PolĂ­tica Movimento Negro Unificado

Morte de jovem que marcou movimento negro ainda tem questões em aberto

Por Agência Brasil

28/12/2023 às 09:45:22 - Atualizado hĂĄ
Foto: Reprodução internet

A brutalidade do assassinato ocorrido em maio de 1978 impulsionou, nos meses seguintes, a criação do Movimento Negro Unificado (MNU). Em 7 de julho aconteceu o histórico protesto nas escadarias do Theatro Municipal, no centro da cidade de São Paulo. Foi em uma das atividades preparatórias para essa manifestação que a advogada e escritora Lenny Blue de Oliveira se aproximou da organização. "Uma semana antes, nós fomos panfletar ali no miolo [do centro histórico paulistano], onde era a rua Direita", lembra.

"O caso Robson foi o fundamento daquele grupo em 7 de julho. O movimento negro foi criado antes, mas a pedra basilar é a base da violĂȘncia cometida contra o Robson", acrescenta a ativista, que integra até hoje o MNU.

A partir da violĂȘncia sofrida pelo jovem, o movimento negro, segundo Lenny, denunciou o sistema prisional e a polĂ­cia como instituições racistas, destinada essencialmente a perseguir a população negra. "O assassinato de Robson casou com esse princĂ­pio, todo preso como um preso polĂ­tico", enfatiza.

O sofrimento de Robson deixava claro que a tortura não era reservada apenas aos que faziam oposição polĂ­tica à ditadura militar. "A polĂ­cia depois de uma semana pegou somente ele, sendo que eram um grupo de vĂĄrias pessoas que pegaram uma caixa de frutas. Mas somente ele sofreu a sevĂ­cia, não por coincidĂȘncia o Ășnico preto retinto do grupo", diz o pesquisador Lucas Scaravelli.

Desarquivamento difĂ­cil

Mesmo décadas depois do crime e sem nenhum sigilo decretado oficialmente, o pesquisador diz que enfrentou diversos obstĂĄculos para chegar até os arquivos do caso. "Não foi fĂĄcil, teve umas idas e vindas", conta sobre os obstĂĄculos que surgiam com justificativas burocrĂĄticas "Nos foi impedido vĂĄrias vezes o cadastro [para poder consultar os documentos], sem nenhuma justificativa, eu tenho a sequĂȘncia de e-mails das negativas do tribunal do jĂșri", detalha.

Foi preciso recorrer a juĂ­zes e promotores para, por meio da influĂȘncia dessas pessoas, finalmente chegar aos arquivos. "Essas pessoas conseguiram fazer o desarquivamento do processo por um tempo limitado", diz. Para conseguir manipular o material, Scaravelli recorreu ao CPDOC, "que reĂșne pessoas lĂĄ de Guaianases, da periferia, que jĂĄ tĂȘm uma formação em história e ciĂȘncias sociais, nas ĂĄreas humanas, e com essa pesquisa em arquivos".

Pequena vitória

Apesar do caso ter ocorrido ainda durante a ditadura, os policiais acusados de envolvimento no caso acabaram exonerados da polĂ­cia após a condenação criminal. "Embora continuem com sua vida civil preservadas, é uma vitória. Eu estou olhando para essa perspectiva do copo cheio", avalia o pesquisador, ao comparar o caso com de ativistas polĂ­ticos assassinados pela repressão do regime. "Zuzu Angel, Vladimir Herzog, a famĂ­lia Telles, entre outros, se arrastam na Justiça ainda hoje, sem nenhuma vitória concreta e sem a finalização do trânsito em julgado".

"Foi uma vitória os policiais terem sido afastados", reitera Lenny sobre a punição aos policiais José Maximino Reis, José Pereira de Matos e ao delegado Luiz Alberto Abdalla, condenados pela morte, mas que não chegaram a cumprir pena de prisão.

"A gente tem que relembrar porque isso mostra que as coisas não mudaram, que o racismo ficou mais técnico e mais abrangente", acrescenta a militante ao destacar que o caso de Robson não foi Ășnico durante a ditadura e que situações semelhantes ainda se repetem no Brasil.

"A gente chama de democrĂĄtico [o regime pós 1988], embora a gente não viva a integridade do significado da democracia, nem no sentido grego, nem no sentido moderno", enfatiza Scaravelli.

Em 1996, a viĂșva de Robson, Sueli, recebeu uma indenização pela morte.

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