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Mãe de estudante brasileiro desaparecido no Paraguai fala sobre primeiro aniversário do filho desde sumiço: 'Não tenho coragem para desistir'

Natural de Ponta Grossa, no Paraná, Antonio Augusto Streski Manjinski desapareceu em outubro na cidade de Mariano Roque Alonso, região metropolitana de Assunção. Isabel afirma que durante as buscas conheceu um lado diferente de Antonio

Por G1

23/02/2023 às 06:35:20 - Atualizado há
Arquivo Pessoal

O dia 23 de fevereiro costumava ser de comemoração para a família Streski: é o dia do aniversário do filho mais velho, o estudante de medicina Antonio Augusto Streski Manjinski.

Mas este ano a data não será comemorada, porque Antonio está desaparecido desde o dia 4 de outubro.

Ele foi visto pela última vez na cidade de Mariano Roque Alonso, região metropolitana de Assunção, no Paraguai, onde estudava Medicina.

O desaparecimento do estudante, natural de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, completa cinco meses no próximo dia 4.

A mãe, Isabel Streski, não para de procurar o filho. Ao g1, ela compartilhou como há meses não consegue dormir.

"Eu não tenho coragem para desistir. Já escutei de muita gente que passou muito tempo, que tenho que retornar à minha vida, mas minha vida sempre é ele, eu vivi pelos meus filhos. Eu não sei o que fazer."

Antonio Augusto Streski Manjinski com a mãe Isabel Streski.

De acordo com ela, a família tinha a tradição de fazer um café da manhã para comemorar os aniversários.

"Vai ser o primeiro aniversário em 26 anos sem estar junto com ele, sem ter aquela preocupação de como eu ia fazer uma surpresa no café da manhã, por mais que ele já esperasse. Vai ser um dia diferente para mim. Eu vejo que as mães paraguaias estão organizando missas, reuniões e homenagens, mas para mim é diferente. Porque eu não vou estar com meu filho, preparar a comida que ele gosta de comer. Não vou estar o tempo todo falando para ele o quanto ele mudou minha vida", lamenta a mãe.

Família separada

Mãe de estudante desaparecido fala sobre primeiro aniversário do filho desde sumiço

Na época do desaparecimento do filho, Isabel estava morando nos Estados Unidos e conversava com ele diariamente por meio de mensagens de texto e ligações.

Ela conta que no dia do desaparecimento não conseguiu contato com Antonio e acionou colegas do filho.

Desde então, Isabel tem ficado no Paraguai para investir forças na busca pelo filho. Por conta disso, a família ficou separada: enquanto o filho mais velho continua desaparecido, o mais novo, Pedro, de 11 anos, está com familiares no Paraná.

Isabel relata que Pedro sente falta do irmão, mas entende a dedicação da mãe.

"O pequeno fala para mim: "Mamãe, eu te entendo, eu sinto saudades suas, mas quem precisa de você agora é meu irmão. Então, fica o tempo que precisar procurando o meu irmão para que nossa família volte a se reunir'", conta Isabel.

Ela afirma que, mesmo morando longe, e com cerca de 15 anos de diferença, os irmãos tinham uma boa relação e costumavam fazer atividades juntos.

"Dias atrás teve um fato que me cortou bastante. Eu perguntei para o pequeno: 'Você não vai entrar no seu joguinho? Não vejo mais você jogar', e ele disse: 'Não mãe, não tem graça. Eu sempre joguei com meu irmão."

Ainda de acordo com Isabel, Antonio tinha um sentimento de cuidado com o irmão mais novo. Ela conta qu,e na semana do desaparecimento, o filho comemorou que estava terminando a graduação e poderia acompanhar mais de perto o crescimento do irmão mais novo.

Comprometimento com a comunidade

Antonio Augusto Streski Manjinski é paranaense e está desaparecido no Paraguai.

De acordo com Isabel, o filho gostaria de trabalhar no tratamento de crianças com câncer. Durante as buscas, ela afirma também ter descoberto um outro lado de Antonio.

Enquanto distribuía cartazes com a foto do estudante em bairros pobres da região onde ele morava, várias pessoas a abordaram contando histórias de momentos em que o jovem as ajudou ou prestou atendimento médico a elas.

"Escutar aquilo valeu a pena, porque não era só meu filho que estou procurando, mas também um ser humano que faz a diferença", afirma a mãe.

Em um dos momentos, na mesma região, uma mulher que teria sido atendida por Antonio começou a brigar com Isabel, dizendo que a mãe devia se empenhar mais nas buscas pelo filho. A reação de Isabel foi pedir para que a mulher continuasse rezando pelo menino.

"Ela me cobrava como se eu fosse uma autoridade e o filho dela tivesse desaparecido. Foi muito forte ouvir isso. Era uma parte do meu filho que eu não sabia que era tão intensa. O amor dessas pessoas menos favorecidas por ele", relembra.

Outro exemplo de envolvimento do jovem com a comunidade foi sentido pela mãe ao visitar uma comunidade indígena.

"Essa tribo é muito fechada e falaram que eles não iam me receber, mas eu falei que tinha que tentar. Quando descobriram que eu era a mãe dele eu tive um atendimento de 'reina', porque eles falavam 'é a mãe do nosso doutor", relata.

Para Isabel, a nova versão que ela conheceu do filho durantes as buscas é uma forma de aliviar o sofrimento que sente.

Investigações

A mãe questiona como alguém pode desaparecer sem deixar rastros. Ela diz sentir que o filho está vivo, mas que a espera pelo reencontro é difícil.

"Tem horas que parece que estou vivendo dentro de uma série, todo aquele drama e pesadelo. Mas em uma série desligou e passou, e eu não. Eu estou dia a dia vivendo isso."

O g1 tentou contato com a polícia paraguaia, para saber como está o andamento das investigações do caso. Porém, até a publicação desta reportagem não obteve resposta.

De acordo com Isabel, o promotor responsável pelo caso está envolvido com a história e procurou entender quem era Antonio, a fim de aprofundar as investigações.

Segundo a mãe, Antonio Augusto Streski Manjinski é um jovem tranquilo, dedicado, que gosta de academia e tem boas notas na faculdade.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que permanece em contato com as autoridades locais e acompanha a investigação das circunstâncias do desaparecimento do jovem.

O Itamaraty afirmou também que o consulado está à disposição para prestar assistência aos familiares.

Além da polícia, a comunidade também está envolvida na procura pelo jovem, segundo a mãe dele.

Desde o desaparecimento, colegas da universidade em que Antonio estudava fizeram manifestações e mutirões para distribuição de cartazes com fotos do estudante.

O último registro

Câmeras de segurança da casa em que Antonio morava mostram o jovem saindo sozinho no dia 4 de outubro de 2022. Este foi o último registro dele, de acordo com a família.

A denúncia do desaparecimento foi registrada pelos colegas na Delegacia Metropolitana 22.

Em 9 de outubro o Ministério Público do Paraguai publicou uma ordem de busca e localização do jovem. O órgão também orientou que qualquer informação sobre Antonio deve ser comunicada às autoridades paraguaias por meio do telefone 911 ou em uma delegacia do país vizinho.
Fonte: G1
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