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Operação antidrogas na Tailândia encontra bens da família do chefe da junta de Mianmar

Por A Referência

12/01/2023 às 16:06:24 - Atualizado há

Em setembro do ano passado, autoridades tailandesas invadiram a residência de um magnata de Mianmar em Bangkok, acusado de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Só agora, um documento oficial que está em poder da Justiça birmanesa revelou que, durante a operação, a polícia da Tailândia descobriu no local da batida bens pertencentes aos filhos adultos do chefe da junta militar, Min Aung Hlaing, general responsável por comandar o golpe de Estado em Mianmar há dois anos. As informações são da agência Reuters.

Entre os itens confiscados durante as buscas na residência de Tun Min Latt estão cadernetas bancárias e o título de propriedade de um condomínio de luxo pertencente à filha e ao filho de Hlaing.

Na ocasião, Latt, de 53 anos, juntamente de três de seus associados, foi levado sob custódia. Mais de 200 milhões de baht (R$ 30,7 milhões) em drogas e outros itens foram apreendidos. Além disso, a polícia confiscou US$ 8,96 milhões (R$ 45,5 milhões) em ativos como carros de luxo, relógios e bolsas caras, junto com US$ 239 mil (R$ 1,2 milhão) em dinheiro.

Min Aung Hlaing, general que lidera a junta no poder em Mianmar (Foto: Wikimedia Commons)

O acusado, que está em prisão preventiva, é apontado como um colaborador próximo de Hlaing. Ele dirige o grupo Star Sapphire, que intermediou importações de drones de reconhecimento israelenses e peças de aeronaves para a força aérea de Mianmar, segundo reportagem do portal BOL News.

O Star Sapphire é parceiro de dois conglomerados empresariais de propriedade militar: o Myanmar Economic Holdings Ltd (MEHL) e o Myanmar Economic Corporation (MEC). Além de traficar armas, Latt tem participações em hotéis, energia e mineração.

Os filhos de Hlaing, Aung Pyae Sone e Khin Thiri Thet Mon, todos sancionados por Estados Unidos e Canadá, não tiveram seus bens apreendidos pelas autoridades tailandesas, apesar das evidências que os ligam às supostas atividades criminosas de Latt. Washington acusa Aung e Khin de se "beneficiarem diretamente da posição e da influência maligna do pai".

Um porta-voz do grupo ativista Justice for Myanmar disse que, enquanto a junta continua realizando sua campanha de terror contra o povo de Mianmar, as famílias dos militares estão escondendo seus bens roubados no exterior. "Eles se beneficiam do genocídio militar, crimes de guerra e crimes contra a humanidade", declarou Yadanar Maung.

Maung instou o governo tailandês a tomar "medidas urgentes para evitar que o país se torne um refúgio seguro para criminosos de guerra de Mianmar" e que apreenda "os bens de Aung Pyae Sone e Khin Thiri Thet Mon", bem como conduza uma investigação para saber se eles "se beneficiaram com o produto do crime" e impeça que "membros da junta, suas famílias e facilitadores, acessem bancos tailandeses e comprem ativos na Tailândia".

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta "uma campanha de terror com força brutal", segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar, uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020, já causou a morte de mais de 2,7 mil pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, segundo a ONG Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, que posteriormente foi julgada e sentenciada a 33 anos de prisão.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. A AAPP afirma que mais de 17 mil pessoas já foram presas, invariavelmente sem indiciamento ou julgamento, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

A violência dos militares levou ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta a junta a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige "o fim imediato de todas as formas de violência" e pede que "todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o estado de direito".

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2021 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.

O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, bem tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

No dia 15 de dezembro, durante uma celebração do 75º aniversário da força aérea de Mianmar, líderes da junta apresentaram novos caças e helicópteros de ataque comprados desses três países. Entre os destaques, os sofisticados caças Sukhoi Su-30, de Moscou, e jatos FTC-2000G, de Beijing, comprados após o golpe e usados nos ataques aéreos em andamento do regime contra civis e forças de resistência que lutam ao lado de grupos étnicos armados em todo o país.

Fonte: A Referência
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