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Coluna Fragmentos: Procissões e seus efeitos socializantes

A festa é uma prática humana que remonta aos tempos primitivos.

Por Da Redação

21/07/2023 às 00:53:45 - Atualizado há

A festa é uma prática humana que remonta aos tempos primitivos. Sinônimo de liberdade e de fantasia, as festividades serviam para agradecer aos deuses, pedir ajuda em uma caçada ou para uma boa colheita, preparar um grupo para a guerra ou expressar um desejo de revanche. Por meio da dança, do cortejo, da música e da ornamentação, valores podem ser afirmados ou invertidos, regras ou padrões sociais podem ser quebrados e tradições podem ser perpetuadas.

As procissões, uma das mais antigas formas de festividade católica, chegaram ao Brasil nos tempos coloniais. Prática trazida pelos portugueses, esses rituais religiosos rapidamente se incorporaram ao cotidiano local. Para impressionar a atrair aos indígenas em fase de cristianização, o clero católico não economizou no uso de grandes imagens e de estátuas esculpidas em madeira e ricamente coloridas.

Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, a primeira grande festividade religiosa realizada no Brasil, foi a Procissão do Corpo de Deus ocorrida em Salvador no início do século XVI. Organizada pelos jesuítas, teve como objetivos catequizar os nativos e reafirmar os valores cristãos entre os colonos portugueses que aqui viviam.

Ao mesmo tempo, as procissões funcionaram como cerimônia religiosa e como forma de diversão pública, uma espécie de divertimento capaz de romper com a monotonia do trabalho. Além dos integrantes do cortejo, era comum a presença de homens e mulheres nas janelas e balcões dos casarões coloniais, rezando e cantando para reverenciar o "santo do dia". Ao final do ato religioso era bastante comum a realização de uma grande festividade coletiva geralmente marcada pela presença de música, dança, comida e bebida em grande quantidade. Desta forma, estabelecia-se um estado de excitação coletiva e diminuía-se a tensão naturalmente presente em um conjunto social marcado pelas grandes disparidades, como era o caso do Brasil colonial escravista.

Com o passar do tempo e com as transformações sociais, essas festividades foram perdendo espaço e, em muitos casos, foram diminuindo seu impacto. Para o sociólogo Michel Maffesoli, que também estuda esse fenômeno, a valorização do individualismo e a noção utilitarista predominante nas sociedades contemporâneas ajudam a entender a perda de espaço e as mudanças dessas comemorações nos dias atuais.

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O cenário local

Em Ponta Grossa a realização de festas católicas confunde-se com a própria origem da cidade. A maior festividade religiosa de nossa história foi a Festa de Sant´Anna, realizada em louvor a padroeira local e que mesclava práticas religiosas com outras profanas (música, dança, quermesse, alimentação etc.). O auge desta comemoração se deu em meados do século passado. Depois desse momento, mudanças socioculturais levaram ao esvaziamento da Festa. Procissões, como a de São Cristóvão, continuam a atrair um considerável número de fieis e mantém viva a tradição das festas católicas na cidade.

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Émile Durkheim

Um dos fundadores da sociologia moderna, o francês Émile Durkheim (1858-1917) entende que toda festividade tem característica religiosa. Em seu livro "As Formas Elementares da Vida Religiosa", publicada em 1912, Durkheim afirma que as características essenciais de uma festa são: a superação da distância entre as pessoas, a produção de uma sensação de efervescência conjunta e a transgressão de normas coletivas. Desta forma, as festas reafirmam as noções de que os indivíduos integram redes sociais e, assim, contribuem para a não dissolução social e para a manutenção da vida em coletividade.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 18 de julho de 2010.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

Fonte: A Rede
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