SaĂșde Brasil

Novembro Azul: preconceito ainda é obstáculo para a prevenção do câncer de próstata

Por Brasil 61

14/11/2023 às 05:02:35 - Atualizado hĂĄ
Foto: Reprodução internet

O câncer de próstata é o 2Âș tipo de câncer mais comum entre homens, atrĂĄs apenas dos tumores de pele não-melanoma. No entanto, 1 em cada 7 indĂ­viduos do sexo masculino no Brasil ainda teme o exame de toque — o mais indicado para avaliar a saĂșde da próstata. O preconceito é a principal barreira para a adesão às polĂ­ticas pĂșblicas de saĂșde do homem

Os nĂșmeros divulgados são de um levantamento acerca da percepção masculina sobre saĂșde, conduzido pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a cada 38 minutos morre um brasileiro vĂ­tima do câncer de próstata. Para o triĂȘnio 2023-2025, a entidade estima a ocorrĂȘncia de 71.730 novos casos.

De acordo com o médico endocrinologista e pesquisador FlĂĄvio Cadegiani, questões estruturais, como o machismo profundamente enraizado, são um verdadeiro obstĂĄculo em um paĂ­s onde o exame clĂ­nico como o toque retal é de suma importância, inclusive por conta da dificuldade de se realizar exames de sangue e de imagem.

Cadegiani reforça que o exame deve ser repetido anualmente por homens acimas dos 40 anos. O preconceito com o toque retal atrasa o diagnóstico de próstata. Quando os sintomas começam a aparecer — mais comumente dificuldade de urinar ou presença de sangue na urina —, é sinal de que o câncer jĂĄ estĂĄ muito avançado.

"Quando vocĂȘ diagnostica com câncer de próstata por um toque retal, a chance de cura é muito maior do que quando a pessoa começa a apresentar outros sintomas ou descobre a doença devido aos de alguma metĂĄstase", diz o pesquisador.

O jornalista Sérgio Riede foi diagnosticado com câncer de próstata em 2019. Era assintomĂĄtico e realizava anualmente a coleta de sangue. Para contar sua experiĂȘncia e conscientizar outros homens sobre a importância do tratamento, Riede escreveu o livro "Câncer, Eu? – Memórias Alegres de um Medo Profundo". A obra conta desde o diagnóstico, preparativos para a cirurgia, o pós-operatório e a recuperação do jornalista.

"Se eu não fosse uma pessoa que fizesse exames regularmente, possivelmente eu teria um câncer mais problemĂĄtico, que atingiria outras partes — e com um tratamento muito mais difĂ­cil", relata.

Riede conta que sua escrita até mesmo salvou vidas. Após ler sobre sua história de recuperação, seis de seus amigos resolveram realizar o teste e descobriram o câncer de próstata em estĂĄgio inicial.

"Eu e todos eles estamos com a doença totalmente controlada, graças ao diagnóstico precoce", conta.

A famĂ­lia do servidor pĂșblico Rubens Andrade, 45 anos, tem histórico de câncer de próstata. Ele conta que o avô e o irmão mais velho foram diagnosticados com a doença. Desde então, Rubens realiza o check-up anualmente.

"Eu acho que foi criado ao longo dos anos um mito cultural sobre isso que se o homem fizer o exame do toque, o exame com urologista, vai ferir sua integridade. Então isso feriria sua vida sexual. Na verdade, o toque salva a vida do homem — e não interfere em nada a sua masculinidade e na vida sexual dele", afirma.

Para Paulo Milione, psicólogo clĂ­nico e neuropsicólogo, os prejuĂ­zos deste preconceito também se estendem ao campo da saĂșde mental.

"O homem tem um temor de falar das suas dores existenciais. Diante disso, questões emocionais tomam uma dimensão e provocam no sujeito um sofrimento psĂ­quico muito grande, que acaba por atravessar das suas questões sexuais", diz.

PolĂ­ticas pĂșblicas

Para FlĂĄvio Cadegiani, faltam polĂ­ticas pĂșblicas mais abrangentes para a detecção precoce. O médico considera crucial adotar uma abordagem mais proativa em termos de detecção precoce por meio de polĂ­ticas pĂșblicas. Se pensado de forma pragmĂĄtica, além dos aspectos mais subjetivos da saĂșde, a medida reduziria os custos na saĂșde pĂșblica por reduzir a necessidade de tratamentos adicionais.

"Novembro Azul deveria ser obrigatório", finaliza. "Infelizmente, no Brasil, a saĂșde pĂșblica para o homem se resume apenas à câncer de próstata, sendo que o paĂ­s é campeão de um dos cânceres mais raros do mundo, o de pĂȘnis".

Ainda conforme o pesquisador, minorias como homens que fazem sexo com homens, não-cis e trans, homens não brancos e homens com obesidade são ainda menos acolhidos, investigados e tratados.

"São, portanto, inĂșmeros os problemas relacionados à saĂșde do homem causados pelo mal do machismo estrutural, que nesse caso se volta contra os próprios homens nas mĂșltiplas negligĂȘncias de saĂșde", completa.

Fonte: Brasil 61
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