PolĂ­tica

Pesquisadores defendem limite a ocupação de cargos civis por militares

Por Agência Câmara

24/08/2021 às 23:43:26 - Atualizado hĂĄ
Segurança pĂșblica - forças armadas - desfile de tanques na Esplanada - Comboio com veĂ­culos blindados e armamentos passa pela Esplanada dos MinistériosMilitares cedidos para cargos civis no governo jĂĄ são 6.157


Na audiĂȘncia pĂșblica da Comissão Especial da Reforma Administrativa (Proposta de Emenda à Constituição 32/20), pesquisadores defenderam limites para ocupação de cargos civis por policiais e militares da ativa. Com base em dados do Tribunal de Contas da União (TCU), o nĂșmero de militares cedidos para cargos civis no governo federal aumentou de 3.515, em 2019, para 6.157 no ano passado. Uma das emendas à reforma administrativa determina que militares passem à reserva ao assumir um cargo ou emprego pĂșblico civil, seja ele permanente ou temporĂĄrio.

A diretora de Programas do Instituto Igarapé, Melina Risso, considera perigoso que a função policial e das Forças Armadas seja acumulada ou compatibilizada com outras funções. "Outra questão é a porta giratória em relação à participação polĂ­tica de membros dessas categorias. A gente tem visto uma mistura bastante perigosa de politização, tanto das polĂ­cias quanto das Forças Armadas", alertou.

O antropólogo e pesquisador da Uerj Robson Rodrigues, que é coronel da reserva da PolĂ­cia Militar do Rio de Janeiro, teme que a tendĂȘncia aumente o corporativismo e prejudique a especialização e o profissionalismo dos policiais militares. "Devemos evitar a politização das instituições militares", defendeu.

Outra preocupação é que alguns estados, de maneira infraconstitucional, tĂȘm categorizado como de natureza militar funções tipicamente civis.

Separação e missão
O deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) defendeu a separação de funções militares e de segurança dos cargos civis. "Nós temos aqui no governo federal uma participação imensa de militares na ativa ocupando cargos civis. Sem dĂșvida alguma haverĂĄ uma contaminação polĂ­tica, isso é natural do ser humano, assim seria em qualquer outro setor. Por isso, a gente tem de separar."

O deputado Coronel Armando (PSL-SC) nega que haja politização nas Forças Armadas ou em militares que ocupem cargos civis. Ele destaca que a prĂĄtica respeita a Constituição. "O militar vem a contribuir trazendo a sua forma de trabalhar, a sua organização e seu espĂ­rito de cumprimento de missão para administração pĂșblica. A politização não existe dentro das Forças Armadas. Então ela não vai existir enquanto um militar ocupar cargo de natureza civil", argumenta.

Coronel Armando acredita que a experiĂȘncia de militares em cargos civis pode ser benéfica para administração pĂșblica. "De maneira nenhuma hĂĄ prejuĂ­zo. A gente leva os valores para um novo ambiente de trabalho e traz em retorno algumas novidades para nossa Força. Isso acaba contribuindo para melhorar."

Gustavo Sales/Câmara dos DeputadosReunião Deliberativa. Dep. Coronel Armando(PSL - SC)Coronel Armando acredita que a experiĂȘncia de militares em cargos civis pode ser benéfica para administração pĂșblica

Meritocracia
Os debatedores se dividiram sobre a possibilidade de a reforma administrativa ser aplicada às carreiras militares e de segurança pĂșblica. Entre os contrĂĄrios, o advogado da União e consultor jurĂ­dico do Ministério da Defesa, Idervânio da Silva Costa, defendeu que os militares possuem objetivos especĂ­ficos e regime jurĂ­dico adequado a suas finalidades. "JĂĄ existe na carreira militar meritocracia e flexibilização de vĂ­nculo funcional, com custo-benefĂ­cio adequado", argumentou.

Ele lembrou ainda que os militares de carreira tĂȘm ingresso exclusivamente por concurso pĂșblico, sendo que os oficiais passam por curso de formação de cinco anos nas academias militares, em regime de internato. JĂĄ os militares temporĂĄrios, que compõem 55% do efetivo, não adquirem estabilidade e permanecem no mĂĄximo por oito anos nas Forças Armadas.

Em contraponto, Melina Risso afirmou que uma pesquisa recente do Instituto Igarapé identificou que, nas polĂ­cias civis e militares, as promoções não são por merecimento, somente por tempo de serviço. "A estruturação e a profissionalização da carreira policial precisa ser feita para valorizar os policiais com salĂĄrio adequado e com polĂ­tica de cargos que seja adequada ao desafio que enfrentam no cotidiano."

No entanto, ela acredita que a gestão das carreiras policiais poderia ser feita por leis orgânicas próprias dos estados, e não na reforma administrativa.

Adicionais e avaliação
O presidente da Associação dos Delegados de PolĂ­cia do Brasil (Adepol), Rodolfo Queiroz Laterza, também argumentou que a reforma administrativa seria incompatĂ­vel com as carreiras de segurança e poderia gerar problemas de estabilidade nas instituições policiais. Como exemplo, ele afirmou que a extinção de adicionais de tempo de serviço poderia prejudicar carreiras que não tĂȘm privilégios e cuja remuneração é baixa. Outra distinção em relação a outros cargos pĂșblicos seria a avaliação de desempenho, que segundo ele é extremamente severa para os policiais.

Laterza ainda demonstrou preocupação com dispositivo da reforma administrativa que, segundo ele, poderia delegar as atividades militares e de segurança pĂșblica para iniciativa privada. "Isso pode tornar inefetivo um serviço que é essencial para o direito à vida, à liberdade, à segurança", alertou.

Robson Rodrigues defendeu uma reforma administrativa que dĂȘ eficiĂȘncia ao serviço de segurança pĂșblica e seja benéfica para os próprios integrantes do sistema de segurança pĂșblica. "As PolĂ­cias Militares espelham o modelo organizacional e o regime jurĂ­dico do Exército. Isso acaba impondo um custo adicional para PM."

Gustavo Sales/Câmara dos DeputadosAudiĂȘncia PĂșblica - Situação dos empregados pĂșblicos na reforma. Dep. Rogério CorreiaPT - MGRogério Correia defendeu estabilidade para servidores civis e militares

Guardas municipais
Representantes de guardas municipais defenderam que a categoria ganhe status de polĂ­cia e seja incluĂ­da no rol de carreiras tĂ­picas de Estado, que na reforma administrativa vão manter a estabilidade e outros direitos.

O dirigente da Comissão Norte e Nordeste de Guardas Municipais (Conneguam), Fernando Lourenço da Silva Neto, lembrou que as guardas municipais jĂĄ foram reconhecidas em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) como parte do sistema de segurança pĂșblica.

Ele ainda observou que os municĂ­pios tĂȘm aumentado os gastos com segurança pĂșblica. Segundo dados dos Fórum Brasileiro de Segurança PĂșblica, as prefeituras gastaram 5,3% a mais com segurança em 2019, na comparação com o ano anterior. JĂĄ os estados tiveram aumento de apenas 0,6%, enquanto a União sofreu queda de 3,8%. No total, 2.423 cidades declararam gastos com segurança em 2019.

O presidente do Sindicato dos Servidores da Guarda Municipal do Rio de Janeiro (Sisguario), Rogério Chagas, lamentou que os guardas municipais ficam à mercĂȘ dos prefeitos, que podem impedir ou restringir sua atuação. "Falta ousadia de encarar o problema. Ou vamos ser guardas ou servidores comuns", comentou.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) defendeu que a estabilidade seja garantida para militares e servidores pĂșblicos civis. "Quem pode dizer se o servidor é necessĂĄrio ou não? Imagine o prefeito determinar se a guarda municipal é necessĂĄria ou não. Todos tĂȘm que ter o direito à estabilidade, que é inerente ao serviço pĂșblico", apontou.

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