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"A Terceira Guerra Mundial"

Há um fenômeno no mínimo curioso nas mídias sociais toda vez que um país ou uma região é protagonista ou alvo de alguma ação militar mais, digamos, “fora de controle”.

Por Da Redação

14/04/2024 às 12:33:53 - Atualizado há

Há um fenômeno no mínimo curioso nas mídias sociais toda vez que um país ou uma região é protagonista ou alvo de alguma ação militar mais, digamos, “fora de controle”. Rapidamente as palavras de busca ou as hashtags que dominam as redes são: “terceira guerra mundial.” Foi assim em 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e quando todos vimos aquele comboio imenso, de quilômetros e quilômetros, dos blindados russos no território ucraniano, em direção à Kiev. Foi assim quando assistimos, ao vivo, aos ataques do Estado de Israel em retaliação aos ataques do Hamas em 2023, levando à destruição televisionada da Faixa de Gaza e a milhares de mortos, sobretudo crianças. E não foi diferente agora com os ataques do Irã com seus drones e mísseis em direção à Israel. De fato, pelo menos nas bolhas virtuais, diante da quase sempre iminente catástrofe de uma terceira guerra, todas e todos parecemos tomados por um frenesi coletivo do “tempo do fim”, como definiu o filósofo Günther Anders nos anos 1940.

Anders se referia ao tempo de aniquilação da humanidade, uma vez diante da catástrofe dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial e principalmente diante das bombas de Hiroshima e Nagasaki, que inauguraram uma “Era Atômica” sem fim, cujo fim mais provável seja a própria destruição da humanidade como a conhecemos. Ora, a ideia de “tempo do fim” ou, de alguma maneira, um medo generalizado da humanidade com uma aniquilação completa é um medo que existe desde os traumas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que matou, em quatro anos anos, mais de 10 milhões de pessoas, mais gente do que em todas as guerras anteriores somadas, considerando o cenário europeu e suas extensões históricas e imperialistas.

De fato, a I Guerra causou não apenas uma devastação material e uma carnificina sem precedentes, mas mostrou ao mundo (e a todo mundo) como somos capazes das piores coisas, principalmente nos anularmos, matarmos, aniquilarmos mutuamente. Não foi à toa que com a catástrofe da Primeira Guerra, uma série de interpretações pessimistas tomaram conta da literatura, das artes, da psicanálise e da vida em geral, nos levando a disputas políticas e mundiais sem precedentes: A URSS representando uma alternativa à barbárie capitalista e imperialista e as mambembes e quase sempre pseudo-democracias liberais flertando com o que há de pior no reacionarismo do século XX: estavam abertas as portas para o Fascismo e para a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou direta e indiretamente mais de 70 milhões de seres humanos em 6 anos. Ora, o que nos interessa aqui é pensar que a despeito da terminologia, mesmo que a Segunda Guerra tenha efetivamente acabado quando os EUA jogaram duas bombas atômicas na cabeça de milhões de japoneses em setembro de 1945, uma outra guerra se anunciava, até porque ela já era guerra anterior e dentro de outra guerra. Em outras palavras, as democracias liberais que venceram Hitler e a alemanha nazista com a fundamental vitória do exército vermelho no leste, logo se voltaram contra os mesmos soviéticos, levando a uma “Guerra Fria” que durou no mínimo até 1991, quando o mundo soviético desabou diante do (neo) liberalismo triunfante dos EUA. Contudo, quantos não foram os momentos de “quase fim” ao longo da “Guerra Fria”?! “Crise dos Mísseis” (1962); Ditaduras sanguinárias na América Latina; guerras civis no continente africano; a “Guerra das Coreias”, a famigerada “Guerra do Vietnã” (1955-1975), um grande cemitério de jovens americanos e tantos outros conflitos que fizeram alguns analistas simplesmente constatarem: a “Guerra Fria” foi a “Terceira Guerra Mundial”.

De fato, se buscarmos padrões técnico-políticos para a “devida” caracterização do que significa nomear a “Terceira Guerra”, talvez estejamos buscando no lugar errado. Do fim da “Guerra Fria” até hoje, o que vemos é um mundo invariavelmente cheio de guerras: “Guerra ao Terror”, dos EUA contra parte do mundo islâmico, inventando mentiras e invadindo, com transmissão ao vivo, o Iraque de Saddam Hussein em 2003. “Guerra ao Terror” que acabou se desdobrando na ocupação militar de 20 anos no Afeganistão pelas tropas americanas. “Guerra na Síria” envolvendo as potências Rússia e EUA numa guerra intrincada que envolve o “Estado Islâmico” e alfinetadas sem fim entre Vladimir Putin e a OTAN. E mais recentemente, a Guerra na Ucrânia e a guerra na Faixa de Gaza e Oriente Médio deixam o mundo atônito e fazem as redes “vibrarem.”

Com efeito, o frenesi coletivo não é novo, afinal deve ter ficado evidente para todo mundo aqui que as guerras nunca cessaram. Se elas têm ou terão o caráter generalizado de uma “Terceira Guerra” ou não, penso ser uma questão falsa. Em outras palavras, no mínimo desde a Primeira Guerra vivemos uma guerra constante e generalizada de um mercado mundial unificado e globalizado nos interesses da indústria das armas e das tecnologias, vide as ameaças do bilionário mimado Elon Musk contra o Brasil. De muitas maneiras, as grandes fortunas das big techs já ultrapassam e muito as linhas dos Estados Nacionais. Talvez a “Terceira Guerra” seja exatamente essa: Musk, Bezos e Cia contra a humanidade. Só precisamos saber, mais uma vez, se combinaram com os chineses. Em todo caso, voltando ao termômetro das redes, os memes e frases de efeito sobre “o fim de tudo” envolvem não apenas o medo e o trauma de um mundo invariavelmente cheio de guerras e sempre “fora de controle”, mas também um foro coletivo de desespero, desesperança e extremamente dependente das mesmas “plataformas” que já são a própria “Terceira Guerra Mundial.” Há nesse termômetro, mesmo que com finas máscaras de humor e crítica, o bom e velho “Mal-estar na Civilização”. Uma coisa é certa, a guerra já começou.

Fonte: ICL Notícias
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