O presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva exonerou o diretor-adjunto da AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin), Alessandro Moretti, em meio a uma investigação sobre espionagem ilegal durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme publicado no DiĂĄrio Oficial da União nesta terça-feira (30).
A PolĂcia Federal (PF) investiga Moretti por supostamente fazer parte de uma rede de espionagem ilegal a favor de Bolsonaro e seu cĂrculo Ăntimo.
A demissão de Moretti foi antecipada pelo próprio Lula mais cedo. O presidente declarou que o diretor adjunto da Abin perderia o cargo se tivesse a culpa "comprovada".
A investigação representa mais uma possĂvel frente legal para Bolsonaro, que enfrentou vĂĄrios processos judiciais desde que perdeu as eleições presidenciais em outubro de 2022 e foi condenado a oito anos de inelegibilidade por "abuso de poder".
Na segunda-feira, a PF cumpriu nove mandados de busca em vĂĄrios estados. Especificamente, realizou buscas na casa e no escritório de Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador pelo Rio de Janeiro e segundo dos quatro filhos homens do ex-presidente.
Os agentes também realizaram buscas em uma residĂȘncia onde Jair Bolsonaro e seus trĂȘs filhos mais velhos estavam em Angra dos Reis, cidade balneĂĄria localizada a cerca de 150 km do Rio.
Carlos Bolsonaro é suspeito de ser "membro do nĂșcleo polĂtico de uma suposta organização criminosa" que teria sido formada dentro da Abin, segundo documentos judiciais.
O ex-presidente se disse "perseguido" pelo governo atual, acusações que Lula classificou como "bobagem", nesta terça-feira, em entrevista à rĂĄdio CBN Recife.
"O governo brasileiro não manda na PolĂcia Federal. Muito menos o governo brasileiro manda na Justiça", acrescentou.
Quando questionado sobre sua confiança na equipe atual da Abin, Lula disse: "A gente nunca estĂĄ seguro". No entanto, afirmou que o atual diretor da agĂȘncia, Luiz Fernando CorrĂȘa, é "uma pessoa que eu tenho muita confiança".
Moretti serĂĄ substituĂdo no cargo de diretor adjunto da agĂȘncia por Marco Cepik, que vai deixar o comando da Escola de InteligĂȘncia da Abin.
Segundo a PF, os investigados podem ser considerados responsĂĄveis "pelos crimes de invasão de dispositivo informĂĄtico alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informĂĄtica ou telemĂĄtica sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei".
As buscas de segunda-feira se somam a outras 21 realizadas na quinta-feira, quando foram realizadas operações na casa e no escritório de Alexandre Ramagem, chefe da Abin durante o governo Bolsonaro (2019-2022) e hoje deputado pelo Partido Liberal (PL) do ex-presidente.
A polĂcia levou computadores e telefones de sua residĂȘncia em BrasĂlia.
A Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) citou mensagens de WhatsApp em que uma assessora de Carlos Bolsonaro, também alvo de uma busca na segunda-feira, pediu a Ramagem, então chefe da Abin, "ajuda" em investigações contra o ex-presidente e trĂȘs de seus filhos.
Os investigadores suspeitam que a agĂȘncia usou um software israelense, o FirstMile, que rastreia dados de geolocalização de smartphones, para ouvir ilegalmente centenas de polĂticos e figuras pĂșblicas durante a presidĂȘncia de Bolsonaro (2019-2022).
Entre os supostos espionados estariam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PMDB-RJ) e o ex-governador do CearĂĄ Camilo Santana (PT-CE), que agora é ministro da Educação do presidente Lula.
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