José MĂșcio Monteiro foi um dos cinco futuros ministros anunciados por Lula nesta sexta. Em entrevista à GloboNews, disse que vĂȘ cisão polĂtica nas forças e que 'precisamos juntar todos'. José MĂșcio Monteiro sobre risco de golpe: 'as Forças Armadas tĂȘm demonstrado que não apoiam qualquer movimento desse'
Confirmado nesta sexta-feira (9) como futuro ministro da Defesa do governo Lula, o ex-deputado José MĂșcio Monteiro disse em entrevista à GloboNews que é preciso "despolitizar" e "despartidarizar" as Forças Armadas.
"O que eu proponho? Que nós voltemos a ser o que sempre fomos e deu certo. Os militares guardiões, uma instituição de Estado e sem participar de polĂtica", afirmou.
"É uma volta ao passado? Não. É uma volta ao que sempre foi nas Forças Armadas. A despolitização, e mais, a despartidarização das Forças Armadas é uma coisa absolutamente necessĂĄria para o paĂs", seguiu.
O polĂtico também disse avaliar que as Forças Armadas tĂȘm demonstrado que "não apoiam qualquer movimento" de base golpista ou antidemocrĂĄtica, mas reconheceu que hĂĄ uma forte divisão polĂtica entre os militares.
"As Forças Armadas tĂȘm demonstrado que não apoiam qualquer movimento desses [golpistas]. Evidentemente que tĂȘm suas preferĂȘncias. Se vocĂȘ me dizer que temos trĂȘs Forças, sou capaz de dizer que temos seis Forças. O Exército, a Marinha e a AeronĂĄutica que gostam de Bolsonaro; e o Exército, a Marinha e a AeronĂĄutica que gostam de Lula", disse.
"Evidentemente, precisamos colocar as coisas no seu devido lugar. As Forças Armadas são uma instituição do Estado brasileiro, e não de quem estĂĄ comandando o Estado brasileiro", ressalvou.
"A sociedade respeita as Forças Armadas pela sua união, força, responsabilidade. Eles tiveram muitas oportunidades de exercitar essa falta de patriotismo [dando um golpe]. Precisamos juntar todos, porque nunca esse paĂs precisou tanto da consciĂȘncia de que, em um tropeço qualquer na nossa democracia, todos sairemos prejudicados", seguiu o futuro ministro.
José MĂșcio Monteiro: quem é o novo ministro da Defesa
Civis no comando
Monteiro anunciou que seu secretĂĄrio-geral no Ministério da Defesa serĂĄ Luiz Henrique Pochyly da Costa – um civil, assim como o futuro ministro. Pochyly trabalhou com Monteiro no Tribunal de Contas da União.
O Ministério da Defesa foi criado em 1999 e, até 2018, tinha sido comandado apenas por civis: uma forma de garantia a primazia dos civis sobre os militares, afastando os riscos de uma nova ditadura como a que vigorou no paĂs entre 1964 e 1985.
No Ășltimo ano de governo Michel Temer e nos quatro anos de governo Jair Bolsonaro, no entanto, a pasta foi chefiada por generais do Exército.
CrĂtica ao 'entorno' bolsonarista José MĂșcio Monteiro também afirmou que "gosta" do presidente Jair Bolsonaro – eles foram colegas na Câmara dos Deputados nos anos 1990.
Monteiro foi um dos poucos interlocutores a visitar Bolsonaro após a derrota no segundo turno – quando o presidente se "encastelou" no PalĂĄcio da Alvorada.
"Eu encontrei um homem abatido, resignado talvez, mas não conformado", descreveu.
O futuro ministro também disse que tentarĂĄ voltar a se encontrar com Bolsonaro nos próximos dias, antes da posse do novo governo. Ele também pretende se reunir na próxima segunda (12) com o atual ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
Para José MĂșcio, Bolsonaro é "mais pacĂfico" que o grupo de bolsonaristas fanĂĄticos que vem estimulando pautas inconstitucionais e de ruptura da ordem democrĂĄtica. "O presidente Bolsonaro sai dessa eleição com um capital gigantesco, metade do paĂs. Tenho absoluta certeza de que se ele quer pensar no futuro, e se os adeptos querem que ele volte um dia, tem que sair como um estadista", avaliou.
Comando das Forças ArmadasO futuro ministro da Defesa afirmou na entrevista à GloboNews que o presidente eleito, Lula, delegou a ele a função de escolher os novos comandantes de Exército, Marinha e AeronĂĄutica.
Monteiro, então, decidiu seguir a regra hierĂĄrquica tradicional: colocar nos cargos os militares "mais antigos" de cada força.
Com isso, serão comandantes a partir de 2023:
AeronĂĄutica: tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno;
Exército: general Julio Cesar de Arruda;
Marinha: almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.
Ainda falando de hierarquia, Monteiro afirmou que, no novo governo, não serĂĄ "tolerado" que militares das Forças Armadas façam manifestações polĂticas nas redes sociais ou em outro meio.
"Nunca houve, prejudicou as Forças Armadas e não hĂĄ interesse para as corporações que essas coisas permaneçam", disse.