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Elas são motoristas, socorristas, caminhoneiras e também mães

Por Bem Paraná

11/05/2023 às 23:15:59 - Atualizado há
A socorrista Elieze Aires: "Ajudando a salvar vidas" (Foto: Acervo pessoal)


"Minha mãe dirige um caminhão grande cheio de franguinhos". É assim que Yan conta sobre a mamãe, Paola Calegari, para os amiguinhos e professoras na escola. "As professoras sempre me contam que ele fala da mamãe que está trabalhando no caminhão", relata Paola.

No caso da mamãe Marcia Nunes, as palavras da filha de seis anos são outras. "Minha filha sempre fala que quando crescer também quer ser motorista de busão." O orgulho dos filhos expressa um pouco do amor dessas mães pela maternidade e também pela profissão de motorista, que muitas vezes, vem de um sonho antigo.

A realidade dessas mães reflete a de outras que estão espalhadas pelo país. Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostram que, em 2021, o número de mulheres dirigindo no transporte rodoviário de carga era de 13,6% do total. Naquele ano, de 1.064.076 motoristas, 144.826 eram mulheres.

Paola Calegari é uma das mulheres que conseguiu se tornar motorista de transporte de carga. Influenciada pelo padrasto, a balneocamboriuense se apaixonou pela profissão e decidiu tirar a carteira específica. Hoje, com 23 anos, é a primeira mulher a ser Motorista Truck na empresa Biava Transportes. A forma como seu filho se refere, claro, não é por acaso. No caminhão, Paola carrega frangos em Francisco Beltrão para a BRF – empresa de alimentos que é dona de marcas como Sadia e Perdigão.

A caminhoneira conta que durante a semana liga todos os dias para seu filho Yan, que tem 3 anos e 6 meses. Com a ajuda de seus pais, Paola consegue cuidado com seu filho enquanto está pelas estradas. "O meu filho é o maior amor do mundo. É difícil estar longe, mas preciso trabalhar também. E tenho muito orgulho da minha profissão", conta.

Outra mãe que vive uma situação parecida é Kelli Rodrigues, mãe de dois meninos e também caminhoneira. Neta de caminhoneiros, Kelli nasceu nesse meio e fez o mesmo com seus filhos. Ela e seu ex-marido, que também trabalha como motorista de transporte de carga, criaram os filhos dentro da profissão, com muito orgulho. "Eles falam de boca cheia que a mãe e o pai são caminhoneiros. Meu pequenininho é apaixonado por caminhão", comenta Kelli.

Mãe muito jovem, a caminhoneira conta que passou a gravidez dentro de caminhões viajando com seu ex-marido. Para ela, a maternidade nunca foi uma questão complicada. Sempre recebeu ajuda da ex-sogra e agora de sua mãe, avó dos meninos. Kelli conta que um de seus grandes orgulhos é a sua profissão. "Eu amo o que eu faço? tem dias que é uma terapia. Trabalhar com gente é estressante, óbvio, mas eu amo a minha profissão."

Ainda nas rodovias, mas dessa vez dentro de uma ambulância, está Elieze Aires. A socorrista e técnica de enfermagem trabalha há quatro anos dirigindo uma ambulância de UTI pela BR Vida, empresa terceirizada pela Arteris. Elieze conta que sofreu para conseguir entrar na profissão, mas foi um sonho realizado. Ela ama a adrenalina de estar nas rodovias ajudando a salvar pessoas.

Quando Elieze começou a trabalhar como socorrista, sua filha, Marielle, tinha apenas oito meses. Para a técnica, deixar a filha em casa sempre foi difícil? a saudade aperta. O mais difícil, no entanto, é tentar conciliar os dois empregos e a maternidade. Além de socorrista, Elieze também trabalha em uma clínica em Curitiba. Ela se emociona ao contar o quanto ama sua filha e se desdobra para passar tempo com ela, mas também trabalhar e prover.

"Apesar de tudo, eu tento conciliar o tempo que eu tenho com ela? é muito difícil. Eu espero um dia não me arrepender sabe? de ter trabalhado tanto para tentar dar o melhor para ela", diz.

A socorrista divide o cuidado da filha, que hoje tem cinco anos, com o ex-marido e a sua mãe. Entre plantões e jornada dobrada, todos eles se dividem para levar e buscar Mirele na escola, passear aos finais de semana e dar todo o cuidado que a pequena menina precisa. Mirele, por outro lado, embora tenha muita saudade da mamãe, sempre fala para os amiguinhos sobre a ambulância de Elieze e o trabalho como um todo.

"Ela ama o meu trabalho, fala pra todo mundo que a mãe dela trabalha em ambulância? quase ninguém acredita, mas ela fala mesmo assim."

Elieze batalhou para chegar até a sua profissão, e não se arrepende. Está no lugar certo, comenta. "Tem gente que acha que você tá se arriscando na rodovia sem motivo algum, mas não é. A gente está ajudando a salvar vidas. Tem que ter alguém que goste de fazer isso, e eu gosto. Estou no lugar certo."

Mas nem tudo são flores. Para Elieze, a socorrista na BR, o machismo foi muito presente nos primeiros momentos na profissão. "Logo que eu entrei e comecei a dirigir, uns frentistas de um posto aqui perto fizeram uma aposta pra ver quanto tempo eu duraria, porque, segundo eles, rodovia não é lugar de mulher? mas eles perderam, porque já estou aqui há 4 anos", comenta rindo.

Hoje ela se alegra quando fica sabendo que outras mulheres têm ido trabalhar nas rodovias. "Quando meu chefe me fala que tem mais mulheres se candidatando para vagas por aqui, eu sou a primeira a apoiar e tentar recepcionar? fico muito feliz, porque rodovia é lugar de mulher sim."

Lívia Berbel, especial para o Bem Paraná, sob supervisão de Mario Akira

Monica Regina (Acervo pessoal)

No volante do transporte público
Mais perto do dia-a-dia das cidades, está o transporte público. Nos ônibus que vemos – e usamos – todos os dias, as mães também estão presentes, e como motoristas. Mônica Regina, 48 anos, trabalha há dez anos como motorista em Curitiba e tem três filhos. Assim como grande parte das mulheres que estão nesse ramo, ela começou como cobradora e depois de um ano se tornou motorista.

Assim como no transporte de carga, o número de mulheres motoristas de ônibus não é alto. Na capital, do total de 2.796 motoristas no sistema, 114 são mulheres, apenas 4% do total. Os dados são do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp). Nos últimos anos, no entanto, o número tem aumentado.

Para Mônica, a vida de motorista é o sonho de infância. "Quando eu era pequena, brincava de ônibus e colocava meu irmão para ser o passageiro. No dia que me tornei motorista, fiz um jantar em casa e contei para a família toda. Peguei o crachá, mostrei para o meu irmão e falei: hoje, esse crachá é a realidade de um sonho", contou emocionada.

Quando iniciou na profissão, seu filho caçula já tinha 13 anos, e a motorista conta que sempre foi motivo de orgulho para os filhos. "A palavra mãe tem um significado muito forte. São mulheres que acordam cedo, voltam tarde, e sempre fazem de tudo para os filhos. Sou mãe, guerreira, batalhadora e sempre levei alimento para dentro de casa."

Márcia Nunes (Robson Mafra)


Assim como Mônica, Márcia Nunes também trabalha como motorista de ônibus. Ela, que também começou como cobradora e migrou para o volante, conta que tinha o sonho de ser motorista e conseguiu realizá-lo. Quando começou a dirigir, ainda não era mãe, mas engravidou e passou a gravidez toda dirigindo. "As pessoas ficavam admiradas vendo o tamanho do barrigão e eu trabalhando? era engraçado", diz rindo.

Márcia trabalhou até o fim da gestação, entrou de licença apenas dez dias antes de ter a sua filhinha.

É a filha de Marcia que gostaria de ser motorista de "busão". A pequena menina já conheceu o ônibus da mamãe e ama a profissão. Para a motorista, deixar a filha e ir trabalhar é muito difícil, mas ela sabe da necessidade.

"Conciliar o trabalho e a maternidade não é nada fácil. A gente se divide e se priva de momentos com o filho, mas tudo é em função do bem estar deles."

Márcia conta que também recebe muita ajuda de sua mãe, assim como as outras motoristas também relataram. Mesmo já adultas e também mães, todas as motoristas falam sobre as avós das crianças. Sejam mães, avós, bisas? mãe sempre é mãe, nunca para de cuidar.

A motorista de ônibus Márcia também relata que vê os comentários maldosos. Para ela, é um orgulho, como mulher, ver um sonho realizado mesmo com tanto preconceito. "O fato de ser mulher no volante ainda gera muito preconceito, infelizmente.Mas temos que enfrentar e quebrar essas barreiras."

Antes de mães, as motoristas são mulheres e contam que sofreram para serem reconhecidas na área em que trabalham. Paola, a caminhoneira de Francisco Beltrão, relata que não sentiu o machismo nas empresas em si, mas que seus colegas, que são homens e mais velhos, ficam pouco convencidos do quanto ela merece estar na função. "Quando entrei no frango, me julgavam por não ser capaz. Eu sou a primeira mulher a entrar nessa área. Nenhuma mulher teve coragem de pedir para entrar, mas eu fui lá e decidi que queria."

Fonte: Bem Paraná
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