O presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (28) que o governo vai trabalhar para demarcar o "maior nĂșmero possĂvel de terras indĂgenas". A declaração foi dada durante evento de encerramento do acampamento indĂgena Terra Livre, em BrasĂlia.
Na cerimônia, o presidente assinou os decretos de demarcação de seis terras indĂgenas e também levantou uma faixa contra o marco temporal sobre essas terras, questão em anĂĄlise no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Nós vamos legalizar as terras indĂgenas, é um processo um pouco demorado, a nossa querida ministra sabe do processo, tem que passar por muitas mãos e a gente vai ter que trabalhar, a gente vai ter que trabalhar muito para que a gente possa fazer a demarcação do maior nĂșmero possĂvel de terras indĂgenas. Não só porque é um direito de vocĂȘs, mas porque se a gente quer chegar em 2030 com desmatamento zero na Amazônia a gente vai precisar de vocĂȘs como guardiões da floresta", disse.
A faixa levantada pelo presidente foi levada por um participante do acampamento. Lula pediu para que ele entregasse o material e o exibiu no palco.
Demarcação de terrasAs seis terras indĂgenas homologadas por decreto durante a cerimônia desta sexta são:
Arara do Rio Amônia (AC), do povo Arara
Kariri-Xocó (AL), do povo Kariri-Xocó
Rio dos Ăndios (RS), do povo Kaingang
Tremembé da Barra do MundaĂș (CE), do povo Tremembé
AvĂĄ-Canoeiro (GO), do povo AvĂĄ-Canoeiro
Uneiuxi (AM), do povo Maku Nadëb
São as primeiras homologações de terras indĂgenas do terceiro mandato de Lula e, segundo o governo, encerram um perĂodo de cinco anos sem demarcações. A homologação, feita por decreto assinado pelo presidente da RepĂșblica, é o Ășltimo ato antes do registro formal da terra indĂgena.
Também durante a cerimônia, a ministra dos Povos IndĂgenas Sônia Guajajara e o ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias assinaram um termo de execução para liberação de R$ 12,3 milhões, que serão usados na compra de insumos, ferramentas e equipamentos às casas de farinha das comunidades Yanomami.
Em discurso, a ministra Sônia Guajajara disse que os Ășltimos anos, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, foram de "negação dos direitos indĂgenas".
"Nos Ășltimos anos nós sofremos as consequĂȘncias de uma polĂtica totalmente voltada à negação dos direitos indĂgenas, com nenhum centĂmetro de terras demarcadas, uma institucionalização do genocĂdio através do enfraquecimento das polĂticas indigenistas e ambiental pelo estado brasileiro", disse
"Vivenciamos a intensificação dos ataques aos povos e terras indĂgenas. A negação do direito à consulta livre, prévia e informada, a perseguição e a criminalização dos defensores e defensoras dos direitos humanos e socioambientais", continuou.
A ministra defendeu que, para além dos indĂgenas, o enfraquecimento da polĂtica ambiental e o aumento do garimpo atinge a todos os brasileiros.
"É claro que tudo isso nos afeta, mas afeta também aos não indĂgenas, esse tipo de ação criminosa afeta o ar que nós respiramos, que é o mesmo ar que todos respiram, afetam o acesso a ĂĄgua limpa de que nós precisamos, mas que é a mesma ĂĄgua que todos bebem e que precisam para sobreviver", disse.
O cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indĂgenas do paĂs, afirmou que pedirĂĄ a Lula para agilizar a demarcação de novas terras indĂgenas e mais recursos financeiros para a Fundação Nacional dos Povos IndĂgenas (Funai) e outros órgãos que executam polĂticas pĂșblicas voltadas a essa população.
Acampamento Terra LivreO acampamento Terra Livre ocorre anualmente e é considerado o maior encontro de etnias do Brasil, reunindo diversos indĂgenas de todo o paĂs. A edição deste ano começou na segunda-feira (24), com a presença de 6 mil indĂgenas. O grupo ficou acampado próximo ao Teatro Nacional.
Segundo os organizadores, a principal agenda do evento neste ano foi reforçar a necessidade da demarcação de terras indĂgenas, além de pedir o fim das violĂȘncias e decretar "emergĂȘncia climĂĄtica".