Recentes ataques aéreos coordenados pela Turquia no norte da Síria têm colocado em perigo as tropas americanas baseadas no país, disse o Pentágono na quarta-feira (23). Para o Departamento de Defesa, a escalada causa “profunda preocupação” e compromete anos de progresso no combate aos militantes do Estado Islâmico (EI). As informações são da agência catari Al Jazeera.
“Recentes ataques aéreos na Síria ameaçaram diretamente a segurança do pessoal dos EUA que está trabalhando no país com parceiros locais para derrotar o EI e manter a custódia de mais de dez mil combatentes detidos”, disse em comunicado o porta-voz do Pentágono, o brigadeiro-general da força aérea Pat Ryder.
A declaração é tida como uma rígida condenação de Washington às operações aéreas da Turquia, membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), realizadas nos últimos dias contra a milícia YPG (Unidade de Proteção do Povo), tratada por Ancara como o braço sírio do PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos). As tropas americanas estavam a 300 metros de um local atacado.
“A desescalada imediata é necessária para manter o foco na missão de derrotar o EI e garantir a segurança do pessoal no terreno comprometido”, acrescentou Ryder.
Fuzileiros navais de unidade antiterrorismo dos EUA (Foto: divulgação/Sgt. Esdras Ruano)
O pedido de Washington por uma redução da escalada de todos os lados tem sido uma tentativa de evitar mais violência entre dois de seus importantes aliados.
Porém, ainda na quarta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deixou a atmosfera mais tensa ao dizer que as operações aéreas eram “apenas o começo”. Ele prometeu avançar com uma operação terrestre contra os combatentes curdos.
O governo da Turquia culpa o PKK pelo atentado a bomba que matou seis pessoas e deixou dezenas de feridos no último dia 13 em uma popular rua de comércio de Istambul. Ninguém reivindicou o ataque, e o PKK e o YPG negaram envolvimento.
O PKK luta pela autonomia curda na Turquia, é classificado por Erdogan como grupo terrorista e é um dos principais focos da política de segurança nacional do governo turco. Ancara alega que, ao longo de 35 anos, a “campanha de terror” da milícia curda já matou mais de 40 mil civis e militares.
Não foi a primeira vez que operações turcas no norte da Síria colocam em risco a segurança do pessoal dos EUA. Em 2019, forças americanas na região ficaram sob fogo de artilharia de posições turcas que atacavam combatentes curdos, aliados dos EUA na época.
A Turquia é parte interessada e ativa na guerra civil da Síria, que já dura mais de 11 anos. O conflito opõe Rússia e Irã, aliados do presidente Bashar Al-Assad, a Ancara, que apoia os rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS) na luta contra o governo. Em um terreno obscuro no meio surgem as Forças Democráticas Sírias (FDS), cujo principal inimigo é o Estado Islâmico (EI), o que garante à milícia o suporte dos EUA.
Ancara considera a aliança EUA-FDS um problema, porque classifica a YPG, que por sua vez é ligada às FDS, como organização terrorista.
Na guerra civil, a oposição apoiada pelos turcos e por líderes ocidentais exige a queda de Assad, a quem acusa de crimes contra a humanidade. Apoiadores de Assad, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.
Após sofrer duras perdas no início do conflito, Assad conseguiu reconquistar território graças à ajuda de seus aliados. A última região com forte presença da oposição armada inclui áreas da província de Idlib e partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia.
Em 2020 foi estabelecida uma trégua intermediada por Rússia e Turquia, incluindo os rebeldes e as forças do governo, enquanto grupos extremistas como o EI não fazem parte do pacto..
Desde então, Ancara conseguiu consolidar sua influência no norte da Síria, o que inicialmente ajudou a evitar uma nova etapa de combates e controlou o fluxo de refugiados. Porém, nos últimos meses, o governo turco retomou as operações militares, gerando insatisfação dos dois lados, tanto dos EUA quanto da Rússia.