SaĂșde monkeypox

Pesquisa indica risco de monkeypox agravar infeccão por HIV

Por Agência Brasil

05/03/2023 às 13:44:23 - Atualizado hĂĄ
Agência Brasil

Uma pesquisa internacional, com a participação do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indicou a necessidade de se avaliar a inclusão das formas graves de monkeypox como uma nova condição definidora de Aids nas classificações das doenças do HIV no Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e na Organização Mundial de SaĂșde (OMS).

O trabalho foi feito por pesquisadores de 19 paĂ­ses, entre os quais Estados Unidos, Espanha, México, Reino Unido e Brasil. Eles reuniram dados de casos confirmados de monkeypox (Mpox, também chamada de varĂ­ola dos macacos) entre 11 de maio de 2022 e 18 de janeiro de 2023, para estudo que avaliou casos em pessoas com infecção avançada por HIV . O INI/Fiocruz, que é a referĂȘncia para o atendimento de casos de Mpox no Rio de Janeiro, desenvolve pesquisas que contribuem para o enfrentamento dessa doença.

O estudo destacou também a evolução fatal de pacientes com suspeita de deterioração clĂ­nica em decorrĂȘncia da sĂ­ndrome de reconstituição imune (Iris), uma condição inflamatória que pode ocorrer após o inĂ­cio da terapia antirretroviral. Do total de 85 pacientes que iniciaram ou reiniciaram o uso de antirretrovirais, 25% tiveram suspeita de que a deterioração clĂ­nica pode ter ocorrido em decorrĂȘncia da Iris, sendo que 57% desses vieram a óbito, o que trouxe grande preocupação para os pesquisadores.

Em termos de prevenção, a pesquisa indicou que as pessoas com HIV e alto risco de infecção por monkeypox devem ser priorizadas para uma vacina preventiva. O trabalho ressaltou que dois terços das mortes registradas ocorreram na América Latina.

Segundo os pesquisadores, os achados são particularmente pertinentes para paĂ­ses com baixos nĂ­veis de diagnóstico de HIV ou sem acesso gratuito universal a uma terapia antirretroviral ou a unidades de terapia intensiva, onde a interação da infecção descontrolada por HIV e monkeypox é mais prevalente. Ressaltaram também que, nesses paĂ­ses, deve ser efetuado um esforço conjunto para fornecer acesso urgente a antivirais e vacinas contra monkeypox.

Publicação

O trabalho internacional foi apresentado na 30ÂȘ Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (Croi 2023 - ConferĂȘncia sobre RetrovĂ­rus e Infecções Oportunistas, em tradução livre), que ocorreu em fevereiro em Seattle, nos Estados Unidos, e publicado na revista cientĂ­fica The Lancet. O estudo Mpox in people with advanced HIV infection: a global case series (Mpox em pessoas com infecção avançada por HIV: uma série de casos globais, em tradução livre) analisou 382 casos, sendo 349, o equivalente a 91%, em indivĂ­duos que viviam com HIV. A pesquisa constatou que 107 pacientes (28%) foram hospitalizados e 27 morreram (25%). Os óbitos ocorreram em pessoas que apresentavam imunodepressão avançada pelo HIV.

O trabalho destacou a descrição de uma forma grave de monkeypox, caracterizada por lesões cutâneas e mucosas necrotizantes, com alta prevalĂȘncia de manifestações dermatológicas e sistĂȘmicas fulminantes e morte, em pacientes com doença avançada pelo HIV, caracterizada por contagens de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células/mm3. O estudo contou com a colaboração da infectologista do Laboratório de Pesquisa ClĂ­nica em IST e Aids do INI/Fiocruz Mayara Secco Torres Silva.

Prevenção

Além da assistĂȘncia a pacientes com monkeypox, o INI/Fiocruz realiza pesquisas de combate à doença. Entre elas, destacam-se dois estudos multicĂȘntricos sob a coordenação do Instituto, que deverão ser iniciados no próximo mĂȘs de março. O primeiro deles avalia a vacina MVA-BN Jynneos, produzida pela empresa Bavarian Nordic, como profilaxia pós-exposição. A vacina é dada após a pessoa ter tido contato com alto grau de exposição potencial ao vĂ­rus, através de contato Ă­ntimo com uma pessoa que seja caso confirmado de monkeypox ou que tenha se acidentado ao manipular material contaminado pelo vĂ­rus, tanto na coleta de material clĂ­nico como no processamento de material em laboratório.

A coordenadora do estudo e diretora do INI/Fiocruz, Valdiléa Veloso, disse à AgĂȘncia Fiocruz de NotĂ­cias que essas pessoas deverão comparecer aos centros de pesquisa, onde receberão duas doses da vacina, com intervalo de 28 dias entre as doses, se a exposição tiver ocorrido no intervalo de até 14 dias. As pessoas cuja exposição tiver ocorrido após 14 dias poderão participar do estudo e serão acompanhadas, mas não serão vacinadas. O estudo prevĂȘ a participação de, pelo menos, 746 pessoas. A expectativa, segundo a diretora, é que esse imunizante, aplicado dentro do intervalo de tempo previsto, possa bloquear o processo de infecção pelo vĂ­rus ou atenuar o desenvolvimento da doença.

O segundo estudo é denominado Unity. Trata-se de um ensaio clĂ­nico internacional que vai avaliar a segurança e a eficĂĄcia do antiviral Tecovirimat no tratamento de pacientes com monkeypox. O estudo é coordenado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, chefe do Laboratório de Pesquisa ClĂ­nica em IST e Aids do INI/Fiocruz, em parceria com Alexandra Calmy, do Hospital da Universidade de Genebra-SuĂ­ça e com a AgĂȘncia Francesa de Pesquisa em Aids, Hepatites Virais e Doenças Emergentes (ANRS).

O Tecovirimat foi desenvolvido para o tratamento da varĂ­ola e foi licenciado pela AgĂȘncia Europeia de Medicamentos (EMA) para a monkeypox no ano passado, a partir de dados de estudos limitados em animais e em humanos. Até o momento, entretanto, não houve ensaios clĂ­nicos para confirmar se o medicamento pode ajudar os pacientes com monkeypox a se recuperarem da doença. Os pesquisadores do INI/Fiocruz consideram que os resultados do ensaio clĂ­nico Unity serão de vital importância para esclarecimentos nesse sentido.

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Jornalista Luciana Pombo

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