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Retrospectiva política 2021: derrotas, aprendizados e renascimento da esperança

Por Da Redação

25/12/2021 às 09:34:54 - Atualizado há

Já na reta final de 2021, sociólogos e lideranças da esquerda brasileira foram convidados pelo Brasil de Fato para avaliar os principais acontecimentos políticos deste ano e suas consequências para 2022.

O terceiro ano do governo Bolsonaro foi marcado pela CPI da Covid, pela aproximação com o centrão e pela volta do ex-presidente Lula à cena política. Um cenário marcado pelo confronto de ideias e versões em um país estilhaçado por crises sociais, econômicas, ambientais e sanitárias.

Apesar dos múltiplos focos de divergências espalhados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL-RJ), as mais de 618 mil mortes e a ameaça de novas ondas de contaminação mantiveram o surto da Covid-19 em alto-relevo na vida dos 212 milhões de brasileiros.

Por isso, o principal destaque político no ano foi a CPI da Covid no Senado que se debruçou sobre a desastrada condução bolsonarista no enfrentamento da pandemia.

“Não dá para fugir do principal foco de tensão que foi a CPI da Covid no Senado. Muita gente falava sobre qual seria o resultado, e o resultado era cotidiano. Teve um tensionamento mesmo do sistema político, porque era televisionado, existia um apelo ao público, as pessoas seguiam isso no Twitter, na TV Senado, houve recordes de audiência na TV Senado”, aponta o sociólogo Jorge Rodrigues.

Foi no Congresso Nacional, aliás, que o bolsonarismo encontrou as bases para defender seus interesses nas mais diversas áreas. Após a ascensão de Arthur Lira à presidência da Câmara, em fevereiro, o embarque oficial do centrão no governo foi selado com as nomeações de Ciro Nogueira à Casa Civil e de Flávia Arruda à Secretária de Governo no fim de julho.

Para Fernanda Melchionna, deputada federal (PSOL-RS), “o casamento do centrão com a extrema direita” comprometeu qualquer chance de equilíbrio dentro do Congresso e conferiu estabilidade para Bolsonaro. “E a isso se soma a burguesia, que em nome de uma agenda econômica antipovo, mesmo que um setor dela não apoie o negacionismo de Bolsonaro, seguiu dando sustentação a um governo criminoso”, critica.

Apesar de relatar dificuldades impostas pelo “governo criminoso e sua base política”, Alexandre Conceição, dirigente do MST, também enaltece a vitória da oposição ao conseguir barrar o PL da Grilagem, que permitiria a regularização da exploração em terras públicas, e o PL do Licenciamento Ambiental, apelidado de “Projeto de não-licenciamento”. Mesmo assim, ele reconhece que a pressão pela aprovação de projetos como esse devem continuar no primeiro semestre de 2022, quando a corrida eleitoral ainda não estará em marcha acelerada.

“Eu destacaria a derrota do voto impresso, um espantalho que eles tentaram criar para desacreditar a eleição, prevendo que perderiam, o PL Antiterrorismo, que eles tentaram votar e que seria uma criminalização brutal, uma máquina de perseguir adversários, e o PL 32 que não veio à plenário, que é a reforma trabalhistas dos servidores públicos”, elenca a deputada psolista.

Conceição também comemora uma retomada das manifestações populares em 2021, tendo como marco inicial o ato de 29 de maio, quando “mesmo com a pandemia, nós fomos às ruas do bolsonarismo e demos o primeiro passo para criar uma frente mais ampla possível”.

No bojo do legislativo, ele também destaca o suado sucesso, apesar de todos os vetos de Bolsonaro, na aprovação da Lei Assis de Carvalho, que dispõe de medidas emergenciais para amparar os agricultores familiares, “único segmento que não recebeu um centavo de auxílio emergencial”, explica.

No apagar das luzes, na última sessão do plenário da Câmara, foi aprovado o orçamento para 2022, que prevê R$ 4,9 bilhões para campanhas e R$ 16,5 bi para indicações em obras nas bases eleitorais de parlamentares e com reajustes para servidores indicados pelo governo, entre eles os da Polícia Federal.

Antes mesmo do episódio final, 41% dos brasileiros já reprovavam a atuação do Congresso, e apenas 10% aprovavam, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada no dia 21 de dezembro.

Em alta

No início de março, um fato político de grandes proporções começou a chacoalhar as estruturas de poder, estabelecidos até então. O ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, anulou as condenações do ex-presidente Lula nos processos da Lava Jato de Curitiba, e a decisão foi referendada pelo colegiado da Corte no dia 15 de abril.

Assim, a maior liderança de esquerda do país, que fora preso e impedido de disputar as eleições de 2018, recuperou os direitos políticos e se tornou elegível novamente. Com grande exposição na mídia e recepcionado por líderes mundiais, Lula fechou o ano à frente de todos os seus principais adversários, de acordo com as principais pesquisas eleitorais.

“Nós conseguimos, logo no início do ano, recuperar os direitos do Lula. Acho que esse é um legado fundamental para 2021. A recuperação dos direitos políticos de Lula que deu à esquerda popular progressista unidade de novo na luta política, na luta social e apontou um caminho”, exalta Conceição.


Expectativa da esquerda em torno da candidatura de Lula encontra respaldo nas pesquisas de intenção de voto / Mauro Pimentel/AFP

Tratando-se das projeções para a corrida eleitoral, entende-se, de maneira geral, que a decisão do pleito ainda está muito distante e incerta. Mesmo assim, o sociólogo Luiz Felipe de Faria defende que a retórica de “retorno aos anos felizes” e de conciliação de classes, adotada pelo petista e por boa parte da esquerda, pode até já ser suficiente para tirar Bolsonaro do poder, mas não conforta a realidade contemporânea.

Segundo Faria, não se pode ignorar a ascensão de “núcleos de poder econômico com caráter majoritariamente predatório, como os de commodities minerais e agrícolas, que têm estratégias de poder bastante violentas”.

“Esse é o primeiro fenômeno para a gente localizar para lembrar que o bolsonarismo não acaba em 2022, ele representa uma mudança na estrutura econômica brasileira”, argumenta.

:: Em meio ao caos de 2021, movimentos populares lembram vitórias que ajudaram o povo brasileiro ::

O sociólogo e pesquisador do agronegócio cita dificuldades vividas pelo presidente argentino Alberto Fernández para implementar o que considera uma “lógica neodesenvolvimentista, com a promessa de reindustrialização, que já não tem lastro na realidade”. Por isso, em sua opinião, se Lula seguir o script, “os pactos vão ter que ser mais conservadores para menos conquistas”.

Já Conceição está confiante de que as eleições de 2022 serão apenas o primeiro passo para um novo período de protagonismo do povo. Ele acredita que “bons ventos” estão vindo da América Latina para impulsionar o aguardado triunfo de Lula e ampliar o “balanço positivo” do MST com a sociedade em 2021.

“Avançamos naquilo que nos propomos sobre reforma agrária, resistimos à desocupações em todo país, produzimos toneladas de alimentos saudáveis e também distribuímos parte importante da nossa produção com os mais necessitados, já que a fome voltou com tudo”, comenta.

Melchionna lamenta que Bolsonaro não tenha sofrido um processo de impeachment esse ano e lamenta “a sopa pro azar” que é uma nova corrida eleitoral contra a extrema-direita, mas afirma: “Agora a tarefa número zero, menos um e menos dois é derrotar Bolsonaro”.

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