela cobrou da prefeitura uma política de mobilidade urbana "que pense os veículos de duas rodas e que valorize a vida de cada um".
Faltam ciclovias
Colega de Esley e membro da Acergs, Leonardo Rodrigues pontua que embora trabalhem no trânsito, em meio a veículos pesados e perigosos, os entregadores ciclistas não recebem nenhum adicional de periculosidade. Diz ainda que os equipamentos de segurança individual oferecidos pelas empresas estão longe de serem suficientes.
Além disso, ressalta que Porto Alegre possui poucos trechos de ciclovias. Para ele, é urgente que o município faça valer o Plano Diretor da cidade, que inclui a expansão das ciclovias, e que as empresas sejam responsabilizadas e tenham a obrigação de pagar um seguro para os familiares dos trabalhadores que perdem sua vida em serviço".
O entregador Marcio Nunes, mais conhecido como Cigano, relatou alguns perigos do ofício em Porto Alegre. "Na ciclovia da Ipiranga, dois trechos estão caídos e bloquearam toda a ciclovia, tu não consegue ter acesso. Tem motoristas que tocam em cima da gente, tem que andar na contramão, tem que passar sinal vermelho pra ter ponto, ter score e subir, e mesmo assim o pessoal não valoriza. Tem gente que para em cima da ciclovia de carro, se tu vai reclamar muitas vezes gera briga", relata
O Plano Diretor Cicloviário Integrado da Capital foi aprovado em 2009 e prevê 495 quilômetros de vias para bicicletas. Até a metade de 2023, a cidade contava com 79 quilômetros de infraestrutura cicloviária. O prefeito Sebastião Melo (MDB) prometeu elevar as fixas exclusivas para 100 quilômetros até o final do seu mandato, no fim do ano que vem.