Ambientalistas presentes na audiĂȘncia pĂșblica sobre a polĂtica climĂĄtica executada pelo Governo Federal pediram o fim da negligĂȘncia em relação às urgĂȘncias ambientais do Brasil e o cancelamento imediato dos Cadastro Ambiental Rural em terras com registro de queimadas e desmatamento sem autorização. A audiĂȘncia ocorreu no Senado, nesta sexta (1), e as discussões estiveram centradas no relaxamento das ações de prevenção e controle de desmatamentos e queimadas nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, bem como os impactos disso.
"Os tomadores de decisão tĂȘm que tomar medidas urgentes para diminuir esse risco [de desaparecimento] de 50% a 60 % da floresta Amazônica. O atual modelo de desenvolvimento ainda alimenta e acelera essas prĂĄticas de desaparecimento da floresta. Precisamos ter uma mudança radical para conter o desmatamento da Amazônia", pontuou o pesquisador do instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, Carlos Nobre.
De acordo com ele, é necessĂĄria uma mudança de comportamento "radical" por parte do governo Bolsonaro, sobretudo em relação à Amazônia.
Na conversa, os ambientalistas também alertaram para a fiscalização ineficaz e o resultante aumento nas ilegalidades cometidas em terras pĂșblicas federais, que apresentam nĂșmeros crescentes de desmatamento e queimadas.
A audiĂȘncia foi requerida pelos senadores Jaques Wagner (PT-BA), Eliziane Gama (CIDADANIA-MA), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jayme Campos (DEM-MT). Participaram, além de Nobre, o chefe geral da Embrapa PecuĂĄria Sudeste, Alexandre Berndt, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, Felipe Nunes, a 2Âș vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e PecuĂĄria do Brasil (CNA), Muni Lourenço Silva e JĂșnior, e diretora de ciĂȘncias do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipan), Ane Alencar.
"O sucesso da nossa polĂtica climĂĄtica estĂĄ ligado a uma trajetória de combate ao desmatamento, necessariamente", alertou Felipe Nunes.
Além do cancelamento dos cadastros ambientais de proprietĂĄrios de terras que estejam descumprindo as normas, os ambientalistas cobraram uma polĂtica de enfrentamento a longo prazo. Dentre as medidas sugeridas esteve o aumento de rigor na fiscalização de florestas pĂșblicas não destinadas.
"Se a gente fechasse os olhos para o que ocorre nos imóveis rurais e nos assentamentos e lidasse com desmatamento e fogo somente em terras pĂșblicas, ou seja, só combatendo a ilegalidade, a gente chegaria à mĂnima taxa de desmatamento que tivemos em 2012", destacou Ane Alencar.
A diretora do Ipan também criticou a "vista grossa" para os incĂȘndios na Amazônia.
Dados do Mapbiomas de agosto deste ano apontam que somada a ĂĄrea com registro de queimadas no Brasil ao longo dos Ășltimos 36 anos, a Amazônia aparece com os maiores registros (41%), representando 16% do domĂnio total do bioma.
Ane explica que uma cadeia de fatores leva aos incĂȘndios ambientais, mas que todos os que acontecem no bioma são iniciados por ação humana.
"Não existe fogo se não tiver uma consonância de trĂȘs elementos: condições ambientais favorĂĄveis para isso, material combustĂvel e a fonte de ignição. No caso da Amazônia, podemos ter as condições ambientais e material combustĂvel, mas a fonte de ignição é humana. Se a gente quiser conter o fogo na Amazônia, a gente precisa conter quem risca o fósforo", explica.
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