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Política

PM do Rio monitorou políticos e advogado na favela do Jacarezinho, diz jornal

Um relatório da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho, no Rio de Janeiro — palco da maior chacina da história da cidade, quando policiais mataram 27 jovens, um deles menor, em 2021 —, revela que policiais monitoraram a atuação de três políticos e de um advogado defensor dos direitos humanos, segundo reportagem de Felipe Grinberg no jornal O Globo.


Um relatório da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho, no Rio de Janeiro — palco da maior chacina da história da cidade, quando policiais mataram 27 jovens, um deles menor, em 2021 —, revela que policiais monitoraram a atuação de três políticos e de um advogado defensor dos direitos humanos, segundo reportagem de Felipe Grinberg no jornal O Globo.

Elaborado no fim de abril, o relatório faz parte de um conjunto de documentos elaborados por todos batalhões e unidades da PM a pedido do novo comando da corporação. Esses documentos são uma espécie de raio-X de cada região e foram entregues para a nova cúpula da corporação, nomeada em abril pelo governador Cláudio Castro.

Há informações, segundo o jornal, sobre pessoas acusadas de comandarem o tráfico, atividades ilícitas dos criminosos e como seria lavado o dinheiro do crime. Chama atenção os militares afirmarem, sem nenhuma prova ou indício, que o advogado criminalista Joel Luiz Costa, notório defensor dos direitos humanos e fundador do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), atua como “advogado da quadrilha”.

Joel Luiz Costa é advogado e notório defensor dos direitos humanos no Rio de Janeiro (Foto: Instagram)

No documento, a inteligência da PM destaca o número da carteira de identidade (RG) de Costa. O advogado foi um dos coordenadores do Observatório do Cidade Integrada, que tinha como objetivo monitorar denúncias de violações a direitos humanos.

Em seu perfil na rede social X, Costa disse tratar-se de “uma ilação com um inquestionável tom político e de criminalização”, e lembrou que monitorou violações aos direitos humanos, como coordenador do observatório, entre fevereiro e outubro de 2022.

Além disso, segundo Costa, “o relatório ultrapassa a atuação profissional e individualiza a questão, invadindo minha esfera privada, pois não traz o número da inscrição da OAB, e sim o RG”. Ele também lembra que “nenhuma outra, das diversas lideranças de direitos humanos ou política da favela do Jacarezinho, é listada, demonstrando perseguição específica”.

“Ainda que advogado criminal, nunca advoguei para nenhuma das pessoas listadas no relatório como membros de organização criminosa. Isso é facilmente comprovado mediante pesquisa dos meus processos no site do Tribunal de Justiça do Rio”, diz Costa.

“Se o problema é ser ‘advogado da quadrilha’, por que os demais advogados não estão listados? Ou o problema para a PMERJ é minha atuação politica combativa em defesa da favela onde nasci e cresci, e em defesa da comunidade negra do Rio de Janeiro?”

Identificado como “influente” no Jacarezinho, deputado teve 42 votos na comunidade

Segundo O Globo, os três políticos considerados “influentes” na favela pelos militares que elaboraram o relatório são o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL), a ex-deputada estadual Mônica Francisco (PT) e o ex-deputado Sebastião da Costa Cândido, o Tiãozinho do Jacaré (Republicanos).

Policiais no Jacarezinho: militarização é única resposta do governo para problemas sociais na comunidade (Foto: José Lucena)

Mas apenas Tioãozinho do Jacaré, antigo líder comunitário da favela, obteve boa votação na região. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, Flávio Serafini, eleito em 2022 com 71 mil votos, recebeu nas urnas do Jacarezinho apenas 42 votos. Mônica Francisco concorreu a uma vaga de deputada estadual e não foi eleita. Com 23 mil votos, ela ficou com uma das suplências do PSOL, mas na favela recebeu apenas 35 votos.

O deputado Flávio Serafini conversou com o ICL Notícias sobre a menção ao seu nome, que considera “lamentável” e, ao mesmo tempo, reveladora do “comprometimento técnico e ideológico de parte da nossa polícia”:

— O relatório tem uma evidente intenção de criminalizar lideranças comunitárias, defensores de direitos humanos e parlamentares de esquerda. Ele coloca em sequência, em uma suposta atuação de inteligência, os representantes da comunidade que seriam vinculados ao narcotráfico, as lideranças comunitárias, defensores de movimentos sociais. Eu não piso no Jacarezinho há seis anos. Não tive sequer 50 votos lá. Mas o relatório ignora os mais votados da comunidade, os políticos que distribuíram cargos da Ceperj na comunidade e se beneficiaram dessas relações.

De acordo com o deputado, “é um relatório com visível intenção de estabelecer conexões que não existem”.

— Mostra o comprometimento técnico e ideológico de parte da nossa polícia, porque não consegue sequer, numa troca de comando, passar informações verdadeiras e relevantes para aqueles que serão responsáveis por conduzir o policiamento na região pelos próximos anos. É lamentável, já encaminhamos um pedido de esclarecimento para o comando da PM — afirma.

A Polícia Militar disse, em nota divulgada à imprensa, que “os políticos e lideranças locais citados, assim como outros representantes da comunidade, compõem o cenário analisado e, por isso, estão inseridos no contexto da produção do relatório”. Segundo a nota, trata-se de “uma análise de cenário” para “orientar as ações das novas equipes das unidades”.

As contratações da Fundação Ceperj, citadas por Serafini, são alvo de investigação do Ministério Público Eleitoral, que apura a contratação de pessoas que, depois, foram designadas para fazer campanhas em 2022 para políticos da região em eventos no Jacarezinho. Nenhum desses nomes foi citado no relatório da Polícia Militar. Este caso deve ser julgado na próxima sexta-feira pelo Tribunal Regional Eleitoral. O governo de Cláudio Castro nega que tenha usado os programas com fins eleitorais.

O relatório da UPP do Jacarezinho revela que há apenas 44% dos militares previstos trabalhando na unidade — faltam, segundo o documento, 303 policiais. De acordo com o relatório, 307 coletes balísticos estão vencidos.

 

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