Grande Curitiba Tradição Polonesa

Sociedade Abranches será reformada e vai se tornar o centro cultural no bairro

Em 2023 o bairro Abranches celebra 150 anos de história e o icônico espaço deve se tornar o coração do Polo Polonês de Curitiba, ajudando a induzir o desenvolvimento de bairros colonizados por esses imigrantes

Por Rodolfo Luis Kowalski

10/10/2022 às 15:52:14 - Atualizado há
Obra no prédio histórico ganhou apoio até do Ministério das Relações Exteriores da Polônia (Franklin de Freitas)

Vida longa e vida nova para a Sociedade Cultural Abranches. Fundado em 15 de agosto de 1910 pela comunidade polonesa, o espaço está fechado ao público desde 2019, mas planeja retomar as atividades em breve, tornando-se um dos pontos altos da celebração dos 150 anos do bairro Abranches, em novembro do ano que vem. E após décadas atuando como uma casa de shows e eventos, o local, que é considerado uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP) pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), deve realizar uma espécie de volta às origens.

Segundo Marcos Vilcek e Moisés Noronha Correa, atuais presidente e vice da instituição, o primeiro passo para o renascimento da Sociedade Abranches está sendo dado com o projeto de restauro do telhado original do prédio histórico, o que está sendo feito com a colaboração do Consulado Geral da República da Polônia de Curitiba, Ministério das Relações Exteriores da República da Polônia e da Fundacya Pomoc Polakom na Wschodzie, uma fundação criada pelo governo polonês para facilitar a cooperação (principalmente cultural e educacional) com comunidades polonesas mundo afora.

"O que aconteceu ali é que teve uma reforma em 1988 que fez com que o telhado original cedesse, ele caiu. Foi colocado daí um telhado que seria provisório, mas os anos passaram e o provisório acabou ficando como permanente", conta Vilcek, citando que com essa primeira reforça a sede da Sociedade voltará a ter seu telhado no formato original, com telhas de barro tipo francesa, e não mais telhas de fibrocimento. "A diferença é que a estrutura do telhado antigo era de madeira totalmente, agora vai ser misto, com ferragem e madeira. A estrutura metálica, inclusive, já está sendo fabricada e deve ser montada na semana que vem."

Para viabilizar o restante da reforma, restaurando o prédio como um todo, parte do terreno da Sociedade, onde ficavam as piscinas, deverá ser vendido em breve. "A venda está em fase final, nos termos burocráticos. Mais dois, três meses já deve concretizar e isso acontecendo daremos início à reforma em si", explica Moisés Correa. "Com esse recurso vamos fazer todas as reformas que a Sociedade precisa e reativá-la, deixando ela completamente sanada, sem qualquer tipo de dívida", emenda ainda Vilcek.

O projeto, inclusive, é ambicioso e de longo prazo (a reinauguração deve acontecer no ano que vem, em meio às celebrações dos 150 anos do bairro Abranches, mas melhorarias continuarão sendo feitas). Inclui, por exemplo, a inauguração de uma biblioteca, que já conta com mais de 20 mil volumes em língua polonesa no seu acervo e que servirá para incentivar pesquisas. A ideia é também ofertar aulas de polonês e realizar atividades culturais no espaço, como congressos, formaturas, casamentos, aniversários e bailes. E há ainda a previsão para construção de um novo restaurante no local, que funcionará diariamente e trará ao público curitibano opções de gastronomia polonesa e brasileira.

"Ano que vem a Colônia Abranches faz 150 anos de fundação [em novembro]. Nossa ideia é que a Sociedade seja o centro do Polo Polonês da região, porque ali está a igreja, tem o colégio, tudo meio concentrado. Vai ser um presente pro bairro pelos 150 anos de formação da colônia, vamos entregar a Sociedade revitalizada e aberta", comemora o presidente.

Polo polonês e 150 anos da imigração em Curitiba

Há alguns meses a Câmara Municipal de Curitiba aprovou um projeto, de autoria do vereador Mauro Ignácio (União), que visa instituir o Polo Polonês da capital paranaense. A ideia é consolidar a Rota Polonesa da cidade, interligando atrações turísticas numa área que vai desde o Portal Polonês e segue pela Mateus Leme, passando pelos bairros Abranches, Barreirinha, Pilarzinho, Santa Cândida e Taboão. O projeto atualmente está nas mãos do prefeito de Curitiba, apenas aguardando para ser sancionado e virar lei.

"A intenção, além de divulgação, marketing, é trazer investimentos para a região, atrair investimentos pro Abranches, Pilarzinho, pro próprio Taboão, e resgatar a história dos imigrantes poloneses da região. Se tem o polo gastronômico em Santa Felicidade [ligado aos imigrantes italianos], agora a ideia é emular isso aqui. A Sociedade Abranches seria o centro disso tudo. Quem vier para Curitiba fazer turismo vai poder conhecer o clube histórico, a história das famílias… São Marcos", destaca Moisés Noronha Correa.

A proposta, inclusive, vem num momento marcante para a comunidade polonesa de Curitiba. É que no ano passado foram comemorados os 150 anos da imigração polonesa em Curitiba. Já no ano que vem, celebra-se os 150 anos do bairro Abranches, fundado em 10 de novembro de 1873 com o nome de Colônia Abranches em homenagem a Frederico José Cardoso de Araújo Abranches, então presidente da Província do Paraná e quem deu o consentimento para que imigrantes poloneses provenientes da Prússia Ocidental ocupassem aquela região.

"A colonização polonesa em Curitiba começou no Pilarzinho, mas quando os imigrantes chegaram lá já tinha outras etnias estabelecidas. No caso do Abranches, não existia bairro ali, foi tudo feito pelos poloneses mesmo. Por isso mesmo aqui ficou a marca", comenta ainda o vice-presidente da Sociedade Abranches, explicando sobre a importância do bairro para a história dos imigrantes poloneses no Paraná.

Dos bailes típicos às festas de rock

A Sociedade Abranches foi fundada há 112 anos, inicialmente com o nome de Sociedade Polonesa Operária Beneficente Rei Ladislau Jaglielo (em homenagem ao grande Rei Wladislaw Jagie??o, que unificou o território Polonês ao Lituano). A ideia inicial era que o espaço fosse uma espécie de cooperativa de auxílio e acolhimento aos imigrantes e também um espaço de lazer e encontro para a comunidade."Os poloneses recém-chegados se encontravam muitas vezes numa situação financeira complicada e conseguem ajuda através da sociedade, com quem já estava bem-estabelecido por aqui. Também eram feitos aniversários, casamentos, as festas da comunidade", relata Marcos Vilcek,

Desde o começo era comum a realização de bailes, que buscavam preservar a cultura da polônia e celebravam elementos típicos do país original. A partir dos anos 1970, contudo, o local começa a se destacar, efetivamente, como uma casa de eventos, realizando os famosos saraus e se destacando com as festas de rock, que acabou virando uma especialidade da casa. Com o tempo, contudo, a Sociedade se distanciou de suas raízes e passou a alugar para bailes funks e festas com música eletrônica.

Até que no final de 2012 o espaço passou por uma grande reforma e voltou a ser uma casa de shows, inclusive recebendo artistas de destaque nacional e internacional, como Nazareth (Escócia), Accept (Alemanha), Tiãs, Marcelo Nova, Matanza e Raça Negra.

"Mas depois da tragédia da Boate Kiss no Rio Grande do Sul as exigências para poder fazer shows aumentaram muito e inviabilizou a continuidade. Seguimos fazendo eventos esporádicos até 2018, mas antes da pandemia já estava em declínio pela falta de verba, precariedade do prédio. Desde 2019 a Sociedade está fechada e estamos tentando captar verbas para fazer a reforma", conta Vilcek, comemorando ainda o resgate da Sociedade. "Claro, é um projeto de longo prazo, porque é muita verba, mas só essa movimentação do telhado já fez as pessoas voltarem a acreditar que a Sociedade poderia voltar a ser o que ela era. As pessoas estão vendo com bons olhos, estão gostando dessa retomada."

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