Litoral Educação

Nunca é tarde: estivador aposentado realiza sonho e começa a cursar Engenharia Ambiental na UFPR em Pontal

Marcos sempre dormiu pouco e viveu muito; com duas profissões ao mesmo tempo por duas décadas, ele aposentou da estiva e passou no vestibular da UFPR.

Por Da Redação

08/03/2024 às 22:54:45 - Atualizado há

Marcos César Alexandre Pires, 58 anos, sempre foi "ligado no 220". Trabalhava como estivador até de madrugada e, pela manhã, seguia para a Prefeitura de Paranaguá, onde é servidor há 22 anos, atuando como fiscal de Urbanismo. A aposentadoria da Estiva veio há dois anos, mas Marcos nem cogitou diminuir o ritmo, já que continua atuando quando consegue. Ele também já fez faculdade de Teologia a distância (on-line) e estudou para ser corretor de imóveis. No entanto, mesmo em meio a tantas atividades e ocupações, ainda faltava realizar um sonho: ser engenheiro.

E foi assim, entre um afazer e outro, muitas vezes estudando pelo celular, que ele foi aprovado no vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, no campus de Pontal do Paraná.

"Eu sempre tive o sonho de fazer uma faculdade de Engenharia Civil, mas daí acabei optando por fazer Engenharia Ambiental e Sanitária, porque eu trabalho com meus amigos lá na Prefeitura, que são engenheiros. Fiquei com receio de não conseguir, mas falei para mim mesmo; 'vou tentar uma última vez', e deu certo!", disse em conversa com o JB Litoral.


Nome na lista


Com determinação, Marcos fez as provas no final do ano passado e foi grande a expectativa para o resultado. "Mesmo querendo muito, fiquei surpreso quando vi o meu nome lá, eu e minha filha, Maisy, choramos de emoção. Daí, na segunda fase, a minha esposa me ajudou bastante, ela é professora, me deu umas dicas de redação e, dessa forma, consegui passar, graças a Deus", contou.

Na semana passada, Marcos passou pela semana de adaptação na UFPR e, nesta segunda-feira (4) as aulas começam, de fato. "Fiquei sem saber como seria a convivência com a turma tão jovem, mas esses primeiros dias já mostraram que dará tudo certo", disse aliviado.

Prestes a completar 59 anos, Marcos nem pensa em ser "só aposentado" e já faz planos para quando se formar em Engenharia. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

"Enferrujado"


Marcos também revela que sente receio de "não dar conta", mas que segue em frente mesmo assim. "É preocupante, porque voltar a estudar, a vir para a sala de aula, é uma novidade, né? Mas eu não tenho medo, na dúvida, pergunto para os meus amigos, pois tive vários apoios lá em Paranaguá. Também fui muito bem recebido pelos meus colegas de classe, eles são de vários lugares, todos jovens e muito bem-educados", detalhou.

O estivador aposentado e servidor público diz que nem vislumbra parar de trabalhar. Depois que se aposentar da Prefeitura, ele quer atuar como engenheiro e corretor de imóveis.

"Vejo que é um incentivo para os jovens de hoje, muitos nem chegam a terminar o ensino médio e não querem mais nada. Então, espero que meu caso seja um incentivo para eles e para os mais velhos, como eu, porque aprender nunca é demais", pontuou.


Troca de experiências


Sobre ser o "tiozão" da turma, cuja maioria tem entre 17 e 20 anos, Marcos, que vai completar 59 anos daqui a dois meses e já é avô, nem liga. "Eu gosto bastante dessa troca de experiência, não me incomodo em conviver com os mais jovens. Posso não ter o vigor físico que eles têm, mas tenho experiência, então a gente sempre tem uma troca muito boa, também aprendo muito com eles", afirmou.

"Enquanto eu enxergar, tiver saúde, disposição, vou fazendo tudo que estiver ao meu alcance e tiver vontade. É isso que sempre digo; se você quer fazer e tem saúde, não importa o que os outros pensam, faça por você. Eu venho com prazer e, muitas vezes, de bicicleta, de Paranaguá até aqui", finalizou Marcos, com um sorriso no rosto.


A minoria, mas com qualidade


Para Sílvia Pedroso Melegari, professora dos cursos de Engenharia Ambiental, Engenharia Civil e vice-coordenadora do programa de pós-graduação, no Campus da UPFR de Pontal, embora os alunos com mais idade sejam minoria, a presença deles enriquece o ambiente acadêmico.

"Se formos comparar quando eu estava na faculdade como aluna e, hoje, como professora, a gente não via muitos ingressos de alunos com mais idade, mas isso tem sido muito positivo, temos visto cada vez mais alunos mais velhos buscando uma segunda graduação ou uma graduação num período da vida em que eles não têm mais tantas preocupações", disse Sílvia.

"Eles trazem muita bagagem de experiência de vida, de ideias. Uma coisa que me surpreendeu bastante é o quanto a geração nova é receptiva e acolhe esses alunos mais velhos", completou a professora.

Marcos sempre dormiu pouco e viveu muito; com duas profissões ao mesmo tempo por duas décadas, ele aposentou da estiva e passou no vestibular da UFPR. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral
Marcos sempre dormiu pouco e viveu muito; com duas profissões ao mesmo tempo por duas décadas, ele aposentou da estiva e passou no vestibular da UFPR. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Dedicados


Ainda segundo a docente, os alunos mais maduros já iniciam o curso com uma determinação diferente. "Seja porque eles tiveram tantas dificuldades antes, de não terem conseguido fazer uma graduação, ou, então, por estarem fazendo uma segunda graduação, ou para melhorar o nível de carreira que já têm. Eles têm essa consciência de que é uma oportunidade única estarem em uma universidade pública e de qualidade", concluiu Sílvia Melegari.

No curso do Marcos, são abertas 40 vagas anuais. Destas, em média, apenas dois a três alunos têm acima dos 35 anos.

Por Flávia Barros e Luiza Rampelotti

Fonte: JB Litoral
Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo