PolĂ­tica Covid-19

CPI da Covid: Prevent Senior e governo federal teriam acordo para testar e disseminar kit Covid

Por Olhar Digital

28/08/2021 às 13:13:50 - Atualizado hĂĄ

Na Ășltima quinta-feira (26), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebeu uma denĂșncia formal de um representante de médicos e ex-médicos da Prevent Senior de que a operadora de saĂșde e o governo federal fizeram um acordo, no inĂ­cio da pandemia de Covid-19, para testar e disseminar os medicamentos do chamado kit Covid, como a cloroquina, a ivermectina e a azitromicina.

Cloroquina, Sulfato de Hidroxicloroquina, Zinco, Ivermectina e Avigan
Segundo denĂșncia de médicos e ex-médicos da Prevent Senior, a operadora teria um acordo com o governo federal para ministrar medicamentos sem eficĂĄcia comprovada contra a Covid-19. Imagem: Sergio Yoneda – Istockphoto

Segundo o documento, uma série de irregularidades foram praticadas pela empresa, que afirmou, por meio de nota, sempre ter atuado "dentro dos parâmetros éticos". "Todas as dĂșvidas e questionamentos formulados pela CPI foram devidamente esclarecidos junto às autoridades competentes".

Teste do kit Covid em 600 pacientes teria sido manipulado

Uma pesquisa feita com mais de 600 pacientes para testar a eficĂĄcia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, realizada entre março e abril do ano passado, teria sido o primeiro ato do acordo, segundo a denĂșncia. A acusação é de que a tabulação teria sido manipulada para que os resultados fossem favorĂĄveis ao uso do medicamento.

De acordo com o senador Humberto Costa (PT), o documento diz ter havido uma "polĂ­tica de coerção" por parte da Prevent Senior em termos de orientações aos profissionais médicos, "para adotarem aquelas orientações do chamado tratamento precoce".

O senador disse, ainda, que o documento relata que "aqueles que, em algum momento, se recusaram a implementar essas medidas foram demitidos".

Tratamentos experimentais sem consentimento dos pacientes

Uma das acusações mais graves da denĂșncia é de que a Prevent teria feito uma série de tratamentos experimentais em seus pacientes, muitas vezes sem consentimento deles. O texto diz que pacientes foram usados como "cobaias humanas".

"Uma das coisas que o hospital orientava era que os pacientes e os seus familiares não tivessem conhecimento de que essa experiĂȘncia estava sendo feita, que não tivessem conhecimento de que estavam sendo administrados esses medicamentos. A informação que se tem é que isso foi um acerto entre a direção do hospital e o governo federal, contra aquelas orientações que havia do Ministério da SaĂșde, no perĂ­odo do ministro [Luiz Henrique] Mandetta. E o chamado gabinete paralelo estaria por trĂĄs dessa. Ele era o elo entre o Prevent Senior e o governo federal", disse o senador.

Em sua defesa, os médicos alegam que eram coagidos pela empresa a prescrever as medicações do "tratamento precoce" de forma sistemĂĄtica. Entre os remédios não-convencionais recomendados sem eficĂĄcia confirmada contra a Covid-19 estão a ozonioterapia, a flutamida e a heparina inalatória.

JĂĄ existe um requerimento aprovado pela CPI para que o diretor-executivo da Prevent, Pedro Batista Jr., seja ouvido, e o senador Renan Calheiros, relator da comissão, afirmou que mais representantes da empresa serão convocados.

Além disso, outro requerimento solicita que o Ministério PĂșblico de São Paulo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), a AgĂȘncia Nacional de SaĂșde (ANS) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) compartilhem suas investigações com a CPI.

O senador Randolfe Rodrigues (MDB) disse que os crimes narrados na denĂșncia são de "lesa-humanidade".

Médicos da Prevent Senior foram obrigados a trabalhar com Covid-19

Outra grave denĂșncia que compõe o documento é de que médicos que trabalhavam na linha de frente da Covid-19 teriam que fazer plantões nos hospitais da Prevent Senior mesmo infectados com o novo coronavĂ­rus. A denĂșncia ainda relata que eles foram proibidos de usar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

DenĂșncia diz que médicos infectados com Covid-19 eram obrigados a trabalhar sem EPI nos hospitais da Prevent Senior. Imagem: Prevent Senior

A não utilização de mĂĄscaras, de acordo com o documento protocolado pelos denunciantes, tinha o objetivo de disseminar o vĂ­rus no ambiente hospitalar, para que, assim, pudesse ser feita uma pesquisa que constava da utilização de cloroquina, de azitromicina, de ivermectina com os pacientes.

Somado a isso, os médicos afirmam que passavam por uma rotina de pressão e assédio constantes para prescrever medicações que eles sabem que não funcionam e que podem agravar o quadro dos pacientes.

Segundo o documento, esse protocolo começou no dia 6 de abril de 2020.

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O Conselho Federal de Medicina (CFM) diz que os médicos tĂȘm autonomia para prescrever o remédio que julgarem adequado ao paciente, no entanto, a denĂșncia é de que não é isso que acontece na Prevent Senior. Um dos médicos teria sido demitido quando se recusou a dar essas medicações.

"Eu deixei de prescrever por um Ășnico dia acreditando nisso [autonomia] e acabei sendo chamado à diretoria com orientações bem claras de que eu deveria prescrever a medicação e o que ficava implĂ­cito era que, se não prescrevesse a medicação, vocĂȘ estaria fora do hospital. Voltei a prescrever a medicação por ter sido obrigado a prescrever. A autonomia, na verdade, é zero, vocĂȘ não tem escolha de deixar de prescrever. Se vocĂȘ não prescreve, vocĂȘ vai ser demitido", disse um deles.

Remédio para câncer de próstata era administrado em mulheres

Conforme reportagem da GloboNews, a representação ao MP foi acompanhada de capturas de tela de uma conversa em um grupo de médicos da Prevent via WhatsApp. Uma das imagens mostra um trecho em que um diretor da operadora escreve: "Bom plantão a todos e enfatizo a importância da prescrição da Flutamida 250 mg de 8 em 8 horas para todos os pacientes que internarem".

Até 2004, a flutamida era comercializada para o tratamento de acne. Naquele ano, a AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) emitiu um alerta para que o remédio não fosse utilizado para nenhuma finalidade que não fosse o tratamento de câncer de próstata, após quatro mulheres terem morrido de hepatite fulminante fazendo o uso da medicação.

Na própria bula da flutamida, o fabricante diz que o remédio não deve ser usado por mulheres e que a Ășnica indicação é para tratar câncer de próstata.

Fonte: Olhar Digital
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