Geral paulo leandro

Homenagem a Zé Bim Pop, o herdeiro de Rabelais

Por Da Redação

07/09/2022 às 05:42:33 - Atualizado há

Zé Bim Pop poderia ser reinventado em formato gigante numa edição contemporânea de “Gargântua e Pantagruel”, de François Rabelais (Ra-be-lé), escritor, padre e médico renascentista de quem herdamos o bom humor moderno.

Não eram poucos a divertirem-se curtindo aquela figura dando piques para frente e para trás, trajado num elegante terno, com a braçadeira de capitão, ridicularizando a burocracia do quadrado figurino com o símbolo de poder em campo.

Nem todas e todos curtiam quando partia desvairado para o centro do campo entrevistar o jogador próximo da bola, atrasando o início da partida, chamando a atenção para si, mas assim foi um dia a Bahia cheia de “gigantes” notáveis e autênticos.

Zé Bim Pop está escalado ao lado do Guarda Pelé, responsável por administrar o trânsito em meio a piruetas e apitos dissonantes; e da Dama de Roxo, com seu crucifixo a caminhar entre os transeuntes da outrora luxuosa Rua Chile, entre outras e outros fora do roteiro.

Foi cria de França Teixeira, a quem devemos uma escola de radialistas, na qual despontaram Alvaro (sem acento no primeiro a, pois lê-se com sílaba forte no vá: Al-vá-ro) Martins e Renato Lavigne, o Bola de Gude.

Devemos a ele a introdução ao melhor reggae, ao levar Ricky para cantar em inglês nigeriano ‘No Woman no cry’, pertinho da torcida do Vitória, em 1985, além de ter estado presente no histórico show de Gil e Jimmy Cliff cinco anos antes. Viu Pelé ser barrado por seu Souza porque não tinha credencial de cronista.

Quem o conheceu de mais tempo, como o amigo Sanches Santana, lembra ter começado Bim Pop como apresentador de festivais, uma “fera do rock”, ainda no penúltimo governo militar.

“Então rolavam festivais de rock, no Campo Grande nas sextas. Bandas de todas linhagens culturais, vindas dos bairros nobres e da periferia de Salvador”, lembra Santana.

Era polêmico e perturbado o querido José Néri Rosa, mas seu adeus foi num leito qualquer do Hospital Geral Roberto Santos, não fez o pé de meia para ter um bom plano, só queria dar seus piques vestido num terno engomado na Fonte Nova cheia.

A antiga Fonte, pois esta das cadeirinhas de plástico não tinha mais espaço para ele, além de tudo um cara cheio de personalidade a ponto de evitar misturar-se aos fracos, dos quais mantinha distância.

Portava algo de intrépido e de herói o nosso personagem rabelaisiano, a ponto de denunciar, no ar, um esquema de extorsão de fontes de informação na televisão baiana.

Não sei se os raulseixistas de cepas mais apuradas Tiago Bittencourt e Paulo Cézar Gomes vão concordar, mas Bim Pop tinha algo de Raul no sentido de viver o personagem, não mais a pessoa, como metamorfose ambulante.

Cobriu de um tudo, desde o Vitória de Osni, André e Mário Sérgio ao escândalo do roubo da renda de um Ba-Vi, num tempo de evasão dos recursos, jamais coincidindo o excesso de gente com a merreca do borderô.

Com o adeus a Bim Pop, ficamos aqui a enfrentar o mundo, jogando com um titular a menos: um mundo de tantos recursos tecnológicos, no qual todos dizem as mesmas coisas do mesmo jeito e repetindo-se umas às outras, uns aos outros, como uma imensa roda de bobinhos.

Não tem mais os piques do capitão dos repórteres, de terno, gravata e braçadeira.


Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.

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