PolĂ­tica CPI da Pandemia

Após silêncio, advogado da Precisa passa a ser investigado pela CPI

Por Agência Senado

18/08/2021 às 16:48:54 - Atualizado hĂĄ

O advogado TĂșlio Belchior da Silveira passou da condição de testemunha a de investigado, após silenciar na maior parte de seu depoimento à CPI da Pandemia, nesta quarta-feira (18). Silveira optou pelo direito ao silĂȘncio para não se incriminar, amparado por habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), alegando o sigilo profissional do advogado, mas sua postura indignou vĂĄrios senadores.

Silveira afirmou à CPI ter sido um simples advogado contratado pela Precisa Medicamentos para assessoria jurĂ­dica na negociação da vacina indiana Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, junto ao Ministério da SaĂșde — cancelada após suspeitas de corrupção. Porém, em trocas de mensagens obtidas pela CPI, Silveira atuou como funcionĂĄrio do Departamento JurĂ­dico da Precisa. Ele participou de audiĂȘncia pĂșblica para debater a vacinação no Senado, em março deste ano, na condição de "gerente de contratos" da Precisa. Além disso, ele abriu um escritório de advocacia trĂȘs dias antes da assinatura do contrato da vacina.

Logo no inĂ­cio do depoimento, o advogado negou-se a prestar o juramento de dizer a verdade. Foi advertido pelo Presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), de que não poderia repetir a atitude de outro depoente, o empresĂĄrio Carlos Wizard, que se manteve em silĂȘncio ao longo de todo o depoimento, no dia 30 de junho.

— Nenhum direito fundamental é absoluto, muito menos pode ser exercido para além de suas finalidades constitucionais — lembrou Omar Aziz.

Silveira chegou a responder as primeiras perguntas do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a natureza de sua relação com a Precisa. Quando os questionamentos começaram a se aprofundar em minĂșcias da negociação, no entanto, o advogado começou a se valer do habeas corpus. Renan Calheiros (MDB-AL) criticou com veemĂȘncia a decisão da testemunha de se calar:

— O silĂȘncio do depoente é um silĂȘncio incriminador, porque, tendo oportunidade, não respondeu a perguntas que não tinham nada a ver com a negociação da Covaxin, nem com a Precisa.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), uma das requerentes da convocação do advogado, fez uma detalhada exposição da possĂ­vel participação de Silveira em irregularidades na negociação da Covaxin, como imprecisões e contradições em detalhes do contrato e das invoices (faturas). Segundo ela, a Precisa não possuĂ­a procuração da Bharat que a legitimasse como negociadora de vacinas com o governo brasileiro.

— Eu achei que V.Sa. viria para esclarecer, com o seu currĂ­culo. Se todos aqueles interessados em levar vantagem indevida à custa da dor e da morte de centenas de milhares de pessoas tivessem ouvido o dr. TĂșlio professor de direito administrativo, não teriam assinado esse contrato, que na melhor das hipóteses é nulo de pleno direito — concluiu a senadora, referindo-se ao currĂ­culo acadĂȘmico do depoente.

A reunião foi suspensa por Omar Aziz durante uma hora. Na retomada, Renan Calheiros anunciou que o depoente passara à condição de investigado. Integrante da base do governo, Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou concordar com a mudança, mas ressalvou que o relator deveria tĂȘ-la submetido à deliberação da Comissão. O senador de Rondônia disse ainda que TĂșlio Silveira estava se valendo da condição de advogado para obstruir a investigação, o que constituiria crime.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, exibiu trecho da audiĂȘncia pĂșblica do Senado, em 23 de março, na qual TĂșlio Silveira participou como gerente de contratos da Precisa. Tanto Randolfe, quanto a senadora Leila Barros (sem partido-DF), questionaram o depoente sobre seu vĂ­nculo com um grupo ligado ao deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), lĂ­der do governo na Câmara, ex-ministro da SaĂșde (governo Temer) e acusado de influĂȘncia em negociações suspeitas para a compra de vacinas. Como no restante do depoimento, Silveira manteve o silĂȘncio. Ele não respondeu tampouco aos questionamentos de Humberto Costa (PT-PE), Zenaide Maia (Pros-RN) e Eduardo Girão (Podemos-CE), entre outros senadores.

Ricardo Barros investigado

O relator Renan Calheiros anunciou durante a reunião que o deputado Ricardo Barros passou à condição de investigado pela Comissão. Segundo Renan, "é necessĂĄrio apurar de maneira aprofundada suas relações e ligações polĂ­ticas e empresariais nas negociações e possĂ­veis associações com servidores civis e militares do Ministério da SaĂșde investigados pela Comissão, sem falar em ocasionais conexões com Roberto Dias [ex-diretor do Departamento de LogĂ­stica do Ministério da SaĂșde] e com os sócios das empresas de Francisco Maximiano, entre elas a Global e a Precisa Medicamentos".

Cessão de servidores do TCU

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) solicitou que a CPI recomende ao Tribunal de Contas da União (TCU) que pare de ceder auditores e servidores a outros órgãos, principalmente ao Executivo. Simone destacou que atualmente existem pelo menos oito auditores cedidos, o que poderia criar um conflito de interesse, e pediu que a Comissão recomende o seu retorno ao órgão de origem.

— O TCU, pela Constituição Federal, é o Ășnico órgão que tem o poder de fiscalizar e julgar. Diante desse poder tão grande, é preciso proteger esses servidores de qualquer tipo de assédio.

VĂ­timas da covid

Renan Calheiros anunciou ainda ter recebido, na Ășltima terça-feira (17), em seu gabinete, um grupo de defensores pĂșblicos da União e de Alagoas, para tratar da criação de uma "força-tarefa" em favor de famĂ­lias de vĂ­timas e sequelados da covid.

Heinze

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) defendeu-se de acusação publicada no jornal Folha de S.Paulo, de que teria feito lobby em favor de laboratórios farmacĂȘuticos durante a pandemia. Segundo Heinze, "trata-se de uma leitura irresponsĂĄvel da articulação que conduzi para que laboratórios veterinĂĄrios fossem aproveitados para a fabricação de imunizantes contra a covid-19". Heinze apoiou a aprovação do PL 1.343/2021, do senador Wellington Fagundes, autorizando a produção de vacinas anticovid pela indĂșstria veterinĂĄria, transformado na Lei 14.187, sancionada em 16 de julho.

— O relato de meia-dĂșzia de ligações minhas, identificadas com certos representantes, não faz da minha pessoa um lobista. Quem acha isso deverĂĄ provar e responder pelas acusações. Meu dever como senador me faz trabalhar dia e noite em busca de alternativas — disse Heinze.

MĂĄscaras

Ao final da reunião, Randolfe Rodrigues lamentou parecer da subprocuradora da RepĂșblica, Lindôra AraĂșjo, e declarações do ministro da SaĂșde, Marcelo Queiroga, ambos colocando em dĂșvida a eficĂĄcia das mĂĄscaras na redução da transmissão da covid-19.

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