PolĂ­cia FeminicĂ­dio

Especialistas comentam crescimento do feminicídio entre mulheres negras no Brasil

Por Revista Cenarium

11/09/2021 às 22:21:36 - Atualizado hĂĄ

Subnotificação

A soma desses casos retratam o que ela intitula como "catĂĄstrofe silenciosa", isso porque, segundo Lidiany, se os inquéritos policiais não apontarem a perspectiva de feminicĂ­dio isso dificultarĂĄ o trabalho do Ministério PĂșblico. A advogada, jornalista e integrante do Movimento Negro de Manaus, Luciana Santos, também expressa uma anĂĄlise que vai de encontro ao posicionamento da pesquisadora Lidiane.

"Se a gente for pegar não só feminicĂ­dios, mas a violĂȘncia contra a mulher em geral, os casos voltados contra as negras são superiores em relação às brancas e amarelas. Esses nĂșmeros são indicativos, mas não a realidade total, pois muitas vezes o registro da cor da vĂ­tima no Boletim de OcorrĂȘncia não é feito corretamente. Isso é um comum nas delegacias de todos os Estados", dispara Luciana.

Quando se trata de violĂȘncia contra a mulher negra, a ativista atenta que não é possĂ­vel desvincular gĂȘnero, raça e classe social, que por serem questões relacionadas, juntas potencializam a chance da mulher negra ser incluĂ­da como uma das maiores vĂ­timas de violĂȘncia que resulta em morte.

"Considerada uma das partes mais vulnerĂĄveis da população, mulheres negras são as maiores vĂ­timas justamente porque estão na base da pirâmide. VulnerĂĄveis por simplesmente serem mulheres, por serem negras e automaticamente passando por situações de racismo. Quanto mais pobre, mais suscetĂ­vel ela vai estar à margem da proteção do estado", declara Luciana.

Em 2020, duas em cada trĂȘs vĂ­timas de feminicĂ­dio eram mulheres negras (Reprodução/Getty Images)


Especificidades

A advogada aproveita para pontuar sobre vulnerabilidades especĂ­ficas e como as leis precisam estar preparadas e formuladas para entender estas demandas. Ela cita como exemplo a Lei Maria da Penha, que completou 15 anos em agosto. A lei é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das trĂȘs legislações mais avançadas do mundo no combate aos crimes contra as mulheres.

"A Maria da Penha é uma das melhores legislações do mundo, mas serĂĄ que ela consegue abranger todas as necessidades das mulheres negras e também indĂ­genas? Pois elas tĂȘm certas especificidades que não as mesmas se vocĂȘ pensar numa mulher branca, de classe média alta. Temos que pensar como as polĂ­ticas pĂșblicas estão sendo feitas, e talvez precise voltar um pouco mais a essas minorias", explica a ativista.

Caso Geordana

A morte da jovem Geordana Nataly Sales, de apenas 20 anos, morta a facadas na madrugada de 1Âș de setembro, no municĂ­pio de Ananindeua, no ParĂĄ, é um exemplo que integra a lista de mulheres negras que tiveram a vida brutalmente ceifada.

O crime aconteceu durante a madrugada e, segundo informações, o ex-namorado de Geoardana, identificado como LĂșcio Magno Quadros, não aceitava o fim do relacionamento de quatro anos. No momento do encontro, ele teria desferido as facadas contra Geordana. Magno foi preso em flagrante pela PolĂ­cia Civil do ParĂĄ no mesmo dia em que cometeu o crime.

Geordana Nataly Sales, de apenas 20 anos, morta a facadas pelo ex-namorado (Reprodução/Internet)

Dados

Ainda segundo o Atlas da ViolĂȘncia 2021, em dez anos, o percentual de possĂ­veis assassinatos contra mulheres brancas, amarelas e indĂ­genas diminuiu 26,9% no perĂ­odo, apresentando uma queda de 1.636 para 1.196 casos. Dados do 15Âș AnuĂĄrio Brasileiro de Segurança PĂșblica apontam que, em 2020, duas em cada trĂȘs vĂ­timas de feminicĂ­dio eram mulheres negras, o que representou 61,8% das mortes, seguidas de 36,5% brancas, 0,9% amarelas e 0,9% indĂ­genas.

Vale ressaltar que os dados do ano de 2020 abordam o quantitativo de notificações oficiais de violĂȘncia contra meninas e mulheres durante o perĂ­odo da pandemia de Covid-19. Na ocasião, o Estado do Mato Grosso era primeiro do ranking, com média de 3,6 mortes a cada 100 mil mulheres; seguido de Roraima e Mato Grosso do Sul, com trĂȘs feminicĂ­dios por 100 mil mulheres.

As menores taxas ficaram com o Distrito Federal, que apresentou 0,4 mortes por 100 mil; seguido do Rio Grande do Norte, com 0,7 por 100 mil; São Paulo e Amazonas, com 0,8 mortes a cada 100 mil mulheres. Segundo dados publicados na pĂĄgina oficial da Secretaria de Segurança PĂșblica do Estado do Amazonas, (SSP), de janeiro até julho deste ano, cinco casos de feminicĂ­dios foram cometidos em Manaus, porém, os dados não especificaram quantas vĂ­timas seriam ou não negras.

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Jornalista Luciana Pombo

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