Política Colunistas ICL

O assassinato de famintos em Gaza e a falta de pudor do Jornal Nacional

Por muitas vezes, a imprensa brasileira foi cúmplice em episódios vergonhosos que marcaram história no noticiário local e também internacional.

Por Da Redação

01/03/2024 às 07:52:25 - Atualizado há
Foto: Reprodução internet

Por muitas vezes, a imprensa brasileira foi cúmplice em episódios vergonhosos que marcaram história no noticiário local e também internacional. No âmbito doméstico, logo vem à lembrança a campanha sensacionalista contra Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio; o apoio inicial ao golpe militar de 1964; a parceria nas atrocidades jurídicas da Lava Jato e a naturalização do extremista Jair Bolsonaro, que facilitou sua chegada ao poder.

No campo internacional, a imprensa local fez várias manchetes elogiosas a Hitler, no início de sua trajetória; apoiou o morticínio promovido pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã e avalizou a falsa versão do governo norte-americano de que o Iraque foi o responsável pelo ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001.

A nova vergonha vergonha em curso é a cobertura do massacre que Israel impõe à população civil de Gaza, usando os métodos mais cruéis de extermínio contra mulheres, crianças e doentes. Desde 7 de outubro, quando os terroristas do Hamas invadiram Tel Aviv, matando mais de mil pessoas e fazendo reféns cerca de 200, os grandes veículos de mídia minimizam a matança promovida em território palestino pelo governo de Benjamin Netanyahu.

Ontem, testemunhas relataram a ação de militares isralenses que atiraram contra palestinos famintos na fila da comida. Atingidas pelos disparos ou pisoteadas pela multidão que fugiu do ataque, 112 pessoas morreram.

O episódio chocou o mundo, mas não os responsáveis pelo principal telejornal brasileiro..

Líder de audiência, o Jornal Nacional, chamou dessa forma a notícia em sua abertura, na voz de Renata Vasconcelos: “Um tumulto na entrega de ajuda a palestinos deixa dezenas de mortos e feridos na Faixa de Gaza”. Isso mesmo, um “tumulto” foi o motivo das mortes, para o JN. Aparentemente um mero problema de logística causou a tragédia.

Na apresentação da matéria, o mesmo “tumulto” voltou a ser acusado pelas mortes. Nos 3m30 da reportagem, a fala do porta-voz do governo de Israel prevaleceu amplamente e apenas três frases foram concedidas a autoridades que acusaram as forças israelenses pelo massacre, rápidas citações ao Hamas,a Mahmoud Abbas, embaixador palestino nas Nações Unidas. Mais de 90% do tempo foi dedicado a desviar o foco do horror causado pela matança.

O jornal Estado de São Paulo seguiu esse caminho ignominioso e estampou a chamada na primeira página segundo a qual “Morte na fila da ajuda em Gaza trava possível trégua, diz Biden”. O texto abaixo começa dizendo que “segundo Israel, vítimas morreram pisoteadas”.

O Globou optou por caminho diferente do JN e manchetou que “Mais de cem palestinos são mortos ao buscar ajuda humanitária” e, de forma correta, cita no texto que Hamas e testemunhas acusam ataque a tiros de Israel.

A abordagem mais condizente com a crueldade do episódio foi a da Folha de São Paulo, que não teve meias palavras: “Israel atira em multidão à espera de comida em Gaza”.

Infelizmente, como sabemos, a maior parte da população brasileira se informa através da TV. O número de leitores que buscarão pela leitura nos jornais impressos ou mesmo redes sociais os detalhes do assassinato de palestinos na fila da comida é bem menor do que o número de telespectadores que assistiram ontem a apresentadora e a repórter do JN se desdobrando para minimizar o fato.

E assim, mais uma vez, gigantes da imprensa nacional (a TV Globo e o Estadão) atuam para desinformar o público brasileiro sobre um importante momento da história.

Pode-se dizer que são cúmplices da barbárie?

 

 

Fonte: ICL Notícias
Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo