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Movimentos populares ao redor do mundo apontam interferência estrangeira em crise na África

A Assembleia Internacional dos Povos, comitê que coordena organizações políticas e movimentos sociais nos cinco continentes do mundo, condenou o que chamou de ofensiva imperialista contra o Níger.

Por Da Redação

11/08/2023 às 21:17:54 - Atualizado há

A Assembleia Internacional dos Povos, comitê que coordena organizações políticas e movimentos sociais nos cinco continentes do mundo, condenou o que chamou de ofensiva imperialista contra o Níger. O repúdio da organização foi publicado em nota nessa terça-feira (8).

O Níger está em ebulição política desde 26 de julho, quando o então presidente Mohamed Bazoum foi destituído por um golpe de Estado capitaneado por uma junta militar. Nos dias que se seguiram, pessoas foram às ruas para apoiar o golpe de estado.

O país da África subsariana então virou palco de disputa geopolítica entre Rússia e Ocidente. Durante os protestos de apoio, se registrou a presença de bandeiras russas e de palavras de apoio a Moscou e ao presidente russo, Vladimir Putin. A crise também é marcada por um rechaço à França, que colonizou o país africano, e por uma narrativa anti-Ocidente em geral.

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Antes do golpe, a União Europeia havia firmado acordo de suporte financeiro ao país para ações de segurança, que foi retirado após a tomada do poder. O interesse dos europeus na região é em parte explicado pela rota de emigração dos africanos para a Europa, que usam a maior cidade de Níger, Agadèz, com porta de entrada para o deserto, com o objetivo de chegar à Líbia e atravessar o Mediterrâneo rumo à Itália.

Segundo a ONG Oxfam, estimativas dão conta que entre 80 mil e 150 mil pessoas cruzaram a zona desértica do nordeste do Níger à caminho da Europa em 2015. A maior parte do emigrantes são homens jovens de Camarão, Senegal, Gâmbia e Guiné.

Para complicar o cenário, há a tensão regional. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), impôs sanções ao país suspendendo "todas as transações comerciais e financeiras" entre os seus 15 Estados-membros e o Níger. Além disso, em comunicado, a Cedeao exigiu a "libertação imediata" do presidente deposto e afirmou que, caso a ordem constitucional não fosse restabelecida no país "dentro de uma semana", a aliança "tomaria todas as medidas necessárias". "Essas medidas podem incluir o uso da força", afirmou o comunicado. A França seguiu o exemplo da coalizão africana e também impôs ultimato.

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O prazo estipulado pelos países africanos e europeu expirou nesse domingo (6), o que motivou a manifestação da Assembleia Internacional dos Povos.

"Há dois dias expirou o ultimato dado pelos líderes da Cedeao para lançar uma guerra contra o Níger. Na ausência de uma declaração oficial renunciando a essa opção, o povo do Níger é obrigado a se defender contra essa ofensiva imperialista", afirma a nota do comitê.

"O Níger e vários países da África vêm enfrentando há anos os efeitos da intervenção liderada pela Otan [Organização do Tratado dos Atlântico Norte — a aliança militar que reúne as potências ocidentais, da qual a França faz parte] na Líbia em 2011, que criou instabilidade regional e a disseminação de organizações terroristas em toda a África Ocidental. As intervenções militares organizadas com o suposto objetivo de garantir a paz e a democracia resultaram apenas em conflitos militares prolongados e perdas significativas de vidas", argumenta a Assembleia.

Leia a íntegra da manifestação da Assembleia Internacional dos Povos:

"8 de agosto de 2023


A Assembleia Internacional dos Povos manifesta sua solidariedade com o povo do Níger na luta em defesa de sua soberania nacional e resistência à intervenção militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental - CEDEAO (em inglês: Economic Community of West African States, ECOWAS), da OTAN, da França e dos Estados Unidos da América.

Há dois dias expirou o ultimato dado pelos líderes da CEDEAO para lançar uma guerra contra o Níger. Na ausência de uma declaração oficial renunciando a essa opção, o povo do Níger é obrigado a se defender contra essa ofensiva imperialista.

O orgulhoso povo do Níger se reuniu aos milhares no estádio Seyni Kountché, em Niamey, para dizer não a essa agressão e defender com seus corpos a soberania e a dignidade de seu país. Os governos de Mali, Burkina Faso e Guiné disseram não a essa operação colonial orquestrada pela OTAN, com a conivência dos líderes da CEDEAO como seus instrumentos. Nós nos unimos a eles e aos movimentos populares da África Ocidental para afirmar que a intervenção militar só fomentaria o caos e a violência na região.

O Níger e vários países da África vêm enfrentando há anos os efeitos da intervenção liderada pela OTAN na Líbia em 2011, que criou instabilidade regional e a disseminação de organizações terroristas em toda a África Ocidental. As intervenções militares organizadas com o suposto objetivo de garantir a paz e a democracia resultaram apenas em conflitos militares prolongados e perdas significativas de vidas.

A derrubada do presidente Mohamed Bazoum no Níger segue-se às derrubadas dos governos da Guiné, Mali e Burkina Faso apoiadas pelo povo. Em todos esses casos, a população manifestou sua indignação contra as condições que são o resultado direto do domínio contínuo do neocolonialismo francês e da presença militar da França na região.

A CEDEAO tinha o objetivo de fortalecer a integração econômica, social e cultural regional dentro da estrutura de um pan-africanismo mais amplo. Nos últimos anos, os líderes da África Ocidental traíram seu povo e abandonaram essa causa histórica. O uso de organizações como a CEDEAO e a OTAN para defender os interesses das potências imperialistas e apoiar governos que são amplamente rejeitados pelo povo vai contra todos os princípios de democracia, paz e prosperidade. O nível de mobilização política contra o domínio neocolonial deve ser entendido como consequência da declaração de guerra da CEDEAO contra o Níger.

O povo do Níger tem o direito de buscar a paz e o desenvolvimento econômico para satisfazer suas necessidades materiais e sociais. As sanções e a intervenção militar apenas sabotarão a chance de desenvolvimento e levarão o país a mais perdas de vidas humanas.

Dessa forma, a Assembleia Internacional dos Povos está unida ao povo do Níger em suas reivindicações:
1. A cessação de todas as tentativas de intervenção militar por parte da CEDEAO, da OTAN ou da França.
2. O fim de todas as sanções contra o Níger.
3. A remoção imediata das bases militares estrangeiras do Níger e de outros países africanos.

Somos todos nigerianos!
#Francedégage
#NATOdégage"

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