Dignidade humana (02)

            Continuando o percurso, trazemos hoje mais algumas situações em que a dignidade humana é violada diariamente, começamos pela então pela pobreza, algo tão visível em nossa realidade brasileira, mas de difícil solução, isso porque as causas da pobreza são muitas, junto com a pobreza vem a enorme disparidade de distribuição dos bens mínimos necessários a uma existência digna, já é por demais sabido que uma minoria ínfima possui quase tudo e a uma maioria absoluta possui quase nada. Outro dado curioso e que pouco se fala é que também nos países ditos "ricos", a pobreza também se faz presente; a todo instante vemos nascer novas pobrezas, mas nada é pior do que a pobreza que rebaixa o ser humano a níveis alarmantes de existência, tais como a perda sistemática de postos de trabalhos, direito a saúde, falta de moradias, saneamento básico, educação e alimentação.

            Depois da bárbara pobreza, não podemos negar a realidade da guerra que destrói a dignidade humana, sejam guerras pequenas ou grandes, todas elas são um verdadeiro câncer a nível global, cada uma revelando um modo inequívoco de destruição da pessoa; com razão, o Papa Francisco faz muitas referências a uma Terceira Guerra Mundial feita em pedaços, tanto sustentada por órgãos, como por governantes assassinos. A guerra prolonga-se no tempo, na mente e no coração das pessoas, fenômeno não raro são as vinganças, ocorrem sempre mais cedo ou mais tarde. Infelizmente, a guerra gera um lucro trilionário para os fabricantes e exportadores de armas, crime imperdoável; a guerra nunca trouxe e nunca dará a paz, quem pensa na guerra como solução para os males, é louco ou belicista, aqueles que amam a guerra que vão então com todas as suas famílias para a luta.

            Pobreza, aliada juntamente com a guerra produz a migração em massa, um terceiro fenômeno muito visível nos dias atuais, temos visto aqui no Brasil a chegada todos os dias de pessoas de outros países, desesperadas em busca de uma vida melhor, muitas vezes são famílias inteiras que vem até nosso país em busca de uma situação melhor, noutras vezes vem apenas o pai ou a mãe e quando chegam aqui nem sempre são recebidas como imaginavam, muitos são tratados com desprezo e xingamentos, muitos são por nós tidos como ladrões, vagabundos, que vieram aqui apenas roubar os postos de trabalho, alguns mesmo chegam a taxá-los de não pessoas, seres de terceira ou quarta categoria. Esquecemos facilmente que a grande maioria de nós é descendente de migrantes, é muito comum e um paradoxo nos gabarmos que temos descendência, alemã, italiana, espanhola.

            A quarta violação da dignidade humana se refere ao tráfico internacional de pessoas, um dos comércios mais infames que conhecemos e também um dos mais lucrativos que se tem notícia, traficar pessoas não é nenhuma novidade se queremos ser coerentes com a história universal a disposição, se há tráfico humano é porque do outro lado há pessoas propensas a pagarem por tal comércio. A facilidade com que o tráfico de pessoas prospera é porque o nosso mundo vai muito mal das pernas, as instituições que deveriam proteger as pessoas, estão falidas ou em seu interior a corrupção se faz presente de modo assustador. Com o tráfico humano, vem muitas outras situações desesperadoras, tais como a venda de órgãos, a exploração sexual em todas as idades, trabalho escravo, tráfico de drogas, prostituição, terrorismo e tantas outras formas de desprezo pela vida das pessoas.

            Bioeticamente, o quarteto: tráfico de pessoas, os migrantes, a guerra e a pobreza, dão o que falar e muito mais o que pensar, são situações extremas que estão todas aí, diante de nossos olhos todos os dias, são tensões profundas num mundo envolto em misérias, a grande maioria criada pelos próprios seres humanos, estes produziram um estilo de vida que na maioria das vezes não é condizente com a sociedade, ou seja, a grande maioria não suporta a guerra, não querem matar seus semelhantes de fome, não querem fazer deles escravos ou muito menos se aproveitar deles. O mal do mundo moderno é achar que o que vale para um, vale para todos, uma mentira tão enraizada em nossas mentes mesquinhas, o mundo caminha numa direção perigosa faz tempo e alguns imbecis especializados seguem esse caminho à risca; querem matar, então que vão eles primeiros.