PolĂ­tica

Cronologia da invasão revela atuação da Polícia do Senado

Por Senado Federal

17/01/2023 às 14:36:39 - Atualizado hĂĄ

A depredação do Senado durante a invasão do domingo, 8 de janeiro, poderia ter causado ainda mais prejuĂ­zos, não fosse a resposta da PolĂ­cia Legislativa da Casa (assista acima à gravação de câmeras instaladas nos uniformes dos policiais). ResponsĂĄvel por coordenar a equipe que ficou na linha de frente contra os vândalos, o chefe do Serviço de Policiamento, Ricardo de Sousa, reviveu os acontecimentos do dia e explicou as ações tomadas. De acordo com ele, desde o inĂ­cio do domingo havia uma preocupação latente devido aos ônibus que chegaram ao acampamento em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano, em BrasĂ­lia.

— Nós jĂĄ tĂ­nhamos visto imagens de supostos manifestantes colocando mĂĄscaras, chapéus e se armando. Por esses pequenos detalhes, percebemos que podia não ser um protesto amistoso. A informação que tĂ­nhamos de fora, porém, é que tudo estava sob controle. Por volta das 14h40, a Ășltima barreira externa da PolĂ­cia Militar , na Esplanada, foi quebrada e tudo começou — relata.

Naquele momento, Ricardo Sousa convocou com urgĂȘncia os agentes de segurança da Casa que estavam de folga e foi iniciada uma grande operação que só terminou às 15h30 da segunda-feira (9), quando o Ășltimo preso durante a ação foi entregue à PolĂ­cia Penal, ligada à PolĂ­cia Civil do Distrito Federal (PCDF).

InĂ­cio do confronto

Pouco antes das 15h, golpistas invadiram, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o PalĂĄcio do Planalto. Uma das primeiras ações aconteceu na garagem de acesso à base da Secretaria de PolĂ­cia Legislativa (Spol), quando um grupo tomou a via externa (N-2) e iniciou o cerco ao prédio. Uma policial agiu rapidamente para retirar uma viatura que estava exposta, na tentativa de preservar o veĂ­culo, mas foi avistada por agressores e chegou a ser perseguida. Ela tentou fechar o portão de acesso subterrâneo. Nessa hora, um homem chutou a porta, que atingiu a servidora duramente, obrigando-a a correr. Apesar da invasão inicial, o grupo logo se dispersou de volta ao edifĂ­cio principal.

Reforçada pela chegada de outros servidores — chamados para a situação excepcional — a polĂ­cia montou a primeira linha de contenção na divisa entre os Salões Negro e Azul do Senado e, posteriormente, entre o Salão Verde (na Câmara) e o Azul. Diego Alekes, do Serviço de InteligĂȘncia Policial, conta que estava de folga, em confraternização com a famĂ­lia, quando sintonizou um canal de TV e viu o que estava acontecendo no Congresso. Momentos depois, era um dos policiais que lutavam para permanecer de pé, mesmo sob a intensa ardĂȘncia do gĂĄs lacrimogĂȘnio lançado pelos policiais e também pelos vândalos.

— Nós respiramos muito gĂĄs e fomos bastante ameaçados. Foi com certeza meu momento mais tenso como policial — relata.

A resistĂȘncia durou cerca de uma hora. Muitos agressores arremessaram diferentes objetos na linha de resistĂȘncia dos policiais legislativos, além de usarem mangueiras de incĂȘndio contra a barreira e até estratégias militares de confronto. Segundo Ricardo Sousa, um dos vândalos proferiu ameaças contra a Ășnica mulher da linha de frente, no que ele acredita que era uma tentativa de desestabilizar o grupo.

O homem, visivelmente transtornado, gesticulou e direcionou xingamentos a ela, ordenando que ela se afastasse, pois estava sob risco de morte. Graziela respondeu que podia até morrer, mas morreria exatamente onde estava.

Os policiais tiveram de recuar quando um agressor arremessou uma bomba de gĂĄs lacrimogĂȘnio por baixo dos escudos, tornando o ambiente insalubre.

— Essa granada possuia uma concentração de gĂĄs muito maior em relação a similares e pode ser até letal em ambientes fechados. Nós tĂ­nhamos uma parecida, mas decidimos não usar porque poderia provocar ferimentos sérios ou coisa pior naquelas pessoas. Não sei como obtiveram esse artefato, mas isso foi decisivo para termos recuado — afirma Ricardo.

16h40

Em condições ainda mais adversas, os policiais foram forçados a ceder parte do Salão Azul até a Praça das Bandeiras — que haviam sido todas retiradas previamente para não se tornarem armas nas mãos dos agressores. Segundo Ricardo Sousa, a intenção era criar nova resistĂȘncia ali, mas um grupo armado com pedras os aguardava do lado de fora do prédio. Projéteis foram lançados contra os servidores pelas janelas estilhaçadas, criando duas frentes de ataque.

Acuados, eles se reorganizaram até onde haviam estabelecido como linha final: o TĂșnel do Tempo, corredor que liga o prédio principal aos anexos onde ficam as comissões e os gabinetes de senadores. O chefe do Serviço de Policiamento explica que, por ser um local afunilado, seria mais fĂĄcil estabelecer uma defesa consistente e conter os vândalos. E foi o que aconteceu. Também foram preservados o espaço João ClĂĄudio Neto Estrella, também conhecido como AquĂĄrio, da AgĂȘncia Senado, e o ComitĂȘ de Imprensa da Casa.

— É grande a dificuldade de proteger o Congresso, porque existem muitas vias de acesso e barreiras de vidro. VocĂȘ recua até um ponto, mas pode ser surpreendido por trĂĄs. Então, jĂĄ sabĂ­amos que o limite era o tĂșnel [do tempo]. Nossa equipe é bem treinada e nossas simulações abordam muitas situações — diz.

17h

Entre as 17h e 17h20, a PMDF começou a agir dentro do prédio e iniciou a retomada do patrimônio pĂșblico. Pela central de inteligĂȘncia que operava no edifĂ­cio da Secretaria de Segurança PĂșblica do DF (SSP-DF), um representante da Spol, em parceria com outras autoridades locais e federais, recebia e enviava informações em tempo real.

18h

Com ajuda dos policiais militares, a Spol retomou os espaços da Casa e impeliu a multidão de volta para a Esplanada dos Ministérios. Nesse momento, contudo, ainda havia dezenas de pessoas no PlenĂĄrio do Senado. As imagens circularam pelas redes sociais e noticiĂĄrios nacionais e internacionais.

Ricardo Sousa destacou trĂȘs pessoas para iniciar a prisão dos invasores. Contudo, em desvantagem numérica, foi necessĂĄrio apelar a tĂĄticas pontuais de negociação. Uma das policiais, por exemplo, estabeleceu contato com uma mulher que parecia exercer papel de liderança sobre os demais.

Uma das preocupações era não agitar os vândalos para evitar que, da janela do chamado cafezinho dos senadores, local ao lado do PlenĂĄrio, invasores que estivessem na varanda do Congresso percebessem a movimentação e tentassem se juntar aos criminosos no PlenĂĄrio. A tĂĄtica foi bem sucedida, o nĂșmero de pessoas dentro do PlenĂĄrio permaneceu estĂĄvel e a Spol se tornou o primeiro órgão de segurança a prender os golpistas no evento, com 38 detenções.

O saldo

Após o conflito direto ter sido enfrentado e cessado, restou aos policiais conduzir os presos à Spol para que fossem feitas as oitivas e onde eles permaneceram detidos até a entrega às autoridades distritais e federais. O evento só acabou no meio da tarde do dia seguinte.

Ricardo Sousa afirma ter sido a pior ameaça ao patrimônio do Senado em dez anos de trabalho na Casa e elogiou o preparo de seus comandados para lidar com cerca de 2 mil pessoas que teriam participado direta ou indiretamente das depredações.

— Nós utilizamos cinco vezes mais material do que em dias cotidianos. Foi um dia longo e exaustivo. Nunca havĂ­amos perdido o interior do palĂĄcio dessa maneira — completou.

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