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Ministro australiano pede que pacto das Ilhas Salomão com a China não evolua

Por A Referência

14/04/2022 às 15:47:20 - Atualizado há

A Austrália está em campanha para tentar impedir que um novo acordo de segurança entre as Ilhas Salomão e a China evolua para uma presença militar de Beijing na nação do Pacífico Sul. Tanto que, na quarta-feira (13), o ministro do Desenvolvimento Internacional e do Pacífico australiano, Zed Seselja, viajou à capital do país insular, Honiara, duas semanas após a revelação do pacto, que ainda não foi assinado. As informações são da rede NPR.

Camberra receia que o acordo, que não teve detalhes divulgados, possa ter como consequência a construção de uma base chinesa a menos de dois mil quilômetros do território australiano, já que o país da Oceania atualmente tem relações estremecidas com a nação asiática.

"Pedimos respeitosamente às Ilhas Salomão que considerem não assinar o acordo e consultema família do Pacífico no espírito de abertura e transparência regional, consistente com as estruturas de segurança de nossa região", disse Seselja em comunicado após encontro com o primeiro-ministro Manasseh Sogavare e outros ministros.

Zed Seselja na chegada às Ilhas Salomão na quarta-feira (Foto: Twitter/Reprodução)

Sogavare reiterou que não permitirá que a China construa uma base militar em seu país. Já o governo chinês nega qualquer intenção do gênero no Pacífico Sul.

Ainda na quarta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, declarou em coletiva de imprensa que a cooperação de segurança entre seu país e as Ilhas Salomão "não foi direcionada a terceiros e não contradiz pactos que a nação do Pacífico tem com outros países".

"A Austrália deve respeitar as escolhas soberanas e independentes feitas pela China e pelas Ilhas Salomão e não instigar o confronto", disse Zhao.

Camberra é a principal parceira de desenvolvimento das Ilhas Salomão. Segundo Seselja, em 2022, US$ 119 milhões em apoio devem ser destinados ao país, informou a agência Reuters.

"Congratulamo-nos com as recentes declarações do primeiro-ministro Sogavare de que a Austrália continua sendo o parceiro de segurança preferido das Ilhas Salomão e o compromisso de que seu país nunca será usado para bases militares ou outras instituições militares de potências estrangeiras", disse ele.

A Austrália tem um pacto de segurança bilateral com as Ilhas Salomão, e forças de paz da polícia australiana estão em Honiara desde os distúrbios de novembro. Em seu perfil no Twitter, Seselja, após encontros da agenda, escreveu que "a família do Pacífico demonstrou confiança e força ao responder aos desafios de segurança em nossa região. Trabalhando juntos para restaurar a calma em Honiara".

Presença militar

No final de março, uma carta de intenções vazada indicou que a China teria planos de estabelecer uma base militar no país, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em outros aliados ocidentais no Indo-Pacífico, colocando a pequena nação insular no olho do furacão de um debate tenso sobre o futuro da região.

O documento ainda sugere que o país estaria apto a solicitar a Beijing suporte policial e militar, o que indica que tropas chinesas poderiam intervir internamente na ilha no caso de uma hipotética atmosfera de crise. Também poderia enviar navios de guerra para as ilhas para escalas e reabastecimento de suprimentos, o que levantou especulações sobre a possibilidade de a China estabelecer uma base naval nas ilhas.

"Bom demais para ser verdade"

Na quarta-feira (13), o general dos EUA David Berger, em visita à Austrália, disse que a proposta chinesa de estreitar laços de segurança com as Ilhas Salomão terá restrições. Para o militar, Sogavare pode se arrepender no futuro, informou o jornal britânico Guardian.

"Meus pais me diziam que, se um acordo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é", disse o comandante do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

A ida de Berger à Oceania ocorre em meio a uma série de esforços diplomáticos conduzidos pelos EUA e pela Austrália com o objetivo de impedir o pacto entre a China e as Ilhas Salomão, que poderia permitir visitas regulares da Marinha do Exército de Libertação Popular chinês.

Ele disse que o acordo proposto é "apenas mais um exemplo" da China na busca pela ampliação e expansão da sua influência. E se mostrou preocupado sobre "a maneira como isso acontece e com as consequências para as nações envolvidas".

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China.

Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

"Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão", disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

Fonte: A Referência
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