Proposta se baseia em relatório entregue por juristas hĂĄ trĂȘs meses. Projeto foi protocolado nesta quinta-feira (23), dia marcado por embate com Arthur Lira sobre rito de tramitação das MPs. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou nesta quinta-feira (23) um projeto de lei que estabelece um prazo de 30 dias Ășteis para que o presidente da Câmara dos Deputados se pronuncie sobre pedidos de impeachment contra presidente e vice-presidente da RepĂșblica.
?? Atualmente, as regras de impeachment são definidas por uma lei de 1950. Nela, contudo, não hĂĄ prazo estipulado para que o presidente da Câmara analise ou não um pedido de impeachment. O modelo atual é visto, inclusive, como uma ferramenta de chantagem da cĂșpula da Câmara contra o presidente da RepĂșblica da vez.
O texto protocolado por Pacheco é baseado em um relatório entregue em dezembro ao Senado por uma comissão de juristas, presidida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.
Apesar de ter recebido a proposta hĂĄ mais de trĂȘs meses, Pacheco decidiu protocolar o texto no dia em que subiu a temperatura de um embate contra o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre o rito de tramitação das MPs.
Interlocutores de Pacheco negam que a apresentação da proposta justo no dia em que o impasse entre Casas se acirrou seja uma provocação e afirmam que esse "não é o estilo" do senador.
Parlamentares próximos a Lira também minimizaram o movimento do presidente do Senado e disseram que a apresentação do texto se trata de uma "tramitação normal".
O texto protocolado pelo presidente do Senado em resumo prevĂȘ que:
caso o presidente da Câmara não se pronuncie em um prazo de 30 dias Ășteis sobre a denĂșncia de crime de responsabilidade de um presidente da RepĂșblica, o pedido serĂĄ arquivado.
Com isso, o presidente da Câmara não poderia guardar pedidos de impeachment na gaveta, por exemplo – o que muitas vezes serve como uma moeda de troca com o Executivo.
Para começar a andar no Senado, o projeto ainda depende de um despacho da Mesa Diretora. Se aprovado, portanto, o texto tiraria poderes do presidente da Câmara, de Lira e dos próximos que assumirem o cargo.
Nos Ășltimos anos, opositores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) chegaram a ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Corte estabelecesse um prazo para que a Câmara analisasse os pedidos de impeachment protocolados contra Bolsonaro.
Mais de 100 denĂșncias se acumularam na gestão de Arthur Lira (PP-AL) à frente da Câmara.
O Supremo rejeitou, por diversas vezes, esse tipo de questionamento. Ao se manifestar à Corte, Lira afirmou que não hĂĄ previsão legal para uma anĂĄlise automĂĄtica dos pedidos de impeachment.
O prazo para a anĂĄlise também se estende às denĂșncias de ministros, do advogado-geral da União e de comandantes das Forças Armadas.
A propostaO projeto de Pacheco, que revoga a atual Lei do Impeachment e cria um novo arcabouço para os crimes de responsabilidade, é baseado em um parecer entregue por uma comissão de juristas criada pelo Senado para propor a atualização da Lei do Impeachment.
Além de estabelecer um prazo para que o presidente da Câmara decida sobre o acolhimento ou não da denĂșncia, a proposta de Pacheco estabelece:
a possibilidade de que deputados apresentem um recurso contra o arquivamento do pedido.
O recurso poderĂĄ ser apresentado em até dez dias, após a publicação do arquivamento, por, no mĂnimo, 171 deputados, ou pelos lĂderes que representem este nĂșmero de parlamentares.
A Mesa da Câmara terĂĄ até 30 dias Ășteis para deliberar sobre o recurso.
Se mesmo com o recurso a Mesa da Câmara não tomar uma decisão no prazo estabelecido, a maioria dos membros da Casa, ou dos lĂderes partidĂĄrios que os representam, poderĂĄ apresentar recurso ao plenĂĄrio principal da Câmara.
Nesse caso, o seguimento ou arquivamento da denĂșncia serĂĄ decidido por maioria simples – equivalente aos votos de metade dos deputados que estiverem presentes à sessão mais um.
O que vem depois da denĂșncia?
Se, ao final dos recursos e da anĂĄlise prevista, o pedido de impeachment for acolhido, serĂĄ enviado à uma comissão especial da Câmara para decidir se a denĂșncia deve seguir para o plenĂĄrio da Casa.
O rito é semelhante ao previsto na legislação atual. A Ășnica mudança proposta por Pacheco estĂĄ no prazo para a anĂĄlise da comissão especial: serão até 20 dias Ășteis. Atualmente, são previstos até 10 dias para o pronunciamento da comissão especial
Com a aprovação da comissão especial, a denĂșncia segue para votação no plenĂĄrio da Câmara – mesmo procedimento da legislação atual.
Cabe à Câmara autorizar o Senado, que tem competĂȘncia constitucional para julgar presidentes da RepĂșblica, a abertura do processo. Para isso, continuarĂĄ sendo preciso atingir, no mĂnimo, 342 votos.
Ao chegar ao Senado, o pedido passarĂĄ novamente por anĂĄlise de uma comissão especial, que decidirĂĄ pela abertura ou não do processo de impeachment. Se aprovado, o parecer pela abertura do processo vai ao plenĂĄrio da Casa, que precisa aprovar a instauração do processo por maioria simples – metade dos deputados que estiverem presentes à sessão mais um.
Na sequĂȘncia, instaurado o processo, o impeachment deverĂĄ ser analisado em até 180 dias. Para ser punido, serĂĄ preciso o voto de, no mĂnimo, 54 senadores.
Perda do cargo e dos direitos polĂticos
Rodrigo Pacheco propõe ainda oficializar entendimento aplicado por Ricardo Lewandowski na votação do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Na ocasião, o ministro autorizou votações separadas para a perda do cargo e dos direitos polĂticos de Dilma. Ela perdeu o cargo, mas manteve os direitos de exercer novos cargos pĂșblicos e disputar eleições.
Segundo o projeto de Pacheco, após votarem a perda do cargo, os senadores deverão votar se o acusado deve perder os direitos polĂticos por até 8 anos.
Rito das MPs
Pacheco e Lira divergem em relação ao rito das medidas provisórias. O presidente do Senado quer retomar o rito previsto na Constituição e adotado antes da pandemia, que prevĂȘ comissões mistas de senadores e deputados. JĂĄ Lira prefere manter o modelo atual, em que as matérias são votadas diretamente nos plenĂĄrios.
Nesta quinta-feira (23), Pacheco e Lira subiram o tom em relação à Casa divergente. O presidente do Senado tomou uma decisão à revelia da Câmara dos Deputados e publicou um ato para retomar as comissões mistas.
Lira disse que a Casa que preside não concorda com a decisão e acusou o Senado de "truculĂȘncia".