Grande Curitiba Homenagem

Primeiro vereador indígena do país foi eleito no Paraná, mas não em Curitiba

A data de morte do líder kaingang Ângelo Kretã, 29 de janeiro, é hoje o Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas da Região Sul.

Por Mauricio Geronasso

19/04/2023 às 12:16:05 - Atualizado há
Como parlamentar, Kretã defendia, especialmente, a demarcação de terras, e abriu a possibilidade de que outros indígenas participassem das disputas eleitorais. (Foto: Acervo Museu Paranaense)

O primeiro vereador indígena do Brasil foi eleito no Paraná, em 1976, na cidade de Mangueirinha, na região sudoeste do estado, que faz divisa com Clevelândia e com Coronel Vivida. Foi nessa localidade que surgiu a liderança kaingang Ângelo Kretã, que, de 1976 a 1979, foi membro da Câmara Municipal de Mangueirinha. Liderou a retomada de terras indígenas e, no dia 29 de janeiro de 1980, aos 37 anos, morreu em uma colisão de automóveis.

O lamento dos indígenas de Mangueirinha pela sua morte foi registrado e relatado, na época, em uma edição especial do Globo Repórter. A reportagem relata, detalhadamente, o que ocorreu com o cacique no dia que sofreu o fatal acidente de carro. Autoridades policiais discordam da tese de crime político, mas, para os indígenas do Paraná, ele foi vítima de um atentado e, por isso, a data de sua morte virou símbolo e passou a ser celebrada como o Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas da Região Sul.


Na época, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) confirmou, em nota, que a morte do cacique Kretã "foi decorrência de um acidente de trânsito". No entanto, o presidente da Funai, o coronel João Carlos Nobre da Veiga, em contradição à nota, afirmou, dias depois da colisão, que se vitimou a liderança kaingang, que "até que haja prova concreta, acredito que há intencionalidade por parte de pessoas interessadas em eliminar esses índios".


CMC homenageou Kretã

Visto como uma das mais importantes lideranças dos povos originários do Brasil, Kretã tornou-se um símbolo das lutas indígenas no Brasil. Em 2017, o prefeito Rafael Greca abriu, oficialmente, o seminário "Em Memória de Ângelo Kretã: Balanços e Perspectivas sobre a Questão Indígena no Sul do Brasil", realizado na Gibiteca de Curitiba, no Solar do Barão, onde há uma sala denominada em homenagem a Kretã. Na ocasião, Greca destacou que a origem da capital do Paraná é de um território indígena.


"Se meninos e meninas indígenas guardarem as raízes da nossa terra no coração, mesmo que entrem na chamada "civilização branca", eles podem ser o que quiserem, sem perder a sua memória. Eles permanecerão indígenas e, portanto, devem conservar a sua essência", afirmou Greca há cinco anos. Na CMC, um projeto de lei homenageando a liderança kaingang, do ex-vereador Pedro Paulo, foi aprovado dez anos antes (009.00052.2007). O logradouro público escolhido em 2007 foi uma rua no bairro Sítio Cercado, cuja grafia definida à época foi Ângelo Cretã.


Em 2020, várias entidades indígenas do sul do país organizaram uma grande festividade na Terra Indígena Tupã Nhe'é Kretã para homenageá-lo. Na ocasião, as lideranças publicaram uma carta aberta denunciando violações aos direitos indígenas e fazendo várias reivindicações. No mesmo ano, a Assembleia Legislativa do Paraná, por iniciativa do ex-vereador da capital e, atualmente, deputado estadual Goura (PDT), instituiu a "Semana Ângelo Kretã de Luta pelos Direitos dos Povos Indígenas" – que, segundo a lei estadual 20.359/2020, deve acontecer, anualmente, na primeira semana de abril.


Mesmo depois de Kretã, não há registros de um indígena ter sido eleito para a Câmara Municipal de Curitiba, mas ele abriu caminho para outras lideranças em todo o Brasil. Destaque para o cacique xavante Mário Juruna, que, em 1982, dois anos após a morte de Kretã, tornou-se o primeiro indígena a conquistar uma vaga de deputado federal no Brasil, sendo eleito pelo PDT do Rio de Janeiro.


Agora, quase 37 anos depois, Joenia Wapichana (Rede-RR) chegou a Brasília. Nesse intervalo, os povos indígenas nacionais ficaram sem representante no legislativo nacional. País afora, porém, comunidades originárias conseguiram emplacar representantes nas suas localidades em 2020. Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e do Instituto Socioambiental (ISA) apontam que, no primeiro turno das eleições, os povos originários conquistaram 213 cadeiras nas câmaras municipais, 10 prefeituras e 11 vices.

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