PolĂ­tica ViolĂȘncia contra IndĂ­genas

Indígenas foram as principais vítimas de conflitos no campo em 2022

Por Pedro Rafael Vilela

18/04/2023 às 15:55:04 - Atualizado hĂĄ
Racismo Ambiental

Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado nesta segunda-feira (17), mostra que o ano de 2022 foi marcado pelo elevado crescimento nos dados sobre violĂȘncia contra a pessoa em decorrĂȘncia de conflitos no campo. Ao todo, foram 553 ocorrĂȘncias, que vitimaram 1.065 pessoas, 50% a mais do que o registrado em 2021 (368, com 819 vĂ­timas). Nesse cenĂĄrio, que inclui assassinatos, tentativas de assassinato, ameaças, agressões, tortura e prisões, povos tradicionais despontam como as principais vĂ­timas.

Em 2022, 38% das 47 pessoas assassinadas no campo eram indĂ­genas, o que totaliza 18 casos. Em seguida, aparecem trabalhadores sem-terra (9), ambientalistas (3), assentados (3) e trabalhadores assalariados (3). Além desses, as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas, somam-se ao cenĂĄrio crĂ­tico de vĂ­timas dos conflitos agrĂĄrios 2022.


O nĂșmero de assassinatos por conflitos no campo no ano passado representou crescimento de 30,55% em relação a 2021 (36 mortes) e 123% em comparação com os dados registrados em 2020 (21 mortes).


Entre os assassinatos, destacam-se os casos ocorridos em Mato Grosso do Sul, em territórios de retomada dos indĂ­genas Guarani-KaiowĂĄ. Foram seis indĂ­genas vitimados entre maio e dezembro, colocando o estado como o terceiro do paĂ­s que mais registrou assassinatos decorrentes de conflitos no campo. TrĂȘs dessas mortes ocorreram em ação de retomada da Tekoha Guapoy, no interior da Reserva IndĂ­gena de Amambai. No local, emboscadas e perseguições resultaram na morte de Vitor Fernandes, em 24 de junho de 2022, durante despejo ilegal executado pela PolĂ­cia Militar do estado, em ação que deixou mais 15 pessoas feridas. As outras vĂ­timas foram MĂĄrcio Moreira e Vitorino Sanches, o segundo uma liderança assassinada no centro de Amambai e que jĂĄ havia sobrevivido a outra investida similar enquanto dirigia pela estrada que dĂĄ acesso a Tekoha.


"Temos visto uma queda das ocupações de terra e avanço dos conflitos para dentro de comunidades ocupadas por populações tradicionais. HĂĄ um ataque efetivo contra as comunidades indĂ­genas, de forma especĂ­fica", diz Isolete Wichinieski, da Coordenação Nacional da CPT.


Mulheres e crianças

Outro nĂșmero divulgado pelo relatório é o de tentativas de assassinatos. Em 2022 foram notificadas 123 ocorrĂȘncias desse tipo de violĂȘncia, um nĂșmero 272% maior que os 33 registrados em 2021. Em seguida estão os dados de ameaça de morte, que também aumentaram na comparação entre 2022 e 2021, passando de 144 para 206, com crescimento de 43,05%.


Boa parte dessas violĂȘncias por conflitos no campo atingiram especificamente mulheres. Foram seis assassinatos, nĂșmero que se iguala aos ocorridos em 2016 e 2017. Os demais tipos de violĂȘncia sofrida pelas mulheres em 2022 foram a ameaça de morte (47, resultando em 27% do total), intimidação (32, com 18%), criminalização (14, com 8%), tentativa de assassinato (13, com 7%) e agressão e humilhação (9 cada uma, com 5%).


Crianças e adolescentes passaram a estar na mira desse tipo de violĂȘncia durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. De 2019 a 2022, segundo os nĂșmeros levantados pela CPT, foram nove adolescentes e uma criança mortos no campo. Desses, cinco eram indĂ­genas. Entre os dados de violĂȘncia contra a pessoa, a morte em consequĂȘncia de conflito registrou 113 casos, sendo 103 na Terra IndĂ­gena Yanomami, com 91 vĂ­timas crianças, representando 80,5% dos casos. O povo Yanomami viveu, nos Ășltimos anos, um agravamento da crise humanitĂĄria de saĂșde e segurança em meio à invasão de suas terras por garimpeiros.


"O futuro das comunidades indĂ­genas estĂĄ ameaçado, não só pela invasão de suas terras e o assassinato de lideranças, mas por impedir a existĂȘncia das próximas gerações", afirma Isolete. A dirigente da CPT cobra do novo governo que cumpra a promessa de resgatar as polĂ­ticas de proteção territorial e de reforma agrĂĄria, que demanda orçamento e pessoal. Ela também cobra a reforma e ampliação do programa de defensores de direitos humanos, para enfrentar as graves ameaças e impedir o assassinato recorrente de lideranças comunitĂĄrias no campo.


O relatório anual da CPT referente a 2022 apontou um total de 2.018 ocorrĂȘncias de conflitos no campo, envolvendo 909,4 mil pessoas e mais de 80,1 milhões hectares de terra em disputa em todo o território nacional, o que corresponde à média de um conflito a cada quatro horas.

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