A Justiça do Rio Grande do Sul determinou que fossem retiradas do ar postagens com informações falsas que afirmavam que o arroz agroecológico Terra Livre, produzido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), continha produtos quĂmicos que jamais foram usados na produção.
As publicações tinham sido postadas em dois sites de propriedade do advogado MaurĂcio Fernandes da Silva, que foi secretĂĄrio municipal de meio ambiente de Porto Alegre entre 2017 e 2019, durante mandato de Nelson Marchezan JĂșnior (PSDB).
A mentira ganhou força após ser compartilhada pelos vereadores Ramiro RosĂĄrio, do PSDB de Porto Alegre, e Silvio Roberto Flores de Almeida, o Silvio da Ambulância, do PP de Nova Santa Rita, na região metropolitana da capital gaĂșcha.
Na decisão, a juĂza Fabiana Zaffari Lacerda, da 6ÂȘ Vara CĂvel da capital gaĂșcha, argumentou que "as notĂcias e publicações maculam a honra e imagem das cooperativas autoras e dos produtos por estas produzidos, em especial o arroz orgânico".
Os polĂticos envolvidos também foram obrigados a apagar referĂȘncias aos textos em suas redes sociais. Em caso de descumprimento, poderia haver aplicação de multa diĂĄria de R$ 300, até um mĂĄximo de R$ 10 mil.
A determinação, que foi publicada na noite da Ășltima quinta-feira (27) foi cumprida. Os posts foram apagados dos sites, e referĂȘncias a eles também não constavam das pĂĄginas dos vereadores nas redes sociais. Ramiro RosĂĄrio, porém, seguia em sua campanha contra o MST, por meio de ataques ao deputado estadual Leonel Radde (PT-RS).
Alegações falsas
O caso começou depois que Silvio da Ambulância encaminhou amostras do Arroz Terra Livre para anĂĄlise em um laboratório da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Alegando a presença de produtos quĂmicos, supostamente embasados pelos testes laboratoriais, ele e RosĂĄrio acionaram o Ministério PĂșblico.
Na denĂșncia, os vereadores pediam que o arroz perdesse a identificação de produto orgânico, jĂĄ que ela só é concedida a produtos sem aditivos quĂmicos.
Após a mobilização, a SuperintendĂȘncia de Agricultura e PecuĂĄria do Rio Grande do Sul abriu processo administrativo para averiguação. Testes realizados pelo órgão comprovaram a ausĂȘncia de produtos quĂmicos, o que garante a autenticidade da produção orgânica.
A autenticidade do produto foi comprovada também pelo próprio Laboratório de AnĂĄlises de ResĂduos de Pesticidas (LARP), da UFSM, que fez as anĂĄlises anteriores e confirmou que "não hĂĄ nĂveis detectĂĄveis de nenhum dos agrotóxicos analisados nas amostras".
Vereadores contra o MST
Nas redes sociais, Ramiro RosĂĄrio dedica-se a espalhar crĂticas vazias ao MST, ofensas e agressões a Lula, insinuando, inclusive, que ele tem responsabilidade sobre o ataque bolsonarista à Praça dos TrĂȘs Poderes. Ele também costuma compartilhar postagens de figuras como o hoje senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) e o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Não tem o hĂĄbito de postar sobre seu eventual trabalho como vereador.
De perfil mais discreto, Silvio costuma postar mensagens sobre demandas cotidianas do municĂpio (como problemas de iluminação pĂșblica) e imagens para marcar datas comemorativas. Nas eleições de 2022, se dedicou à campanha do senador bolsonarista Luiz Carlos Heinze, seu colega de partido, que ficou em quarto lugar na disputa pelo governo gaĂșcho.
O arroz orgânico do MST ganhou ainda mais espaço no debate pĂșblico na campanha eleitoral de 2022, quando o produto foi citado pelo então candidato à presidĂȘncia Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT) em entrevista ao Jornal Nacional, da Globo.
Em março, o MST realizou a vigésima edição da Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, em Viamão (RS). Mais de 5 mil pessoas participaram do evento, que teve a colheita de cerca de 16 mil toneladas do produto.