O Taleban diz que realizou na noite de segunda-feira (13) uma grande operação contra o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) em Cabul. A ação teria sido uma resposta a ações do grupo terrorista que colocaram em alerta as missões diplomáticas no Afeganistão, segundo informou a rede Voice of America (VOA).
Na semana passada, o governo da Arábia Saudita foi obrigado a evacuar seu corpo diplomático por questões de segurança. Dezenove pessoas deixaram o Afeganistão e não se sabe se retornaram posteriormente. Antes, cidadãos chineses já haviam sido alertados por Beijing para os riscos de serem vítimas do EI-K.
Quando os sauditas realizaram a evacuação, as missões estrangeiras entraram em alerta devido à informação de que o grupo extremista planejava um grande ataque contra instalações diplomáticas no Afeganistão. Rússia e Paquistão também estavam entre os possíveis alvos.
Pressionado pelas nações estrangeiras devido à insegurança no Afeganistão, o Taleban realizou então a operação de segunda-feira, que teve como alvo um supostos esconderijo do EI-K na capital afegã. Um número incerto de indivíduos acusados de servir à facção morreu no ataque.
"Este era um importante esconderijo do grupo Daesh (sigla usada para se referir ao Estado Islâmico e rejeitada pelo próprio grupo), que esteve envolvido nos recentes ataques e crimes em Cabul", disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban.
Em janeiro deste ano, um ataque suicida deixou ao menos cinco pessoas mortas perto do prédio do Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão, em Cabul. A região onde ocorreu a explosão é bastante movimentada e muito policiada, devido à presença de inúmeros edifícios do governo talibã e de embaixadas estrangeiras, como as de China e Turquia.
Já um hotel frequentado sobretudo por chineses foi atacado em dezembro do ano passado, mas terminou sem vítimas civis. Na ocasião, Beijing emitiu um comunicado a seus cidadãos para que deixassem o Afeganistão "o mais rápido possível".
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, cobrou na ocasião uma "investigação completa" do ocorrido e instou o Taleban a adotar "medidas firmes e resolutas para garantir a segurança dos cidadãos, instituições e projetos chineses no Afeganistão".
Antes, em setembro de 2022, um terrorista suicida explodiu uma bomba do lado de fora da embaixada da Rússia, matando dois funcionários e quatro afegãos que solicitariam visto. Três meses depois, em dezembro, o chefe do corpo diplomático paquistanês sobreviveu a uma tentativa de assassinato realizada por um suposto atirador do EI-K.
Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.
Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.
Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.
Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.