Geral Oriente Médio

Taleban proíbe salões de beleza femininos no Afeganistão

O governo talibã tem na repressão de gênero uma de suas mais autoritárias marcas.

Por Da Redação

04/07/2023 às 18:52:36 - Atualizado há

O governo talibã tem na repressão de gênero uma de suas mais autoritárias marcas. A medida mais recente nesse sentido foi uma ordem para o fechamento dos salões de cabeleireiro e estabelecimentos de beleza femininos no Afeganistão, resultando em mais restrições para as mulheres no país. As informações são da agência Associated Press.

De acordo com o porta-voz do Ministério do Vício e da Virtude, Mohammad Sidik Akif Mahajar, as empresas têm um prazo de um mês para cumprir a ordem, a partir de 2 de julho, quando foram notificadas sobre a mudança.

O órgão governamental emitiu uma carta em 24 de junho transmitindo uma ordem verbal do principal líder do TalebanHibatullah Akhundzada. A proibição abrange a cidade de Cabul e todas as províncias, exigindo que os salões de todo o país encerrem suas operações com um aviso prévio de um mês. Após esse período, os salões devem fechar e apresentar um relatório de encerramento. A carta não fornece razões para a proibição.

Rosto de afegã refletido no retrovisor de viatura (Foto: National Archives/Reprodução)

No Afeganistão, desde a tomada do poder central pela organização extremista, mulheres não podem estudar, trabalhar nem sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas inclusive contribui para o empobrecimento da população afegã.

Raihan Mubariz, um maquiador, expressou sua preocupação à rede afegã Tolo News, dizendo: “Com os homens desempregados, as mulheres são forçadas a trabalhar em salões de beleza para sustentar suas famílias. Se esses salões forem proibidos, o que podemos fazer?”.

Outra maquiadora também compartilhou sua perspectiva, afirmando: “Se os homens da família tiverem empregos, não precisaremos sair de casa. Mas o que devemos fazer? Devemos morrer de fome? É isso que você quer?”.

Na terça-feira, a ONU (Organização das Nações Unidas), manifestou seu envolvimento com as autoridades afegãs na tentativa de reverter a proibição dos salões de beleza. A missão da ONU no Afeganistão, conhecida como Unama, utilizou o Twitter para fazer um apelo direto ao Taleban, solicitando a revogação do decreto.

A mensagem enfatizou o impacto negativo dessa nova restrição aos direitos das mulheres: "Essa nova restrição aos direitos das mulheres terá um impacto negativo na economia e contradiz o apoio declarado ao empreendedorismo feminino", afirmou.

A ONU ressaltou a importância econômica dessa atividade e o potencial empreendedor das mulheres, destacando a contradição existente.

Embora tenha prometido moderação no início, o Taleban se mostrou mais engajado em enterrar qualquer resquício de progresso democrático, e a misoginia é parte desse processo. Com o esvaziamento em agosto de 2021 da base militar de Bagram, que durante vinte anos foi o centro do poder militar dos EUA e seus aliados no Oriente Médio, os talibãs impuseram o terror e a repressão decorrentes de uma abordagem radical da lei islâmica, a 'Sharia'.

No último dia 25, Akhundzada, emitiu uma mensagem totalmente desconectada da realidade, na qual ressalta as iniciativas de seu governo para melhorar a situação das mulheres no Afeganistão. Ele classificou a rotina das afegãs como "confortável e próspera".

Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um "ambiente seguro".

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas. Mulheres também foram proibidas de trabalhar para ONGs, medida que afetou inclusive a ajuda humanitária fornecida pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

Fonte: A Referência
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