A jornada até o topo
Conflitos históricos fizeram com que o PCC firmasse suas raízes no poder da China. As guerras contra o Reino Unido e o Japão entre 1839 e 1949 deixaram o país imerso em fome, baixa industrialização e pobreza. Até então, a relevância no cenário internacional era praticamente nula. Ao chegar ao poder depois de derrotar o partido nacionalista Kuomitang –que depois formou Taiwan –, em 1949, Mao Tse-Tung iniciou a implantação de políticas de industrialização e apropriação de terras privadas no chamado "Grande Salto Adiante". Erros do partido e a pobreza acentuada aprofundaram o descontentamento da população, um dos motivos centrais para a Revolução Cultural, medida que prendeu, torturou e matou grande parte dos dissidentes e opositores chineses. A recuperação veio sob a liderança de Deng Xiaoping, sucessor de Mao, que descentralizou o poder do Estado, abriu a China a países estrangeiros e deu início a reformas experimentais. Era o princípio do grande salto econômico chinês que revolucionou o país entre as décadas de 1990 e 2010. Essas mudanças minaram as origens nacionais quase totalmente voltadas à economia rural para tornar a China sede de grandes empresas nacionais e multinacionais. "O PCC é absolutamente singular no mundo", classificou o ex-embaixador do Brasil na China, Valdemar Carneiro Leão."Não é imitável em lugar algum, inclusive nenhum país teria condições de imitar essa máquina extremamente hierarquizada, de grande rigor e disciplina. Não há nada parecido no Ocidente ou Oriente", disse.Permanência
As entranhas do partido pavimentam o "socialismo com características chinesas" que, inspirado nas teorias de Karl Marx, leva em conta sucessos e fracassos de nações socialistas sem deixar de lado a ideologia e influência pela história milenar do país."O partido sobrevive até hoje por causa da adaptação. Perceberam que, para continuar no poder, tinham que transformar o partido e o modelo econômico vigente", disse a diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China, Claudia Trevisan. As reformas de Deng Xiaoping, por exemplo, foram aprovadas 10 anos antes da queda do Muro de Berlim. "A China fez o que a União Soviética não fez", afirmou a especialista. Essa capacidade de adaptação reforça o pragmatismo chinês –e a urgência do Brasil em se beneficiar economicamente do gigante asiático. "Não há por que o Brasil hostilizar a relação com a China", apontou Carneiro Leão. "Ela tem sido fundamental em nossas contas externas, os benefícios são claros, desde o comércio até o agronegócio. Não há por que o Brasil prescindir do diálogo que tinha com a China apenas por antipatia ideológica".Longo prazo
Tanto Trevisan quanto Carvalho e Carneiro Leão são unânimes em suas posições sobre as relações Brasil-China. Os laços, mantidos oficialmente desde 1974, se deterioraram depois que o governo brasileiro adotou a agenda dos EUA sobre o governo chinês –um ponto de vista estimulado pelas disputas comerciais e tecnológicas entre Pequim e Washington. A longo prazo, porém, a China deve manter sua raiz pragmática em relação ao Brasil. "Ambos se beneficiam: o Brasil é um parceiro estratégico da China", apontou o diplomata. "Os atritos não devem prejudicar a relação entre os países. "Um divórcio econômico resultaria apenas em desvantagens", disse Trevisan. Enquanto isso, Xi Jinping e o PCC dão continuidade ao plano de consolidar a China como líder global até 2050 –mesmo que isso prolongue os conflitos diplomáticos com os EUA e a União Europeia.Poder 360