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Zé Pequeno e Buscapé desembarcaram na Bahia no auge de 'Cidade de Deus'; relembre

Por Da Redação

28/08/2022 às 06:12:41 - Atualizado há

Um “trio ternura” improvisado, com apenas um membro da formação original em ‘Cidade de Deus’, desembarcou em Salvador, há 20 anos, dessa vez tentando fazer jus ao nome. Além de Renato de Souza, intérprete de Marreco, também esbanjaram simpatia e boa vontade com estudantes e fãs baianos dois protagonistas da obra-prima dos diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund: Leandro Firmino da Hora, que fez Zé Pequeno, e Alexandre Rodrigues, outro estreante nas telinhas que botou para lenhar como Buscapé.

A ocasião da visita, lembrada aqui a dois dias de o filme completar duas décadas de lançamento - o que ocorre na próxima terça-feira (30) - foi uma palestra dos rapazes na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), às vésperas do Natal de 2002, quando o filme já era um sucesso mundial e colecionava premiações e elogios empolgados de público e crítica. E os temas do debate no ambiente acadêmico, como não poderiam deixar de ser, eram relacionados a questões levantadas no longa: racismo, identidade negra e violência urbana.

Além da passagem pela capital - a primeira viagem dos três à Bahia, ainda sem saber detalhes importantes da cidade, como a existência do Bando de Teatro Olodum -, ainda rolou uma esticada até Conceição do Coité, no sertão baiano, onde o filme foi exibido em praça pública, como comemoração aos 10 anos de inauguração do campus da Uneb por lá.

Cabula
Em Salvador, a então reitora da Uneb, Ivete Sacramento, foi quem recepcionou o trio no campus principal, no Cabula. É ela que aparece ao lado de Leandro, Alexandre e Renato na imagem acima, feita pelo fotógrafo João Alvarez. Procurei a ex-reitora, que atualmente é titular da Secretaria Municipal de Reparação (Semur), e ela admitiu que após tanto tempo, ficaria difícil lembrar de algo mais detalhado. 
“São 20 anos!!! Vou puxar aqui pela memória!!!”, respondeu no WhatsApp, mas a memória não ajudou na hora de mandar a resposta a tempo de entrar nessa edição.

Quem também tem lembranças vagas do dia é o então acadêmico de Engenharia Jackson Souza, que lamenta o fato de na época não ter ainda celular com câmera. 

“Eu queria tirar foto com os caras, mas a realidade era outra, né? Lembro que eles ficaram nervosos, no início da palestra, imagino que por estarem num ambiente acadêmico, onde as pessoas tentavam falar difícil, mas depois a coisa fluiu bem. O auditório tava cheio”, é o que conseguiu recordar.

A dimensão do sucesso do filme já vinha sendo noticiada em muitas edições do jornal naquele segundo semestre. Na edição de 1º de outubro, a matéria ‘Explosão nacional’, assinada pela minha colega Ana Cristina Pereira, destacava os números de bilheteria. “Desde que estreou, há um mês, o filme virou uma espécie de coqueluche nacional”, analisa na abertura de uma reportagem de página inteira que citava a marca de 1 milhão de espectadores.

Na reportagem de 18 de dezembro, com Alexandre, Leandro e Renato já consagrados em suas iniciáticas carreiras, entrou até o tema das cotas para afrodescendentes em instituições de ensino superior, que só viriam a ser instituídas 10 anos depois. O texto não menciona como o tema foi abordado.

A matéria envereda pelos caminhos dos três atores para chegar às telonas - dois deles chegaram a fazer teatro amador, mas Leandro Firmino nem isso -, e há uma crítica social do próprio intérprete de Zé Pequeno sobre a recepção do filme: “As pessoas se fingem de chocadas”.

Coité
A viagem para Conceição do Coité também foi bastante proveitosa para o trio, que teve uma recepção calorosa na cidade, como conta o poeta cordelista Carlos Neves de Freitas, 61, que na época das visitas ilustres era coordenador administrativo e contábil do Campus 14 da Uneb - uma espécie de braço direito da direção da unidade.

Além de, mais uma vez, participarem de uma palestra para estudantes e professores unebianos, Leandro, Alexandre e Renato marcaram presença na exibição do filme em praça pública, para uma multidão. Na véspera, também havia a previsão de exibição do filme para a estudantada da Uneb na capital, mas acabou adiada por problemas técnicos. Em Coité, a falha quase se repetiu. 

“A gente armou toda a infraestrutura, botou telão na praça, mas estava muito vento. Tivemos dificuldade com a posição da coisa toda. Inclusive deu pane em um dos equipamentos, eu briquei com um dos técnicos, mas no final deu tudo certo. O pessoal lotou a praça. As pessoas sentaram na calçada mesmo, a gente tinha colocado um montão de cadeiras, e foi muito bonito”, comenta Carlos, que além de comandar aquela expedição dos astros de ‘Cidade de Deus’ - foi quem levou os atores para churrascaria, sorveteria, hotel -, comanda há anos um Museu Histórico-Cultural em Conceição do Coité.

Zé Pequeno, Buscapé e Marreco ainda dormiram em Coité, e no dia seguinte seguiram para Feira de Santana, onde deram entrevistas para emissoras de rádio e televisão.

A visita foi pé-quente para o trio, que recebeu a notícia de que ‘Cidade de Deus’ estava indicado a um dos maiores prêmios da indústria do cinema ainda na Bahia. O anúncio saiu em reportagem de Paulo Sales no dia 20 de dezembro, neste Correio, intitulada ‘Cidade de Deus vai concorrer ao Globo de Ouro’. A parada era dura, e acabou vencida por ‘Fale com Ela’, de Pedro Almodóvar, e tudo certo, afinal, a jornada espetacular de premiações do longa continuou, inclusive fazendo o Oscar ‘voltar atrás’. Foram quatro indicações ‘atrasadas’ em 2004. 

A qualidade do filme também é demonstrada em números recentes, após duas décadas de fruição internacional: ‘Cidade de Deus’ é o segundo filme não estadunidense mais assistido do mundo, de acordo com levantamento da plataforma Preply, só atrás do francês ‘Os Intocáveis’. Tentei contato com os atores, para tentar relembrar a passagem pela Bahia, mas sem o mesmo sucesso da obra.

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