A janela está aberta?

Às vezes nós perdemos a noção do tamanho do mundo. Faz parte do nosso funcionamento mental tentar simplificar as informações ao nosso redor, para diminuir a carga de pensamentos e focar nas atividades mais próximas. O problema é que podemos simplificar tanto que nossa vida se torna um calendário na parede, com alguns feriados gigantemente estimados e alguns números que passam a dar sentido ao viver. Por isso podemos comemorar nosso aniversário de trinta anos sem jamais perguntar o que de fato foi vivido nesse tempo.

            Do tanto de gente que há no mundo, nós sabemos chamar pelo nome umas cem, talvez duzentas pessoas. Quem conhece mais do que isso, normalmente conhece apenas nomes, e não as pessoas. São cinco, ou talvez dez pessoas que você considera amigo de verdade, daqueles que podem te emprestar dinheiro e ajudar na mudança. Ao longo da vida, uma, quem sabe duas pessoas vão escolher viver ao seu lado.

            Não dá pra conhecer todo mundo, e não podemos visitar todos os lugares bonitos que existem por aí. A questão é que essas pessoas existem e tem nomes e esses lugares estão lá, cada um nesse lugar. Aonde quer que você vá, seu mundo será ali. Mas isso não significa que não existam outros mundos, outros nomes, outras vozes, outros caminhos.

            Nesse exato momento tem uma pessoa extremamente preocupada porque não consegue lembrar se fechou a janela enquanto olha a chuva caindo forte na rua. Alguém está sofrendo por amor, e alguém está amando com sofrimento. Tudo, absolutamente tudo que poderia acontecer, está acontecendo agora. Só não está acontecendo aquilo que não poderia, por falta de causas justas.

            Por que será que são essas as pessoas ao seu lado? Quem poderia prever que sua vida se tornaria isso? Eu não sei, literalmente, mas me parece que o mundo está sendo o que poderia ser, e nós somos a vida dele.