Um projetor, uma sala escura e uma plateia foram suficientes para contar "Estórias de Muitos Amores", peça de autoria de Domingos de Oliveira.
Um projetor, uma sala escura e uma plateia foram suficientes para contar "Estórias de Muitos Amores", peça de autoria de Domingos de Oliveira. A primeira exibição no Festival de Curitiba foi nesta terça-feira (02), no miniauditório Glauco Flores de Sá Brito, o Guairinha.
O enredo é sobre o Circo Portobello, de dono com o mesmo nome, e a chegada de Angela para integrar a equipe de artistas. Os cenários são compostos por bancos, escadas, panos, entre outros elementos curiosos. Os efeitos sonoros são bem produzidos e há audiodescrição ao longo das cenas. Além disso, os diálogos contam com intérpretes de libras, o que confere acessibilidade para públicos diversos no espetáculo.
O estudante Yuri Godoi, de 16 anos, ficou sabendo sobre o espetáculo por meio de publicações no Instagram e decidiu assistir. Ao final, suas expectativas foram superadas. "É muito legal a proposta desse circo que está meio desmontado: um trapezista que não tem um braço, um palhaço que é cego e não vê graça. A proposta muito interessante", relatou.
O ator Adriano Petermann estava presente no auditório para ver o trabalho. Ele conta que o texto foi dado de presente a ele por Domingos de Oliveira, por volta de 2011, oito anos antes da morte do artista, e que sempre sente muita saudade do colega e amigo ao rever o projeto. Petermann, que interpreta Portobello em "Estórias de Muitos Amores", diz que, para ele, Domingos é, de fato, odono de circo, que mantém o sonho e a memória do artista.
"Eu sinto falta de fazer todo dia esse personagem. No teatro, a gente toda noite refaz. Quando filma, ele é feito uma vez e está eternizado", destaca. O ator relata as dificuldades enfrentadas ao gravar a peça durante a pandemia, em 2021, e o quanto sentiu falta de aperfeiçoar o personagem a cada noite de interpretação.
O projeto da peça foi idealizado para ser realizado de forma presencial, mas acabou sendo interrompido pela pandemia da Covid-19. Em 2021, a Lei de Incentivo à Cultura possibilitou a concretização de forma digital. Os ensaios ocorriam remotamente e as máscaras eram tiradas apenas na hora da gravação.
A peça foi finalizada no ano seguinte e, em 2023, a Cia À Curitibana Portátil foi premiada com o Troféu Gralha Azul, em sua primeira edição pós-pandemia, na categoria "Espetáculo Online". Petermann também realça as diferenças com o teatro digital. "No palco, a gente tem a resposta ao vivo do público. Você faz uma piada, o público ri, você sente o público. É uma troca que vai acontecendo ali, naquele momento efêmero", contou.
A interação com a plateia se reflete especialmente na expressividade. "No teatro eu estou a 20 metros, 30 metros, às vezes, a 40 metros das pessoas. Quando eu interpreto, eu preciso falar grande". No vídeo, um pequeno gesto transmite a mensagem. "No gravado tem essa minúcia técnica que é muito difícil. É como se a plateia estivesse sempre a um palmo de distância", completou o artista.
A peça digital faz parte da Mostra Fringe do Festival de Curitiba e será exibida pelos próximos dias, até sexta-feira (05).
Serviço:
"Estória de Muitos Amores" – Exibição Digital
Datas: 03, 04 e 05 de abril
Horário: 14h
Local: Miniauditório Glauco Flores de Sá Brito
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60 minutos
Evento: Fringe
Gênero: Drama
Ingressos: Pague quanto vale
Reportagem: Helena Sayuri, estudante da Universidade Positivo (UP)