Acidente aconteceu no dia 27 de abril, no Pilarzinho, e tudo foi registrado por uma câmera de segurança. PM disse que vai apurar a conduta dos policiais. Homem é fechado por carro da Polícia Militar em acidente em Curitiba
A família de um trabalhador da construção civil busca Justiça pelo acidente que ele sofreu. Francisco Soares Santos, de 55 anos, foi atingido por um carro da Polícia Militar (PM) e, segundo familiares, pode não conseguir mais trabalhar por isso.
O acidente aconteceu no dia 27 de abril, na Rua Guy de Maupassant, no bairro Pilarzinho, em Curitiba. Tudo foi registrado por uma câmera de segurança. A PM disse que abriu investigação para apurar a conduta dos policiais.
Francisco seguia de bicicleta quando foi fechado por um carro da PM. Com o impacto, ele bateu em um caminhão estacionado.
“Ele voltava do trabalho. Justamente naquele dia, ele foi de uma obra para a outra de bicicleta. Passou pelos policiais duas vezes e, na terceira vez, os PMs foram na frente e fecharam ele contra o caminhão”, contou Francislaine Soares Santos, a filha de Francisco.
Segundo a jovem, a família descobriu que, no momento do acidente, os policiais estavam atrás de suspeitos de tráfico de drogas na região.
“Algumas testemunhas nos contaram que eles estavam fazendo abordagens a traficantes uma quadra acima do acidente. Mas meu pai não tinha nada a ver com a situação, sequer sabia disso”.
'PMs foram na frente e fecharam ele contra o caminhão', disse a filha da vítima.
Reprodução/Câmera de Segurança
Informações confusas
A filha afirma que os policiais demoraram a chamar o socorro após o acidente.
“O acidente aconteceu por volta das 16h e os bombeiros foram chamados uma hora depois. Além disso, sabemos que quando acontece um acidente ninguém deve mexer no corpo da vítima. Testemunhas disseram que os policiais puxaram meu pai por conta própria”.
Francisco foi encaminhado ao hospital e a família soube que ele havia se acidentado cerca de quatro horas depois.
“A gente foi saber que ele tinha sofrido acidente depois das 20h. E descobrimos por conta, ligando para todo mundo, porque ninguém nos avisou o que tinha acontecido e onde ele estava”.
A partir disso, os familiares começaram a procurar por informações e foram conseguindo, pouco a pouco, juntar as peças do quebra-cabeça. Segundo a família, vários elementos foram alterados pelos policiais.
“Os policiais disseram que tinha um carro na frente da viatura, que eles foram desviar, meu pai passava e acabou atingido. Só que, no boletim de ocorrência do acidente, o policial deu nome errado, colocaram informação errada e números trocados para a gente não conseguir acessar”.
Homem caiu após bater em caminhão estacionado.
Reprodução/Câmera de Segurança
Câmera de segurança
Pouco tempo depois do acidente, a família descobriu que uma câmera de segurança de uma casa, bem em frente ao local onde o carro da PM atingiu o ciclista, registrou tudo.
“Isso veio para surpreender os policiais. Porque eles de fato não imaginavam que tinha uma câmera de segurança”.
Francislaine contou que um capitão da PM, que tinha oferecido ajuda à família, desapareceu depois que ela disse a ele que tinham conseguido imagens do acidente.
“Ele ofereceu ajuda com dinheiro, depois com alimentos. Quando descobri o vídeo, contei e ele desapareceu. Tentou acobertar porque sabia a verdade, embora tenha dito que não sabia”.
Quando tentaram procurar a PM para conseguir o boletim de ocorrência do acidente, os familiares de Francisco encontraram mais informações confusas. Francislaine disse não entender o motivo do que aconteceu.
“No BO dizem que meu pai estava de moto, inventaram até uma placa de moto. Sinceramente, não tem como entender o que eles fizeram. Se não tiveram a intenção era mais fácil falar, assumir o erro, mas preferiram esconder”.
Francisco foi para a casa, mas família teme sequelas.
Arquivo Pessoal
Do hospital para casa
De acordo com a família, Francisco fraturou a coluna, teve seis costelas quebradas e precisou de uma cirurgia para retirar o baço. Após oito dias internado, Francisco recebeu alta, mas antes disso, a filha do operário descobriu que a situação do pai pode ser grave.
“Quando estava na UTI, o médico disse que ele jamais voltará à vida normal, por conta das lesões que teve. Por enquanto ainda é incerto o futuro dele. Dependemos do laudo médico do ortopedista para dizer sobre a coluna, aí saberemos se ele vai poder voltar ou não”.
Como é trabalhador autônomo, Francisco está sem poder atuar e, com isso, sem poder sustentar a família.
“Estamos ajudando como podemos, eu e uma tia minha. Mas não temos como ajudar muito, por isso até criamos uma vaquinha para arrecadar dinheiro, porque estamos muito preocupados com o futuro dele”.
Segundo a família, até o momento o homem não recebeu nenhuma ajuda e ninguém da PM o procurou novamente.
A Polícia Militar não respondeu aos questionamentos da reportagem. Em nota, a PM informou apenas que o Regimento de Polícia Montada abriu inquérito técnico para apurar as responsabilidades em relação ao acidente.
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