A crise interna no partido União Brasil pode atrapalhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na tentativa de aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso Nacional.
Na semana passada, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e outros cinco deputados federais da bancada do Rio de Janeiro da legenda pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para sair do partido sem perderem os mandatos na Câmara.
A ministra, que é deputada licenciada, e os outros cinco parlamentares dizem que são alvos de "assédio" e "obstrução política" por parte da direção da sigla, comandada pelo deputado Luciano Bivar (União-PE).
Diferentemente do que ocorre com senadores, prefeitos, governadores e presidente, deputados federais não podem trocar de sigla livremente.
A mudança sem punições só é permitida no período da chamada janela partidária e em determinadas situações previstas em lei, como em casos de desvios no programa partidário e de grave discriminação pessoal.
Três ministros indicadosResultado da fusão entre PSL e DEM, no início de 2022, o União Brasil foi responsável pela indicação de três ministros:
Daniela Carneiro (Turismo)
Juscelino Filho (Comunicações)
Waldez Góes (Desenvolvimento Regional)
Apesar de ser filiado ao PDT, Waldez foi indicado para o governo Lula pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), um dos principais nomes da legenda e aliado do ministro no Amapá.
Ao aceitar as indicações do União Brasil, Lula e os responsáveis pela articulação política do governo buscaram ampliar a base de apoio no Legislativo.
Embora o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (União-BA), diga que o partido é independente em relação ao governo, Lula e ministros esperam ter a maioria dos votos da legenda nas votações prioritárias para o Executivo no Congresso.
A perda desses votos pode dificultar a aprovação de Propostas de Emenda à Constituição (PECs), que exigem um quórum qualificado de votos, e de outros projetos caros ao governo, como o do novo arcabouço fiscal.
Bancadas numerosasO apoio do União Brasil é importante para o governo porque a sigla tem a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, com 59 integrantes.
Na frente da legenda, estão apenas o PL, partido de oposição que tem 99 parlamentares, e o PT (68).
No Senado, o União também tem uma das maiores bancadas: a quarta, com 9 membros. Perde apenas para PSD (16 senadores), PL (12) e MDB (10).
Depois de vencer as eleições, Lula montou uma equipe ministerial com integrantes de 9 partidos.
Juntas, as siglas reúnem 263 deputados – incluídos os do União Brasil. O número não é suficiente para a aprovação, por exemplo, de uma PEC, que precisa de 308 votos para avançar na Câmara.
O que diz o governoNesta terça, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, foi questionado sobre a situação do União Brasil no governo.
Ele disse que a composição da Esplanada dos Ministérios depende do "entendimento entre líderes e partidos".
E também reconheceu que o Executivo precisa dos votos dos partidos que apoiaram a eleição de Lula e também do apoio de outras siglas para a aprovação das pautas prioritárias.
Questionado se a permanência de Daniela Carneiro no governo pode afastar votos do União Brasil, Dias afirmou apenas que o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela articulação política, vai cuidar dessa questão.
Ainda sobre a situação de Daniela Carneiro, Wellington Dias disse acreditar que uma eventual saída da ministra do União Brasil não fragiliza a continuidade dela no governo.
"Ela tem o seu mérito. O conjunto de líderes tem uma relação. Tudo isso vai ser levado em conta", declarou.
RepublicanosDaniela Carneiro é casada com o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, que decidiu sair do União Brasil e acertou nesta segunda-feira (10) a sua filiação ao Republicanos.
O Republicanos também pode ser o destino da ministra do Turismo. O governo Lula tenta atrair para sua base o partido, que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição do ano passado.