Apontado como "combustĂvel do futuro" e estratégico nos processos de transição energética e de descarbonização industrial, o hidrogĂȘnio sustentĂĄvel mobiliza o governo federal e setores empresariais e de trabalhadores em busca de normas, incentivos e certificação.
O tema foi debatido nesta quinta-feira (11) na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, onde a diretora do Departamento de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia, Mariana Espécie, apresentou as perspectivas apontadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
"A gente consegue identificar mais de 20 bilhões de dólares em projetos anunciados para o Brasil e uma infinidade de oportunidades em relação à indĂșstria do hidrogĂȘnio, que envolve vĂĄrias rotas tecnológicas. E o nosso objetivo com a composição das polĂticas pĂșblicas é endereçar todas as frentes que sejam possĂveis para o Brasil ter competitividade, inclusive no mercado internacional", disse.
As polĂticas pĂșblicas, o viés tecnológico e os possĂveis ganhos de mercado estão sendo estruturados no Programa Nacional do HidrogĂȘnio (PNH), que ainda aguarda a nomeação do comitĂȘ gestor e o fim da anĂĄlise de contribuições recebidas na consulta pĂșblica encerrada em fevereiro. O passo seguinte, segundo Mariana Espécie, serĂĄ a publicação do plano de trabalho trienal (2023/25).
Bruno Spada /Câmara dos Deputados Mariana: plano de trabalho vai orientar polĂticas pĂșblicas e viés tecnológico para o setorTipos de hidrogĂȘnio
O hidrogĂȘnio é largamente utilizado no mundo e pode ser obtido de variadas fontes. Costuma-se usar cores para definir essa procedĂȘncia: assim, tem-se o hidrogĂȘnio cinza ou marrom, vindo da queima de combustĂveis fósseis, altamente poluentes; o hidrogĂȘnio azul, obtido por técnicas de captura de carbono; e o hidrogĂȘnio verde ou sustentĂĄvel, gerado por fontes renovĂĄveis de energia.
O presidente da Associação Brasileira de HidrogĂȘnio (ABH2), Paulo EmĂlio de Miranda, avalia que hĂĄ espaço e mercado para todas as opções de produção e uso.
"Hoje, por exemplo, nós temos uma indĂșstria de combustĂveis fósseis – petróleo e gĂĄs natural – que é a atual fonte principal de hidrogĂȘnio. Se ela tiver o cuidado de sequestro de carbono, poderĂĄ produzir hidrogĂȘnio de baixo carbono em larga escala no Brasil", afirmou Paulo EmĂlio.
A Embrapa Agroenergia fala até em "hidrogĂȘnio verde musgo", obtido de biomassa, etanol e resĂduos agrĂcolas. Paulo EmĂlio lembrou que alguns estados brasileiros jĂĄ anunciaram polos de produção e armazenamento de hidrogĂȘnio. Ele defende subsĂdios para o setor, como ocorre nos Estados Unidos.
Outro gargalo a ser superado é a baixa oferta de trabalhadores especializados, segundo Alexandre Vaz Castro, do Conselho Federal de QuĂmica (CFQ). "É um desafio enorme e o tempo urge. Nós precisamos produzir pessoas com condições, competĂȘncia e capacidade para desenvolver e evoluir essa pauta."
Bruno Spada /Câmara dos Deputados Davi Bomtempo cobrou a regulação do hidrogĂȘnio no BrasilAcordos climĂĄticos
O gerente de Meio Ambiente da Confederação Nacional da IndĂșstria (CNI), Davi Bomtempo, reforçou a relevância do hidrogĂȘnio sustentĂĄvel nas estratégias de descarbonização do setor e nos esforços para o Brasil cumprir acordos climĂĄticos e entrar na OCDE, um seleto grupo de paĂses comprometidos com a economia de mercado. A CNI e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) cobraram a regulação do hidrogĂȘnio no Brasil.
O deputado Bruno Ganem (Pode-SP) garantiu que o Parlamento estĂĄ atento ao tema. "É muito satisfatório a gente ter uma oportunidade tão forte, tanto do ponto de vista de sustentabilidade quanto do ponto de vista econômico, para gerar desenvolvimento para o nosso paĂs. Com certeza, é do nosso interesse produzir legislação para que a gente possa ter avanços", disse.
Bruno Spada /Câmara dos Deputados Ganem: é do interesse da Câmara produzir legislação para garantir avançosTecnologias e regulação
O coordenador-geral de tecnologias setoriais do Ministério de CiĂȘncia, Tecnologia e Inovação, Rafael Menezes, destacou algumas iniciativas que jĂĄ estão em curso na pasta, em apoio ao hidrogĂȘnio sustentĂĄvel. Entre elas estão a Iniciativa Brasileira de HidrogĂȘnio (IBH2), com foco no desenvolvimento tecnológico e na promoção da inovação e do empreendedorismo; e o Sistema Brasileiro de Laboratórios de HidrogĂȘnio (SisH2), que jĂĄ conta com 13 centros de pesquisa candidatos, alguns deles ligados a universidades, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Quanto à regulação, Camila Ramos, dirigente da Absolar, informou que as polĂticas de inserção do hidrogĂȘnio sustentĂĄvel nas economias mundiais vĂȘm se consolidando por meio de implementação de metas, planos e diretrizes que garantam uma estratégia nacional. Em tais estratégias, são definidos setores para uso final, investimentos em infraestrutura, medidas de incentivo, requisitos e padrões de uso e certificação.
Os conselhos federal e regionais de quĂmica tĂȘm tentado superar o problema da baixa oferta de trabalhadores por meio de cursos e eventos on-line. Também apoiam a inclusão do hidrogĂȘnio verde no currĂculo dos ensinos técnico e superior.
A audiĂȘncia sobre o hidrogĂȘnio sustentĂĄvel foi pedida pela deputada Renata Abreu (Pode-SP).