Saúde Meio Ambiente

Estudo Inédito Detecta Contaminação de Tubarões por Cocaína no Rio de Janeiro

Pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz revela presença de cocaína e benzoilecgonina em tubarões, apontando impacto ambiental alarmante

Por Jornalista Luciana Pombo

24/07/2024 às 20:35:54 - Atualizado há
Reprodução


Em um estudo inédito no mundo, o Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), detectou a contaminação de tubarões por cocaína e seu metabólito, a benzoilecgonina. A pesquisa identificou a presença de cocaína em 13 tubarões da espécie Rhizoprionodon lalandii, popularmente conhecida como tubarão-bico-fino-brasileiro, cação rola-rola ou cação-frango. Os resultados foram publicados na revista científica Science of The Total Environment e divulgados pela Fiocruz nesta terça-feira (23). Segundo a fundação, os dados chamam atenção para a alta quantidade de cocaína consumida e descartada no mar via esgoto sanitário.

O principal metabólito da substância, a benzoilecgonina, resultante da metabolização da cocaína no organismo, foi encontrado em 12 dos 13 tubarões analisados. As amostras foram coletadas no Recreio dos Bandeirantes, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, entre setembro de 2021 e agosto de 2023, como parte de um esforço para avaliação da saúde ambiental. O objetivo do estudo era acompanhar mudanças no ambiente, tanto as ocorridas de forma natural como pela interferência humana, e seus impactos sobre a vida marinha.

Impacto Ambiental e Saúde Pública

Os pesquisadores explicam que, assim como a análise da presença de vírus e bactérias no esgoto pode identificar a circulação de microrganismos causadores de doenças, a detecção de drogas em animais marinhos pode revelar impactos significativos no ecossistema e na saúde pública. Esta é a primeira pesquisa a encontrar cocaína em tubarões. "No Brasil, estudos já detectaram a contaminação de água e alguns seres aquáticos por cocaína, como mexilhões. Nossa análise é a primeira a encontrar a substância em tubarões", afirmou Enrico Mendes Saggioro, farmacêutico e um dos líderes da pesquisa.

Rachel Ann Hauser-Davis, bióloga e co-líder do estudo, destacou que tubarões e raias são predadores centrais na cadeia alimentar marinha, atuando como espécies sentinelas para detecção de danos ambientais. A contaminação desses animais indica a presença significativa de poluentes no ambiente marinho, o que pode ter repercussões negativas em outras formas de vida, incluindo a humana.

Drogas e Contaminação Marinha

De acordo com o relatório mundial sobre drogas publicado em 2024 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o Brasil está entre os maiores consumidores globais de cocaína. Estudos indicam que a principal via de contaminação marinha é o descarte de resíduos da substância no esgoto que é lançado no mar. Saggioro explica que a presença de cocaína e benzoilecgonina em todos os 13 tubarões analisados sugere uma superexposição dos animais à droga. A cocaína foi detectada em maior concentração nos músculos dos tubarões do que no fígado, o que surpreendeu os pesquisadores e aponta para a alta quantidade da substância no ambiente marinho.

As amostras foram analisadas na Seção Laboratorial Avançada de Santa Catarina (SLAV/SC), ligada ao Laboratório Nacional Agropecuário do Rio Grande do Sul, e conduzidas pelo farmacêutico e bioquímico Rodrigo Barcellos Hoff. Segundo os especialistas, novas pesquisas são necessárias para determinar as consequências exatas dessa contaminação nos tubarões e o possível impacto na saúde humana.

Alerta para Consequências

Rachel Ann Hauser-Davis alertou para a necessidade de estudos específicos para avaliar as consequências da contaminação nos tubarões, incluindo impactos no crescimento, na maturação e na fecundidade dos animais. Os tubarões analisados habitam regiões próximas à costa e não têm características migratórias, o que leva os pesquisadores a acreditar que foram contaminados no litoral carioca. A zona oeste do Rio de Janeiro, área de coleta das amostras, é a mais populosa da cidade, com quase 3 milhões de habitantes, o que contribui para a poluição marinha.

O estudo foi realizado em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto Museu Aquário Marinho do Rio de Janeiro (IMAM/AquaRio) e Cape Eleuthera Institute (Bahamas). A pesquisa foi financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


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