Política FBI

FBI deve investigar se atentados foram planejados nos EUA

Por A TRIBUNA

17/01/2023 às 17:10:49 - Atualizado há

Menos de uma semana após os ataques de bolsonaristas que depredaram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, 46 deputados americanos do partido Democrata enviaram carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na qual pedem que o governo do país tome medidas para que o território americano não seja usado como "refúgio" pelo ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro, a quem os parlamentares conectam à invasão do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo (8/1).

A informação é da BBC. "O ataque ilegal e violento em 8 de janeiro contra as instituições do governo brasileiro foi construído sobre meses de invenções pré e pós-eleitorais do Sr. Bolsonaro e seus aliados, alegando que a eleição presidencial de 30 de outubro havia sido roubada", afirmam os parlamentares a Biden, exortando o presidente a "cooperar totalmente" com o Brasil para esclarecer o papel de Bolsonaro no episódio. A carta foi enviada na noite de quarta-feira (11/01).

E ex-presidente brasileiro está de férias em Orlando, Flórida, desde o dia 30 de dezembro. Ele deixou o Brasil em um voo das Forças Armadas Brasileiras sem passar a faixa ao sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e entrou nos EUA antes do fim oficial de seu mandato, possivelmente de posse de passaporte e visto diplomáticos – concedidos a chefes de Estado.

A BBC lembra que Bolsonaro costuma repetir que sempre jogou dentro das "quatro linhas da A constituição" para refutar acusações de envolvimento com atos violentos. Sobre os atos de domingo, ele disse que "fugiam à regra" pela violência. Após os distúrbios de domingo, porém, o ex-presidente chegou a compartilhar em redes sociais um vídeo que dizia que Lula "não foi eleito", e sim "escolhido pelo STF e pelo TSE".

Depois de uma breve internação nos EUA por causa de uma obstrução intestinal, Bolsonaro disse à CNN que pretende voltar ao Brasil "nos próximos dias". Antes, o plano, segundo ele, era ficar até o final de janeiro nos EUA.

Nesta quarta (11/1), o secretário de Estado americano Anthony Blinken afirmou que o Brasil não solicitou formalmente cooperação para investigação nem entrou com pedido para extradição de Bolsonaro.

Revogação do visto

"O Sr. Bolsonaro voou para a Flórida antes do final de seu mandato (…) e estamos preocupados com os relatos de que ele atualmente reside em Orlando. Os EUA não devem dar abrigo a ele ou a qualquer autoritário que tenha inspirado tamanha violência contra as instituições democráticas. (…)", recomendam os parlamentares americanos, na carta a qual o Washington Post e a BBC News Brasil tiveram acesso.

Os legisladores prosseguem, pedindo que Biden revogue o visto diplomático americano de Bolsonaro.

"Segundo nosso entendimento, já que o Sr. Bolsonaro entrou nos Estados Unidos quando ainda era presidente do Brasil, ele pode ter feito isso com um visto A-1, que é reservado para indivíduos em visitas diplomáticas ou oficiais. Como ele não é mais o Presidente do Brasil e tampouco exerce atualmente o cargo de oficial brasileiro, solicitamos que reavalie sua situação no país para verificar se há base legal para sua estada e revogue qualquer visto diplomático que ele possa possuir", dizem os parlamentares.

A recusa de Bolsonaro em participar da transferência de poder, as inúmeras acusações sem provas de fraude eleitoral e seus ataques a membros do STF são listados pelos parlamentares americanos como indícios de que ele esteve por trás das cenas de destruição na capital federal no último domingo.

Na carta a Biden, os parlamentares pedem que o presidente coloque o FBI, a polícia federal americana, para investigar se e como os ataques à Praça dos Três Poderes foram planejadas em território americano. E que responsabilize legalmente possíveis mentores e financiadores dos atos em Brasília que estejam baseados na Flórida.

Bolsonaro é aliado próximo ao ex-presidente Donald Trump e a alguns de seus principais assessores, como Steve Bannon e Jason Miller.

As imagens dos ataques em Brasília, estampadas na capa dos principais jornais americanos, remetem os americanos à memória da invasão ao Capitólio por trumpistas em 6 de janeiro de 2021. O episódio, ocorrido no momento em que o Congresso dos EUA certificava a vitória de Biden, é considerado uma ferida aberta no país que se orgulha de ser a democracia mais antiga do planeta. Cinco pessoas morreram e centenas foram presas e respondem a processo – ou já estão condenadas – pelos atos.

"Conhecemos em primeira mão o impacto"

"Dois anos atrás, os EUA enfrentaram um ataque semelhante à nossa democracia. Conhecemos em primeira mão o impacto — imediato e de longo prazo — quando funcionários do governo subvertem as normas democráticas, espalham desinformação e fomentam o extremismo violento", escreveram os deputados na carta.

A BBC destaca que após os ataques, Biden telefonou a Lula para expressar apoio e convidou o colega brasileiro a visitar a Casa Branca em fevereiro. O ex-presidente dos EUA Bill Clinton também telefonou a Lula e Barack Obama foi às redes sociais dizer que o sucesso da democracia no Brasil importa ao mundo todo.

A carta é a formalização de um mal-estar que circula entre a base democrata no Congresso o último domingo. A missiva foi liderada por Joaquín Castro, representante sênior da minoria democrata no Comitê de Hemisfério Ocidental da Câmara. À CNN americana, Castro disse no começo da semana que "os EUA não deveriam ser um refúgio para o autoritário que inspirou terrorismo doméstico no Brasil".

Outros colegas de Castro também vieram a público se posicionar. Uma das estrelas jovens e da ala mais esquerdista do partido, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, conhecida como AOC, parte da ala mais à esquerda dos democratas, tuitou: "Os EUA devem deixar de dar guarida a Bolsonaro".

Mas mesmo figuras tidas como moderadas, como o deputado Gregory Meeks, assinaram a declaração a Biden.

A carta que pede revogação do visto de Bolsonaro e investigação pelo FBI tem uma dupla função: expressar eventuais sentimentos da Casa Branca que, politicamente, seriam sensíveis demais para a administração admitir em público e indicar ao governo Biden o que sua base congressista deseja ver acontecer.

Nesta quarta (11/1), 35 deputados americanos e 39 brasileiros divulgaram uma declaração conjunta na qual afirmam que "atores autoritários e antidemocráticos da extrema direita" agem em conluio para atacar as democracias do Brasil e dos EUA.

"Não é segredo que agitadores da extrema direita no Brasil e nos EUA estão coordenando esforços", escrevem os parlamentares, citando encontros o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, e de ex-assessores de Donald Trump, como Jason Miller e Steve Bannon, que "encorajaram Bolsonaro a contestar os resultados das eleições no Brasil". A declaração foi costurada pelo Washington Brazil Office.

Os americanos acompanham de perto a movimentação política no Brasil. Antes da posse de Lula, os democratas fizeram uma articulação para destravar a nomeação da nova embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley, após quase dois anos sem representante de mais alto nível em Brasília.

Em setembro, poucos dias antes do primeiro turno, o Senado dos EUA aprovou resolução na qual recomendava que a Casa Branca reconhecesse o resultado do pleito tão logo ele fosse anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Biden levou menos de 40 minutos para parabenizar Lula. A mesma resolução recomendava rompimento das relações bilaterais em caso de golpe militar no Brasil.

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