PolĂ­tica Economia

Cotado para Petrobras é suspeito de usar cargo no governo para vasculhar empresa

Por Notícias Ao Minuto

06/04/2022 às 07:36:48 - Atualizado hĂĄ
Notícias Ao Minuto

Em um processo obtido pela reportagem, a Conclusiva Empreendimento e Participações afirma que a pasta acessou informações sobre a companhia disponĂ­veis no Serasa sem ter motivos.

A Conclusiva disputa uma arbitragem com a Captalys, que pertence a LuĂ­s ClĂĄudio Garcia de Souza, amigo do ministro da Economia, Paulo Guedes. Os dois trabalharam juntos no Banco Pactual. A Captalys é presidida por Margot Greenman, mulher de Paes de Andrade até 2020.

As empresas se tornaram sócias em 2012 para a construção de dois empreendimentos imobiliĂĄrios em terrenos situados nas cidades mineiras de Sete Lagoas e Esmeraldas.

A Conclusiva afirma que houve desvio de recursos na parceria, e o projeto nunca avançou. Por isso pede a devolução do dinheiro aportado antes de desfazer a sociedade.

"A Conclusiva não possui qualquer tipo de relação com o poder pĂșblico. Logo, não existe qualquer motivo para o Ministério da Economia, que tem como um dos secretĂĄrios mais relevantes, justamente, o sr. Caio Mario Paes de Andrade, repentinamente começar a monitorar a requerente", diz a empresa.

Ainda segundo a empresa, o suposto acesso dos dados pelo Ministério da Economia "só se explica como a utilização de instrumentos pĂșblicos para fins privados no âmbito do litĂ­gio entre a autora e o Grupo Captalys".

Não hĂĄ, em tese, nenhum motivo administrativo que pudesse ter motivado Paes de Andrade a obter informações sobre a empresa. Ele nega ter acessado ou autorizado o acesso de dados da empresa.

A Serasa informa ter havido uma consulta do Ministério da Economia sobre a Conclusiva. O acesso aos dados ocorreu em 11 de julho de 2021. Inicialmente, a Conclusiva enviou uma carta ao ministério solicitando esclarecimentos, mas, em 20 de outubro, a pasta respondeu que não seria possĂ­vel identificar o responsĂĄvel ou o motivo da consulta.

A Serasa, por sua vez, disse que só a Economia poderia identificar o login de acesso aos dados.

Diante desse vaivém, a Conclusiva ajuizou uma ação judicial de obtenção de provas. A empresa solicita que seja determinada uma perĂ­cia nos computadores do ministério se a autoria do acesso não for voluntariamente informada.

"Caso se confirme a suspeita da autora, de que o Sr. Caio Paes de Andrade utilizou os recursos do Ministério da Economia para investigar a Conclusiva, com o propósito de obter vantagens em seu litĂ­gio privado, estaremos diante de um gravĂ­ssimo ato de abuso de poder e desvio de função", diz a ação.

A Conclusiva afirma também que a investida do Ministério da Economia pode não ter se limitado à Serasa.

"Se o Ministério da Economia andou monitorando a Conclusiva, é bem possĂ­vel que o tenha feito em outros bancos de dados, relacionados a outras pessoas jurĂ­dicas de direito privado ou mesmo a outros órgãos integrantes da Administração PĂșblica direta e indireta."

Paes de Andrade hoje comanda a Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia. Nas Ășltimas semanas, seu nome surgiu como cotado para presidir a Petrobras depois de um revés para o governo, que indicou Rodolfo Landim para o comando do conselho de administração e Adriano Pires para a presidĂȘncia da empresa. Ambos declinaram do convite.

O próprio secretĂĄrio de Guedes diz ter sido sócio de uma das companhias do Grupo Captalys. Ele manteve a participação enquanto presidia o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), cargo que exercia antes de assumir o posto atual na Economia.

O secretĂĄrio sustenta ter informado sobre a situação à Comissão de Ética PĂșblica da PresidĂȘncia, que avalia possĂ­veis casos de conflito de interesse envolvendo autoridades. E afirma jĂĄ ter se desfeito das cotas na empresa, mas não especifica a data em que isso ocorreu.

A Conclusiva diz que a rival promoveu "uma série de ilĂ­citos" em "manifesto prejuĂ­zo dos sócios".

No processo, a empresa afirma que esses supostos ilĂ­citos fizeram eclodir um litĂ­gio que desembocou, a partir do ano de 2016, em ações judiciais cautelares e, especialmente, um procedimento arbitral, atualmente em curso perante a Câmara de Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-CanadĂĄ.

Dentro da ação, a Conclusiva também cita uma chamada pĂșblica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com o objetivo de repassar R$ 4 bilhões a fundos de investimento, os quais emprestariam o dinheiro para micro e pequenas empresas.

O resultado dessa concorrĂȘncia foi divulgado no inĂ­cio de agosto de 2020. Dos 70 concorrentes, houve a pré-seleção de 12 fundos, sendo que, dentre os selecionados, dois são ligados ao Grupo Captalys.

Segundo a empresa, no perĂ­odo dessa concorrĂȘncia, Paes de Andrade, que presidia o Serpro, manteve uma série de reuniões com o alto comando do BNDES e exercia cargo de administração em empresa do Grupo Captalys. "O que é uma situação sabidamente vedada por lei", diz a ação.

OUTRO LADO

O secretĂĄrio Caio Paes de Andrade negou ter acessado as informações da Conclusiva. Também negou ter autorizado servidor pĂșblico do ministério a realizar a pesquisa na base de dados da Serasa.

Paes de Andrade afirma não ser mais sócio de uma das empresas do Grupo Captalys e que, à época, informou sobre essa sociedade à Comissão de Ética da PresidĂȘncia.

O secretĂĄrio nega ter tido assento no conselho de administração da Captalys e ter atuado junto ao BNDES para ajudar a companhia na obtenção de recursos.

Paes de Andrade informou ainda ter se separado de Margot Greenman em 2020.

Por meio de sua assessoria, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que não é amigo do dono da Captalys.

"PossuĂ­mos relações normais de quem trabalhou no mesmo mercado, tendo sido contemporâneos no Banco Pactual hĂĄ trĂȘs décadas", disse o ministro.

A Captalys, via assessoria, negou ter recebido qualquer informação fornecida pela Serasa de sua rival Conclusiva por intermédio do Ministério da Economia.

A empresa afirma que sua fundadora e sócia, Margot Greenman, nunca solicitou informações da Conclusiva ao secretĂĄrio Caio Paes de Andrade, seu ex-marido.

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