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Fatality! Mortal Kombat comemora 30 anos de lançamento

Por Da Redação

28/08/2022 às 07:14:03 - Atualizado há

Não dá para afirmar se a violência de Mortal Kombat desenvolveu algum caráter violento nas crianças na década de 90, mas com certeza fez muita gente perder de ano, incluindo este repórter. Há 30 anos, nascia o primeiro jogo mais sanguinário, violento e viciante da história, que tirou os cabelos dos pais, parou o congresso americano, deixou os donos de fliperamas extasiados e elevou o número de adolescentes filando aula em todo mundo para dar fatalities surreais, expondo vísceras e tirando as cabeças dos adversários. Você pode até não ter tido o prazer de depositar uma fichinha no fliperama para desafiar um amigo, mas com certeza conhece a franquia Mortal Kombat, independentemente de sua idade.

Em 1992, Salvador vivia um cenário gamer bem dividido. Na época, não existia internet, computadores ou celulares. Os primos ricos já tinham em suas casas consoles como Super Nintendo ou Mega Drive e se gabavam de não precisar mais dos fliperamas espalhados pela cidade. Os meros mortais ainda depositavam fichas para jogar  games como Street Fighter (SF), lançado um ano antes e que já tinha suas versões em fitas. O SF era o jogo que mais se aproximava de algo violento, por se tratar de luta, e só. Super Mario, Sonic e joguinhos de nave deixavam os pais despreocupados. Jogos eletrônicos eram apenas brinquedos para crianças. No segundo semestre de 1992, tudo mudou para sempre. 

A máquina da felicidade dos gamers de 1992, ano de lançamento do sanguinário Mortal Kombat

Na época, três lojas de jogos eletrônicos importaram o Mortal Kombat (MK): na Lapa e nos shoppings Barra e Iguatemi. Sem internet, a fama do jogo em Salvador logo se espalhou, promovendo uma verdadeira peregrinação nestes três pontos.  “O primeiro contato [com Mortal Kombat] foi na ladeira da Lapa. Street [Fighter] já tinha se espalhado pela cidade, jogava no Rio Vermelho mesmo. Mas aí começou o burburinho sobre um novo jogo de luta que saía sangue dos jogadores.  Lembro que fui conferir na Lapa.   Chegando lá, ao ver Kano arrancar o coração do adversário… Foi amor à primeira vista!”, disse Damásio Sousa, de 42 anos.

Damásio morava na Vasco da Gama, estudava no Rio Vermelho, mas só vivia na Lapa. Começou a filar algumas aulas, economizava o dinheiro do lanche e do transporte para jogar MK na Lapa. Perdeu de ano, mas faria tudo de novo. “Não tive problemas com meus pais, pois eles não sabiam da existência desse mundo. Eles acreditavam que eu estava na escola ou fazendo trabalho em grupo. Os pais que viram o jogo, com certeza tiveram medo. Arrancar a cabeça trazendo a coluna junto, cuspir fogo e queimar o adversário, arrancar o coração… Foi um choque para a época!”, lembra Damásio, que explica sobre a ausência na escola: 

 “Aquela violência, para quem jogava, era tudo! Não tinha como me dedicar aos estudos, pois precisava me dedicar integralmente nas estratégias para passar de Goro [um dos chefões]. Lembro de um golpe dele que apelidamos carinhosamente de Timbalada”. No golpe citado, Goro, que tinha quatro braços, segurava o oponente e começava a bater na cabeça dele como se estivesse batucando um timbal. 

O fliperama da Lapa também se tornou um grande centro de  apostas entre os gamers de Mortal Kombat. “Era bem comum  pessoas passarem tardes inteiras na Lapa, apostando lanches, roupas, tênis, skate, prancha de surf, videocassete... Eram disputas que tinham regras estabelecidas na hora. Os desafios eram marcados por bilhetes deixados nos fliperamas, do tipo: ‘Sou Giso, e quero muito jogar com você apostado, topa o desafio? Venha próximo sábado, às 9h’''', lembra André Luís da Encarnação, de 47 anos. Ele afirma que era raro, mas que aconteciam alguns focos de violência, mas sem gravidade.

“Os fliperamas lotavam.  Às vezes ocorriam algumas brigas, quando o desafiador perdia e não aceitava a derrota. Eram insultos bem baianos: ‘no game você ganha, mas venha pra mão, cai dentro, vem pro pau!’. O cara se posicionava em posição de luta mesmo, como em Mortal Kombat, esperando o outro ceder à provocação. Mortal Kombat foi um divisor de águas para muitos players de jogos de luta. Jogo até hoje”, comenta André, que se deslocava do bairro do Bonfim para aplicar fatalities  na Lapa. 

Diferencial
Afinal, o que tinha de diferente em Mortal Kombat? A franquia surgiu para ser um concorrente do Street Fighter II, uma febre mundial. Apesar de ser um jogo de luta, SF II não tinha violência em si, parecia mais um torneio de artes marciais com personagens caricatos. Porém, os desenvolvedores de MK queriam mais realismo. O gráfico foi o primeiro diferencial. Ao contrário dos jogos anteriores, em que um desenho era computadorizado para se tornar personagens dos games, como ocorreu no Street Fighter, o MK filmou artistas especializados em artes marciais no estúdio. Cada personagem era, de fato, uma pessoa de verdade que fazia os golpes diante das câmeras e,  depois, era digitalizado para fazer parte do jogo.

Um dos criadores do game, Ed Boon, iniciou as comemorações dos 30 anos da franquia postando vídeos das gravações dos personagens no seu perfil do Twitter. Ele conta que foram filmados seis atores para a primeira versão do jogo, mas os criadores sentiram falta de mais um lutador. Ou melhor, lutadora. “É uma loucura ver aquela primeira filmagem de teste de arcade agora, 30 anos depois. O teste foi ótimo, mas ficou claro que o jogo precisava de outro lutador. Então voltamos ao trabalho, projetando, capturando e programando os movimentos para o sétimo lutador de Mortal Kombat, a tenente Sonya Blade”, postou.

Sete personagens foram criados, além de dois chefões para quem jogava sozinho para “zerar” o jogo, vencendo uma série de batalhas contra a máquina. Os personagens foram inspirados nos filmes de ação da época, principalmente os de artes marciais. Inclusive, a ideia inicial era que o game tivesse Jean-Claude Van Damme como personagem principal. O ator, que era um ícone na época,  recusou o convite, mas os desenvolvedores criaram Johnny Cage, em homenagem a ele. Um dos golpes de Cage, em que ele escala e acerta as partes baixas do oponente, foi inspirado no filme O Grande Dragão Branco, em que Jean-Claude aplica este movimento. 

Na verdade, muitos filmes que vimos na Sessão da Tarde inspiraram Mortal Kombat. Dois saíram de Aventureiros do Bairro Proibido: Raiden e o chefão Shang Tsung, que no filme se chama Lo Pan. O jogador japonês Liu Kang foi inspirado em Bruce Lee, incluindo os gritinhos clássicos do filme Operação Dragão. Pronto. Junte todas estas referências com sangue e o famigerado fatality - o golpe mortal personalizado com o qual cada um dos sete personagens finalizavam as lutas - para entender a razão do sucesso do game. Contudo, para aplicar o fatality, cada gamer deveria fazer uma combinação perfeita no controle para ativar o ‘finish him’, uma espécie de ‘acabe com ele’. Imagine fazer isto tudo sem os tutoriais do YouTube de hoje em dia. 

“As crianças dos anos 90 passavam a tarde sendo bombardeadas na TV com filmes como Comando Delta, Dragão Branco e demais obras que não pegavam leve na violência. O Mortal Kombat era um convite irresistível, pois foi o primeiro [jogo] com sangue. Na primeira década da minha vida, poucas coisas eram mais prazerosas do que carbonizar seu amiguinho em uma baforada de fogo. O fato do jogo utilizar atores reais nos gráficos tornava aquilo ainda mais impressionante e, de uma forma muito errada, ainda mais divertida”, lembra Vitor Gouveia, de 39 anos. 

Get over here!!!

Vitor lembra que o desafio maior era conseguir aplicar os fatalities, a cereja do bolo no jogo. Isso levava tempo e a escola sobrava nesta história toda.  “O desafio do jogo nem era ganhar, mas memorizar aqueles fatalities. É engraçado, pois para memorizar uma fórmula de química era um parto. Mas, para lembrar do fatality de Liu Kang, eu conseguia falar até dormindo”. 

Enquanto dentro dos fliperamas as crianças e adolescentes jogavam Mortal Kombat, fora dele o game fervilhava entre políticos e pais, mudando de vez o mundo dos jogos eletrônicos. No início de 1993, o congresso dos Estados Unidos convocou uma reunião extraordinária para falar sobre o horror do MK. Graças aos fatalities, o Capitólio decidiu criar o ESRB, um conselho que passou a classificar a faixa etária dos jogos, como nos filmes. 

As primeiras versões do MK nos consoles também precisaram maneirar na violência, por determinação do governo dos Estados Unidos. Na versão do Super Nintendo, o sangue era verde e os fatalities sofreram algumas modificações. No Mega Drive, existia uma possibilidade de habilitar toda violência por meio de uma combinação de botões na tela inicial do game. 

Não adiantou muito. Com a chegada da franquia nos consoles, em 1993, era impossível controlar, principalmente com o surgimento de dois fenômenos da época: a locadora de jogos, que dava para alugar a fita ou brincar lá mesmo, alugando o  videogame durante algumas horinhas com os amigos. “Era certo, toda sexta-feira alugar o cartucho [fita] de Mortal Kombat para poder jogar durante o fim de semana. Não posso mentir que às vezes dava uma escapulida com os colegas [da escola] para irmos às locadoras jogar MK no Super Nintendo. Ficava muito cheio, foi uma verdadeira febre”, disse Jonathas Barreto, de 39 anos. Ele perdeu de ano, mas prefere lembrar de outra coisa. “Na morte de Senna, eu estava jogando Mortal Kombat. Foi triste”. 

Pelo interior da Bahia, o Mortal Kombat demorou para chegar, mas também foi o mesmo fenômeno. Segundo fãs, o jogo chegou em Ipiaú apenas em 1994 diretamente nos consoles como Super Nintendo e Mega Drive. Maxson Vieira se orgulha até hoje de ser o melhor jogador da cidade, vencedor de um torneio que mobilizou as crianças e adolescentes da cidade. Contudo, teve gente que também não gostou. 

“O jogo chegou aqui em Ipiaú por volta de 1994 e virou uma febre. Chegou também em fitas. Uma vez meu primo alugou o cartucho e fomos jogar na casa da avó dele. Quando ela viu o jogo, ficou aterrorizada, desligou a TV, achava que era coisa do demônio, não conseguimos jogar. Até hoje jogo Mortal Kombat, é um clássico”, lembra Maxson Vieira, de 38 anos

O sucesso foi mundial e mobilizou os gamers baianos da época. No mesmo ano do lançamento para consoles, em 1993, surgiu o Mortal Kombat II nos fliperamas, sem censura, mas com classificação etária para maiores de 14 anos. Outros oito personagens foram inseridos. MK ainda é atual e ainda mais violento. Em 2019, foi lançado o Mortal Kombat 11, proibido para menores de 17 anos. Antes, em 1995, surgiu o primeiro filme da franquia. Foram outras três adaptações para o cinema, incluindo o último lançamento, em 2021. 

Quanto à violência no jogo, os eternos fãs preferem separar realidade de ficção. “É hoje que vivemos enjaulados, oprimidos por esse Mortal  Kombat que se instalou nas ruas de Salvador. Nada se compara ao que vivemos hoje em dia”, avisa Damásio, que joga até hoje. 

Para os celulares, existe uma versão mobile mais atual para MK, que já acumula mais de 50 milhões de downloads. Desde o primeiro jogo da franquia, em 1992, o game vendeu mais de 75 milhões de cópias. Violento, mas saudoso. Ainda é possível matar a saudade de MK I nos emuladores, espécies de aplicativos que rodam jogos antigos, inclusive no celular.

Finish him!


Personagens e seus fatalities

Johnny Cage
O player aplica um gancho que tira a cabeça do oponente. Em outro, ele dá um chute que lança o adversário para longe. Ele cruza os braços e coloca um óculos escuro 

Golpes 

  • Green Bolt – Trás, Frente, LP*

  • Shadow Kick – Trás, Frente, LK

  • Ball Breaker – BL + LP

  • Fatality – Frente, Frente, Frente, HP


Kano 

Em um soco, Kano tira o coração do adversário, que ainda  pulsa nas suas mãos 

Golpes 

  • Spin Attack – Segure o botão trás e se afaste do adversário, em seguida faça um círculo completo no sentido anti-horário.

  • Knife Throw – Segure Block, Trás, Frente

  • Fatality – Trás, Frente, LP. Faça isso bem perto do adversário.

 

 

Raiden 

Ele lança uma carga elétrica que faz a cabeça do adversário explodir. Em outra descarga elétrica, o oponente vira pó

Golpes 

  • Teleport – Baixo, Cima

  • Lightning – Baixo, Frente, LP

  • Torpedo – Trás, Trás, Frente

  • Fatality – Frente, Trás, Trás, Trás, HP. Faça isso bem perto do adversário.


Liu Kang  

Um super gancho manda o adversário para um porão cheio de lanças

Golpes 

  • Fireball – Frente, Frente, HP

  • Flying Kick – Frente, Frente, HK

  • Fatality – Você deve dar uma volta completa no direcional, faça isso no sentido anti-horário e comece pela frente.


Scorpion  

Ele tira a máscara e cospe fogo no adversário, que fica carbonizado 

Golpes 

  • Spear – Trás, Trás, LP

  • Teleport – Meia lua pra trás, HP

  • Fatality – Segure Block, Cima, Cima. Faça isso na distância de uma rasteira.


Sub-Zero   

Ele arranca a cabeça do adversário, junto com a coluna cervical. Em outro, ele congela o rival e dá um soco, destruindo o oponente. Somente a perna permanece intacta (mas congelada)

Golpes

  • Freeze – Baixo, Frente, LP

  • Slide – Trás + LP + LK + Block

  • Fatality – Frente, Baixo, Frente, HP. Faça isso bem perto do adversário.


Sonya Blade  

 

Um beijo, que na verdade é uma bola de fogo que carboniza o oponente.

Golpes 

  • Ring Toss – Trás, Trás, LP

  • Leg Grab – Block + LP + LK

  • Square Wave Flight – Frente, Trás, LP

  • Fatality – Frente, Frente, Trás, Trás, Block


Legenda*

  • HP – Soco Alto
  • HK – Chute Alto
  • LP – Soco Baixo
  • LK – Chute Baixo
  • BLK – Block


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