"O caso Robson foi o fundamento daquele grupo em 7 de julho. O movimento negro foi criado antes, mas a pedra basilar é a base da violĂȘncia cometida contra o Robson", acrescenta a ativista, que integra até hoje o MNU.
A partir da violĂȘncia sofrida pelo jovem, o movimento negro, segundo Lenny, denunciou o sistema prisional e a polĂcia como instituições racistas, destinada essencialmente a perseguir a população negra. "O assassinato de Robson casou com esse princĂpio, todo preso como um preso polĂtico", enfatiza.
O sofrimento de Robson deixava claro que a tortura não era reservada apenas aos que faziam oposição polĂtica à ditadura militar. "A polĂcia depois de uma semana pegou somente ele, sendo que eram um grupo de vĂĄrias pessoas que pegaram uma caixa de frutas. Mas somente ele sofreu a sevĂcia, não por coincidĂȘncia o Ășnico preto retinto do grupo", diz o pesquisador Lucas Scaravelli.
Mesmo décadas depois do crime e sem nenhum sigilo decretado oficialmente, o pesquisador diz que enfrentou diversos obstĂĄculos para chegar até os arquivos do caso. "Não foi fĂĄcil, teve umas idas e vindas", conta sobre os obstĂĄculos que surgiam com justificativas burocrĂĄticas "Nos foi impedido vĂĄrias vezes o cadastro [para poder consultar os documentos], sem nenhuma justificativa, eu tenho a sequĂȘncia de e-mails das negativas do tribunal do jĂșri", detalha.
Foi preciso recorrer a juĂzes e promotores para, por meio da influĂȘncia dessas pessoas, finalmente chegar aos arquivos. "Essas pessoas conseguiram fazer o desarquivamento do processo por um tempo limitado", diz. Para conseguir manipular o material, Scaravelli recorreu ao CPDOC, "que reĂșne pessoas lĂĄ de Guaianases, da periferia, que jĂĄ tĂȘm uma formação em história e ciĂȘncias sociais, nas ĂĄreas humanas, e com essa pesquisa em arquivos".
Apesar do caso ter ocorrido ainda durante a ditadura, os policiais acusados de envolvimento no caso acabaram exonerados da polĂcia após a condenação criminal. "Embora continuem com sua vida civil preservadas, é uma vitória. Eu estou olhando para essa perspectiva do copo cheio", avalia o pesquisador, ao comparar o caso com de ativistas polĂticos assassinados pela repressão do regime. "Zuzu Angel, Vladimir Herzog, a famĂlia Telles, entre outros, se arrastam na Justiça ainda hoje, sem nenhuma vitória concreta e sem a finalização do trânsito em julgado".
"Foi uma vitória os policiais terem sido afastados", reitera Lenny sobre a punição aos policiais José Maximino Reis, José Pereira de Matos e ao delegado Luiz Alberto Abdalla, condenados pela morte, mas que não chegaram a cumprir pena de prisão.
"A gente tem que relembrar porque isso mostra que as coisas não mudaram, que o racismo ficou mais técnico e mais abrangente", acrescenta a militante ao destacar que o caso de Robson não foi Ășnico durante a ditadura e que situações semelhantes ainda se repetem no Brasil.
"A gente chama de democrĂĄtico [o regime pós 1988], embora a gente não viva a integridade do significado da democracia, nem no sentido grego, nem no sentido moderno", enfatiza Scaravelli.
Em 1996, a viĂșva de Robson, Sueli, recebeu uma indenização pela morte.