Geral Umuarama

A indústria e o comércio da madeira reinaram nos tempos do desmatamento de Umuarama

Durante todo o ciclo de duração do extrativismo da madeira, que se estendeu no período dos anos 1950 até meados dos 70s, a indústria e o comércio desse setor predominaram absolutos na economia de Umuarama e de outras cidadelas do imenso território regional.

Por Da Redação

29/03/2024 às 14:58:47 - Atualizado há

Durante todo o ciclo de duração do extrativismo da madeira, que se estendeu no período dos anos 1950 até meados dos 70s, a indústria e o comércio desse setor predominaram absolutos na economia de Umuarama e de outras cidadelas do imenso território regional.

No começo, quando a cafeicultura ainda não havia escalado o topo da pirâmide econômica, tudo girava em torno da madeira. Esse negócio irrigava outros segmentos, entre eles a mídia (termo que na época não existia, dizia-se apenas "imprensa") que estava resumida a pequenos veículos de comunicação: pasquins, alto-falantes e pouquíssimas emissoras de rádio no interior paranaense.

Nesse período remoto, as serrarias e comerciantes de madeira usaram primeiramente os panfletos, impressos nas raras e pequenas gráficas. Os folhetos eram distribuídos entre os proprietários de terras e corriam de mão em mão entre os "picaretas" (corretores de terra), que se encarregavam de repassá-los a quem interessar podia.

Nas folhas avulsas, a indústria da madeira prometia preços convidativos pelas toras, principalmente de araucárias, perobas e outras madeiras de lei. Comprometiam-se a retirar as árvores derrubadas dos terrenos; algumas, inclusive, colocavam à disposição os machadeiros para cortá-las…

É óbvio que aqueles que haviam comprado os lotes rurais da colonizadora queriam se ver livres das matas o quanto antes possível para poder lavrar a terra, plantar, colher e vender os produtos. Como a maioria sonhava em ficar rico com o café (o "Ouro Verde"), grande parte da cobertura florestal era aberta com essa finalidade.

Os milhares de alqueires cobertos de florestas no território da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, fizeram a alegria dos donos das serrarias, que trabalhavam noite e dia beneficiando a madeira, que depois seria repassada aos comerciantes que a vendiam para a construção de casas, milhares de moradias numa cidade que estava surgindo, ou era vendida para exportadores de São Paulo ou paranaenses, que as revendiam para o exterior, via portos de Santos ou Paranaguá.

Esse era um verdadeiro negócio da China, como de fato foi. Assim como o foi para a indústria da propaganda e imprensa, que levaram uma gorda fatia publicando anúncios (os reclames, como então eram chamados). Mas a publicidade não girava apenas em torno das serrarias e comerciantes, mas de outros comércios que gravitavam paralelamente e também lucraram durante o ciclo da madeira em Umuarama e no Noroeste paranaense.

Existia o comércio das ferragens. Eram aqueles armazéns onde se comprava ferramentas de trabalho para o desmate (machados, traçadores, serras circulares ou de fita, etc), para a limpeza dos terrenos (foices e facões) e, depois, para as tarefas de lavradio (enxadas, enxadões, semeadores de mão e por aí afora porque o catálogo de artigos era longo). Também gerava lucros para as empresas de fretes de caminhões.

Vale ainda registrar que os comerciantes do setor madeireiro e similares, além da panfletagem na zona rural, começaram a fazer propaganda no primeiro veículo falado e no jornal pioneiro da cidade; como no início da década de 60 surgiu o alto-falante "A Voz de Umuarama", instalado no pequeno núcleo central (hoje Praça Arthur Thomas), os anúncios eram veiculados pelas quatro cornetas instaladas numa torre alta de madeira.

A intenção, além de chegar aos ouvidos dos colonizadores rurais que vinham fazer compras no antigo comércio, era ainda atrair a atenção de investidores que vinham de fora comprar terras aqui. E, geralmente, eles se aglomeravam nos botecos localizados nas redondezas; outros clientes em potencial eram aqueles que chegavam nas velhas "jardineiras" (ônibus) e desembarcavam na única parada de ônibus da vila que ali existia (a esses também os propagandistas de rua entregavam panfletos); e ainda os compradores que faziam ponto na entrada do escritório da colonizadora, situado no alto do "Sobradinho" (o primeiro predinho de madeira de Umuarama, com apenas um andar térreo e outro superior).

Com publicidade sonora no alto-falante e impressa nos folhetos, as serrarias e casas comerciais ficavam facilmente conhecidas. Depois, em 1961, surgiu "A Gazeta", um jornal semanal de apenas quatro páginas. Era mais um canal de comunicação para a indústria/comércio extrativista.

Em 1963, foi ao ar pela primeira vez a Rádio Cultura. Foi um auê na época, pois só havia emissoras em "cidades grandes", como Londrina e daí pra frente… É claro, que grande parte da carteira de anunciantes era formada por serrarias, depósitos de madeiras e indústrias de móveis.

A Cultura passou a atrair praticamente todos os que atuavam no setor, uma vez que o alcance de suas ondas radiofônicas atingia os moradores da zona rural, onde justamente estava a riqueza, ou seja, a madeira.

Nesse vale-tudo da propaganda não escapavam nem aquelas vendas (mercearias) à beira das estradas, com propagandas (seja panfletos nos balcões, ao lado do caixa, onde os clientes pagavam pelas compras; ou em placas de madeira escritas à mão mesmo) mostrando tabelas de preços pagos pelas toras e pelos tipos de madeira.

Era comum, ainda, ver troncos de árvores, à beira daqueles caminhos, com letras brancas garrafais escritas com cal indicando nomes de serrarias. Inclusive havia oferta de trocar madeiras beneficiadas (tábuas, caibros, pisos, vigas, etc) por madeira bruta (os troncos). Fazia-se qualquer negócio… Como se observa, mesmo rústica, a publicidade da época podia ser tosca mas era competente e atingia seus objetivos: vender ou comprar madeira.

Para se ter uma ideia, Umuarama chegou a ter mais de trinta serrarias! Além das outras instaladas em Cruzeiro do Oeste, Perobal, Xambrê e demais cidades-satélites que foram surgindo conforme o território ia sendo aberto… Ao todo, somavam mais de 100. O furor no filão madeireiro era tão intenso que hoje não existe nada similar ou parecido em termos de riqueza circulante na economia.

Tanto é que foram surgindo mais e mais agências bancárias para movimentar o dinheiro que frutificava aos borbotões das vendas faraônicas de terras e madeiras. Quem viveu aquela fase da abertura e colonização de Umuarama poderá confirmar o furacão de compras e vendas que assolava a nova fronteira agrícola que emergia…

Quando cumpriram a meta, que era desmatar completamente o território para ser ocupado inteiramente pela cafeicultura, as serrarias foram encerrando suas atividades depois de vários anos trabalhando 24hs por dia… Sumiram todas. Os donos 'voaram' velozes para outros Estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia…

Fonte: O Bemdito
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