Na Eventim, o desafio é lidar com cambista e com quem sai do site "odiando a empresa"

Na manhã do dia 27 de janeiro de 2023, um total de 800.000 pessoas aguardava ansiosamente no site da Eventim pelo início das vendas para o show da banda mexicana RBD, originada da famosa novela Rebelde. Quando os ingressos foram finalmente disponibilizados às 10h, houve um frenesi virtual. Em questão de minutos, todos os ingressos estavam esgotados, deixando cerca de 55.000 sortudos que conseguiram adquirir seus tíquetes. Entretanto, os outros 745.000 fãs ficaram desapontados e, em alguns casos, até mesmo frustrados, como relata Jorge Reis, CEO da Eventim, a empresa que, em 2022, superou em vendas todos os anos anteriores no Brasil, lançando um novo produto para garantir reembolsos, semelhante ao que é oferecido pelas companhias aéreas.

Esse é um dos principais desafios enfrentados pela Eventim, uma empresa alemã de venda de ingressos que está presente no Brasil desde 2015. Durante esse período, a empresa se estabeleceu como líder na venda de tíquetes para shows nacionais e internacionais, incluindo turnês de grandes nomes como Coldplay, Metallica e RBD, onde a demanda supera em muito a oferta.

Jorge Reis observa: "Eu diria que a venda de ingressos talvez seja o maior desafio tecnológico do e-commerce. Você tem situações estressantes, como a Black Friday e o Natal, mas isso é diferente de um show. Na Black Friday, diversos produtos são vendidos, enquanto os ingressos são vendidos por um site, com estoque limitado e uma demanda imprevisível. Até o momento em que as vendas são abertas, não é possível saber quantas pessoas estarão aguardando, se serão 300.000, 500.000 ou até 2 milhões".

Como se preparar para tal desafio? A Eventim investe na melhoria de sua infraestrutura tecnológica, utilizando sistemas provenientes da Alemanha para garantir que o site não apresente falhas durante a compra ou enquanto os clientes aguardam na fila virtual. Além disso, a empresa trabalha intensamente para tornar o processo de compra o mais rápido e livre de interrupções possível, incluindo a integração com cartões de crédito.

Para lidar com a frustração dos fãs que não conseguem adquirir ingressos, a Eventim mantém uma comunicação eficaz e fornece dados às promotoras de eventos. Isso permite que, em casos de alta demanda, novas datas para shows sejam lançadas.

Jorge Reis enfatiza: "É uma empresa que oferece um alto nível de segurança, mas a natureza do negócio acaba frustrando muitos clientes. Não produzimos eventos no Brasil, apenas vendemos ingressos, e os promotores têm limitações quando se trata de artistas internacionais e datas limitadas. Quando identificam uma alta demanda, fazem esforços para disponibilizar mais ingressos".

Outra preocupação importante da empresa é combater a atuação de cambistas, tanto físicos quanto digitais.

Jorge Reis comenta: "É uma batalha constante, um jogo de gato e rato. Nas vendas de ingressos digitais, é comum encontrar sites que vendem ingressos a preços exorbitantes, às vezes o dobro ou triplo do valor original. Isso chamou a atenção dos consumidores, que, incapazes de adquirir ingressos nos canais oficiais, recorrem a essas ofertas paralelas".

Ele acrescenta: "Todas as empresas de venda de ingressos do mundo enfrentam esse problema. Se você acessar qualquer um desses sites e procurar ingressos, encontrará ofertas de ingressos de todo o mundo, algumas legítimas, mas muitas falsificadas".

A Eventim já possui uma sólida estrutura de segurança, mas está explorando novas maneiras de combater os cambistas, como a implementação de ingressos personalizados, acessíveis apenas aos compradores originais, e reforçando a comunicação para enfatizar a importância de adquirir ingressos nos canais oficiais.

Em relação aos planos futuros da Eventim, a empresa experimentou um crescimento significativo no Brasil após o declínio da pandemia. Além de vender 6 milhões de ingressos no Brasil, seu faturamento global atingiu 1,9 bilhões de euros, cerca de 10 bilhões de reais, em 2022, superando os sete anos anteriores combinados.

A companhia está explorando outros produtos para diversificar sua receita no Brasil, incluindo a venda de seguros para ingressos. Os testes iniciais começarão em setembro, com o objetivo de oferecer aos clientes a opção de pagar um valor adicional pelo seguro, garantindo reembolso em caso de imprevistos que os impeçam de comparecer ao evento, criando assim novas fontes de receita além das taxas de conveniência.

Jorge Reis, atual CEO da Eventim, possui uma vasta experiência no mundo das bilheteiras digitais. Ele começou como fundador da Ingresso.com, outro grande player do setor. Em 2005, vendeu a empresa para a Submarino e passou a trabalhar para a varejista. Posteriormente, quando a Submarino foi adquirida pela B2W, ele permaneceu na empresa por mais dois anos. Depois disso, ingressou na IMM Esporte e Entretenimento, anteriormente conhecida como IMX, que tinha como sócio Eike Batista. Desde 2021, Jorge Reis está à frente da Eventim, assumindo a liderança do negócio em meio à pandemia. Apesar dos desafios, a empresa conseguiu manter resultados positivos em 2021, 2022 e 2023, focando na reestruturação das equipes e processos para superar os impactos da pandemia.

Fonte: Exame